Eu queria me sentir sexy, empoderada, linda... Queria parar de me esconder em roupas tons de cinza e que escondiam meu corpo. Queria me permitir ser notada e por que não até desejada?!
Então fiz o que a "Cassie com sede de aventura" faria, finalmente pintei meu cabelo de rosa (algo que eu queria fazer desde os 17 anos, só precisei de 9 anos pra tomar coragem, quem diria?!) e comprei roupas coloridas, lindos vestidos de vários estilos e que se ajustavam lindamente no meu corpo.
E assim por diante...
Em menos de três semanas eu havia virado toda a minha vida do avesso e com grande sucesso. Tinha orgulho em dizer que havia tomado toda e cada pequena decisão com esse exato propósito: me revirar do avesso.
Agora, quinze dias depois de aceitar o emprego dos meus sonhos, eu estava deixando toda a minha antiga vida para trás e pulando em uma novinha em folha.
Eu sempre tinha imaginado que algo assim seria infinitamente mais demorado, complicado e difícil. Mas não... me impressionava o quanto havia sido simples. Na verdade me senti livre, leve, animada, vendo o mundo de um jeito muito mais colorido e excitante.
Um novo mundo em HD!
Eu mal podia esperar para ver, com minha nova visão em high definition, o lugar onde iria trabalhar e morar. Essa ia ser uma nova experiência para mim... Nada mais de horas perdidas no trânsito antes de chegar no trabalho, de me espremer entre as pessoas no metrô. Eu ia deslizar da cama, respirar o ar puro oferecido pela floresta de mata atlântica que cercava o hotel enquanto percorria o caminho curto que separava meu quarto do restaurante do hotel, tomar um café da manhã delicioso sem ter que levantar um dedo na preparação e passar meus dias fazendo o que eu amava: cuidando das pessoas, ajudando todos a se sentirem melhor e a se curarem. E ainda podia dar uma caminhada na praia no final do dia para relaxar, assistindo o pôr do sol... Deus do céu! O que mais eu podia pedir da vida?
Hummmm... quem sabe o deus grego maravilhoso do meu sonho dessa noite...
Mas talvez isso fosse querer demais.... não estava a fim de abusar da sorte.
As fotos do site mostravam um lugar onde os quartos, as instalações (mesmo as áreas de moradia dos funcionários), a praia particular (sim, particular!), a decoração, tudo e cada detalhe aparentava ter sido planejado até atingir um ponto muito bem equilibrado entre elegância, conforto e aconchego.
Bem, resumidamente... digamos apenas que não havia dúvidas de que aquele era um estabelecimento cinco estrelas. Eu mal podia esperar!
Sorri feliz com uma pontada de orgulho por mim mesma enquanto o ônibus atravessava a ponte que ligava o continente à ilha de Florianópolis.
Eu realmente estava fazendo isso!
Eu podia sentir a adrenalina, a empolgação e a leve onda de ansiedade tomando conta de mim. Em menos de dois minutos eu estava totalmente acordada.
Pesquei meu celular de dentro da mochila e percebi que o ônibus chegaria na rodoviária quase 40 minutos antes do previsto. Ótimo.
Não fazia idéia do estado em que estava depois de mal dormir à noite toda. Ia ser perfeito ter um tempo para ir ao banheiro, escovar meus dentes, arrumar o cabelo, quem sabe até me maquiar um pouquinho... E (por favor Deus!) eu tinha que ter tempo para o café e os donuts, só assim a vida dos inocentes que cruzassem meu caminho poderia ser poupada... meu mal humor matinal len-dá-rio, aliado à ansiedade que eu estava sentindo seriam capazes de deixar rastros de destruição por toda a ilha se eu não ficasse atenta.
Estar, ao menos, em um estado funcional era uma necessidade imprescindível para me encontrar pela primeira vez com a funcionária que tinha cuidado de todo o meu processo de contratação.
Seu nome era Rafaella. Ela tinha o biotipo da maioria das pessoas nascidas no sul do país, cabelos loiros, pele bem clara, olhos verdes... Muito bonita e parecia ser mais ou menos da minha idade... Talvez um ou dois anos a mais ou a menos.
Nós tivemos pouco contato, alguns e-mails trocados, uma quantidade ainda menor de ligações e uma única conversa por Skype no dia da minha entrevista.
Mas ela havia sido tão gentil e doce comigo todas as vezes, me ajudando com qualquer detalhe de que precisei, providenciando as informações para que eu pudesse acertar minha pequena mudança e até se oferecendo para me buscar quando eu chegasse na cidade, que eu já sentia que a conhecia muito mais.
Se minhas primeiras impressões estivessem certas, poderíamos ser ótimas amigas.
E sim, lá estava mais uma indicação disso.
Ela já havia me mandado uma mensagem no WhatsApp confirmando que passaria para me pegar as 7:00, como combinado. Me desejando bom dia, e dizendo que estava feliz por finalmente poder me conhecer.
Antes de pegar minhas coisas e me preparar para descer do ônibus, tive apenas o tempo exato para escrever uma mensagem rápida:
"Obrigada. Bom dia pra vc tb! :D Tb estou feliz com isso. Já estou chegando na rodoviária. Onde posso esperar por vc?"
No momento em que estava com minha mala recém saída do bagageiro do ônibus, minha mochila nas costas e fazendo uma revisão mental pra ter certeza de que não estava deixando nada para trás antes de entrar na rodoviária, recebi a resposta.
Dessa vez um áudio.
" Cassie! Bem vinda à ilha da magia menina! Acho que vou demorar alguns minutos além do que combinamos. Estou recebendo o grupo que vai ficar conosco na baixa temporada, eles acabaram de chegar aqui no aeroporto. Um deles passou mal durante a viagem, então ainda estamos lidando com isso, mas pegamos vc logo em seguida ok? Pode me esperar em um dos cafés dentro da rodoviária. Ela é bem menor que a de São Paulo, então não precisa se preocupar, vai ser super fácil achar você. "
Mal tinha acabado de escutar a mensagem, quando vi que havia um segundo áudio.
" Ah, quase esqueci. A não ser que esteja com muita fome, tenta esperar pra tomarmos café da manhã juntas quando chegarmos ao Health Center, a comida de lá é maravilhosa. Você vai amar! E depois já posso te dar o tour inaugural pelo lugar todo. Até logo."
Pelo tom da sua voz era fácil imaginá-la sorrindo enquanto gravava as mensagens, então sorri também. Eu já gostava dela e isso fazia com que eu me sentisse muito bem.
Era quase como se eu estivesse indo passar um tempo com uma amiga de longa data, que eu não via há tempos ao invés de estar indo trabalhar e morar em uma empresa.
Era uma sensação realmente muito boa, então foi com ela que decidi oficialmente entrar pela primeira vez, e com o pé direito, na rodoviária da minha nova cidade.
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