Dizem por aí que toda boa história começa....
...Em uma taberna, num vilarejo chamado Min, numa noite calma, alguns poucos cidadãos se reúnem, bebem, jogam e passam suas horas assim como de costume. No balcão apenas um homem com cabelos já brancos está meio debruçado, enquanto bebe um pouco de licor, até que sua calmaria é rompida.
- Finalmente te achei - diz um homem ainda jovem, aparentando 20 e poucos anos, com a voz um pouco fatigada, como se houvesse corrido até ali.
- E porque estava me procurando?
- Vingança.. - responde o jovem ainda esbaforido, sem pensar no que disse.
- Garanto que todos que matei, mereceram morrer, ou então se opuseram a mim, filho. - Diz o homem, enquanto se afasta um pouco, e coloca a mão sobre a bainha da espada.
- Capitão Jone, calma, não quero me vingar do senhor.
- Capitão… capitão.. hummm.. faz um bom tempo que ninguém me chama assim.. Não desde que me aposentei.
- Acho que o senhor não se lembra de mim, eu fui seu subordinado.
- Perdoe filho, não me lembro de você, comandei milhares de soldados.
- Sem problemas capitão..
- Ainda me chama de capitão? Ainda está no exército?
- Não senhor, não estou mais. - fala o jovem finalmente se recompondo de seu cansaço
- Está bem fora de forma meu jovem, já entendi porque deixaste o exército..
- Na verdade estou mesmo capitão, mas não foi por isso que deixei.
- Não és um desertor, és?
- Não senhor!
- Bom, mas porque você está aqui?
- Preciso de sua ajuda capitão. Para uma vingança. Na verdade, a vingança é a segunda parte do plano.
- E qual seria a primeira parte, filho?
- Um resgate.
- Um resgate de quem?
- De meu irmão.
- E porque ele?.... Ora, me conte logo a história, pare de ficar enrolando. Uma frase por vez? Quando vamos terminar essa conversa? - responde o capitão Jone já um pouco irritado, enquanto termina de tomar aquele copo de licor.
- Tá certo! Ei barman! Um shot para mim e meu amigo! Bom.. eu vou me sentar, parece que vou precisar de um pouco de tempo. Tempo… faz tempo que não tenho tempo para fazer o que eu quero. Só para ficar preso numa cela imunda, e agora estou eu aqui tomando esse licor estranho, numa cidade estranha.. Que vida ein, talvez o senhor esteja…
- Pare de enrolar, já sei porque saiu do exército. Ninguém deveria aguentar você enrolando as histórias. Vai contar ou não?
- É o seguinte.. Meu irmão era a única coisa que eu tinha. Fomos abandonados desde cedo, ele sendo mais velho que eu, e ainda diz lembrar do nosso pai. Quando nosso pai morreu, nossa mãe não poderia sustentar a todos. Então ela… (soluço)... nos vendeu, para que pudesse sustentar nossos irmãos mais velhos. Eu ainda era um bebê, fui criado por…
- Eu não quero saber de quando você nasceu, poxa. Olha vou embora, acho que você é apenas um tolo falando tolices. Minha vida vale mais que isso.
- Tudo bem, vou direto ao ponto. Meu irmão foi levado. Capturado pelo exército de Enay. É por isso que não estou mais no exército. Não existe mais exército. Ele foi totalmente dizimado. Os que sobraram estão presos, meu irmão é um deles, eu também era.
- Agora sim parou de enrolar - diz Jone voltando a se sentar, pois já começara a se levantar impaciente
- Fiquei preso por uns 3 a 4 meses.. Perdi a conta. Até que um dia estavam nos levando transportados numa carroça de ferro. No meio do caminho fomos emboscados por vários lobos negros gigantes. Quando estavam de quatro patas no chão, eram maiores que nós. Eles mataram os guardas e abriram a carroça a dentadas. Os presos que tentaram fugir ou lutar morreram. Eu fiquei parado dentro da carroça, imaginando ganhar alguns últimos segundos de vida. Me escondi atrás do que achei. Os 5 lobos também devoraram impiedosamente todos que fugiram. Fiquei ali parado, embaixo dos destroços, com os olhos fechados, esperando o momento final. Mas quando abro os olhos, os lobos estão indo embora, e vejo o maior de todos, possivelmente o líder, me olhando. Talvez me achando muito medroso e indigno para ser devorado. Muitas culturas de canibais não comem aqueles humanos que se mostram fracos e medrosos. Eles acreditam que podem fazer mal.
- Traga-me uma cerveja, parece que agora temos uma história..
- Não sei se lembra de mim, mas a única coisa que sei fazer é atirar um pouco de arco. Então encontrei algumas moedas, um arco, uma espada, coloquei na cintura e continuei andando, voltando para nossa capital. Alguns dias me alimentando do que eu mesmo estava caçando, finalmente chego à Durendill.
- Que saudade de Durendill!! Como ela está?
- Ela estava muito forte, uma das poucas cidades que ainda resistem à essa guerra interminável. Decidi passar 1 semana me recuperando numa pousada antes de me reapresentar. Estava muito fraco, e durante esses dias descansei. Fui visitar os túmulos de meus colegas mortos em batalha e sabe o que encontrei? Minha própria cova. Gevolno Amerí. O dia da morte era o dia da batalha. Fiquei tentado a descobrir quem estava enterrado ali, ou se estava vazia. Não achei a de meu irmão. - fala com um suspiro se acalmando.
- Que nome sem graça. Deve ser por isso que não lembro dele. E o que fez em seguida?
- Bom, eu pensei que se estou morto, estou livre do exército. Se eu voltasse para ele, me colocariam na frente da batalha mais uma vez, arriscando minha vida. Mas dessa vez eu não estava com medo, eu tinha uma missão. Salvar meu irmão. Então transformei meu nome Gevolno em Geno. E como sobrenome adotei Wolfborn.
- Nascido do lobo em linguagem local correto? Bom, seu nome agora melhorou.. Wolfborn é um sobrenome mais marcante. Aquele episódio com os lobos meio que fez você nascer de novo.
- Eu gostava de meu nome, mas esse está melhor. Bom, mas basicamente é por isso que preciso de você.
- Hahahahaha, sua história foi bem legal filho, mas eu já estou no auge dos meus 48 anos, me deixe descansar, aproveitar o resto do tempo que ainda tenho. Não espero passar dos 60… Procure pessoas mais jovens e com mais entusiasmo. Além disso, não está vendo que me falta a mão direita? Olhe o que botaram no lugar! Hahahaha
- Não quero que lute comigo.
- E o que quer? Que eu cozinhe para você? hahahaha
Nesse momento o taverneiro também dá uma risada:
- Muito bom! Muito bom! Por isso que gosto de você! Sempre criativo!
- O que você quer escutando a história? Ora, saia daqui, vamos.. - responde o capitão
- Na verdade eu quero que me treine! - fala Geno - Eu quero que me treine! Sei lutar apenas com arco, e apenas um pouco. Preciso praticar mais, preciso aprender a lutar com armas corpo a corpo. Você era conhecido por treinar os melhores soldados, mas eu era da divisão de arqueiros. Meu mestre não nos ensinou nada. Tínhamos um arco e várias flechas. Só fazíamos atirar o dia todo. Mas agora não tenho mais medo do combate. Me ensine.
- Ora filho, e o que você pode dar em troca desse treinamento. Professor de espada não é.. digamos.. barato.
- Eu te darei tudo que tenho no meu bolso, ou seja, 1 moeda de ouro..
- Hahahahaha, só isso?
- E também aceitarei o treinamento como pagamento.
- Pelo que?
- Por salvar a sua vida.
- Quando?
- Quando você estava lá fora das muralhas, quase totalmente no escuro com uma moça, e veio um espião te matar.
- Agora está querendo me chantagear moleque? Passei a vida toda sendo fiel, um erro, um erro, e quase morri. Mas minha esposa soube, e quando voltei para casa, ela já havia me abandonado. Sou apenas um pobre rejeitado, que gasta a aposentadoria em bebida, até o último dia de vida. Como você soube disso?
- Eu estava na muralha, atirei a flecha, matei o espião, e salvei sua vida.
Jone parece desolado ao escutar isso. Ele fica pensativo alguns minutos. Pede mais uma cerveja, toma e como quem volta à tona depois de um transe, lá está ele de novo.
- Então agora tudo faz sentido. Finalmente vou poder pagar essa dívida. Quando olhei, só vi aquele cara caindo em cima de mim, com uma flecha na garganta. Fiquei todo ensanguentado. A moça também. Nunca vi quem havia me salvado. Tome. Fique com este saco de moedas. 20 moedas de ouro devem ser suficientes pela vida de um velho aposentado, sem uma mão, sem esposa, com filhos que me desprezam.
- Não quero seu dinheiro!
- Com este dinheiro poderia contratar um bom espadachim jovem, não só para ensiná-lo, mas para ir nessa missão contigo.
- Não quero o dinheiro, nem outro instrutor. Eu quero ser treinado pelo melhor!
- Então deveria ter me pedido isso alguns anos atrás filho.. Hahahaha! Tome, pegue essas moedas e me deixe com a consciência mais tranquila, por pagar uma dívida.
- Não quero! Então terei sua consciência comigo, até que me treine. Só então eu considerarei a dívida paga.
- Ei seu moleque…. Ahhhh, que moleque idio….. impres….. irritante!!! Agora que encontrei aquele que me salvou, minha consciência me atormenta a pagar essa dívida! Mas eu já tentei pagar… Ele não aceitou.. Poxa, não vou conseguir dormir hoje à noite! Só queria sossego.. Prometi à mim mesmo que iria terminar meus dias embaixo de uma taberna, bebendo, enquanto tentaria consertar os erros do passado.
- Mas se não for ajudá-lo, talvez esteja cometendo mais um erro, do qual terá que consertar no futuro. - diz o barman novamente se intrometendo.
- Poxa, você é muito intrometido viu.
Jone reclama do barman, enquanto deixa algumas moedas pelas bebidas e sai resmungando consigo mesmo:
- O pior é que esse intrometido pode estar certo...
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