Sendo mais exata: o que tinha saído do lugar era a gente e não a casa ou qualquer outra coisa. Olhei em volta piscando várias vezes para ter certeza que não estava tendo nenhum tipo de alucinação.
Estávamos em um enorme espaço aberto, o chão era de um mármore bem branco que podia me ver nele como se fosse um espelho. O lugar em que estávamos era todo cercado por algumas colunas também feitas de mármore, elas formavam um circulo quase completo que tinha apenas uma parte aberta para se passar em um caminho que, também, era de mármore. Apesar de ser um lugar bem grande existia um muro alto de talvez uns quinze metros, também branco, cercando todo o local. No canto esquerdo do caminho de colunas tinha um pequeno lago com uma fonte em forma de mulher, essa mulher era coberta apenas por um véu onde o musgo e flores cresciam da cabeça até os pés, seu rosto era tão lindo e delicado, e em sua mão tinha um jarro de onde saia a água da fonte. Do outro lado era cheio de arbustos floridos, com um banco de madeira na cor branca. Quando olhei para o chão novamente pude perceber que por entre a grama tinha vários caminhos por onde percorria água, esses caminhos passavam pelos dois lados do corredor de mármore, assim como dava uma volta no banco de madeira e até mesmo da fonte, todos os caminhos se encontravam no muro alto e seguiam o contornando.
―Onde nós estamos? ―Logo me afastei do garoto, já que ainda o segurava, continuando minha observação do local novo.
―Bem vinda ao Centro E3 de Sacra. Demos sorte por Sasha ter me dado o pó de transporte dela. Ou levaríamos uma semana inteira pra chegar aqui a pé. Normalmente quando uso o pó vou direto para a sala de comando, mas alguma razão nós caímos aqui no jardim... ―Ian continuou murmurando coisas que não consegui entender.
―Isso é um jardim? ―O arquiteto responsável, por favor, providenciar um para mim também.
―Ele é mais simples se for comparar com a vila real, até mesmo do jardim do antigo palácio era de dar inveja a qualquer um. O atual palácio do império não tem jardim, são pessoas chatas no comando. De toda forma, vou te levar para trocar de roupa essa sua está toda suja e um pouco queimada. ―Olhei para meu pijama e realmente, ele estava sujo de lama e algumas partes estavam chamuscadas.
Ian saiu andando e como eu não conhecia nada dali, e não queria me perder, segui seus passos rápidos por todo o longo caminho de colunas de mármore. Enquanto andava eu continuei admirando o belo jardim, de certa forma ele era bem simples, mas bastante encantador.
Quando conheci Ian ele tinha me contado um pouco sobre a guerra, mas existia ainda muita coisa para me explicar e pelas expressões que ele fazia tenho certeza de que não vai me contar tudo tão facilmente. "Isso se for realmente me contar algo", pensei suspirando. Quando fiz isto me lembrei das criaturas que ele me contou da última vez e logo fechei a boca, não estávamos mais em casa onde elas eram fracas.
Fixei meus olhos no garoto alto em minha frente, ele disse que responderia minhas perguntas, será que já poderia fazer alguma?
―Ian, o que é esse pó de transporte? ―Minha voz estava bem baixa, que se ao menos ele ignorasse usaria isso como desculpa.
―Enquanto estava no mundo humano vi algumas histórias infantis com fadas, nessas histórias existia um pó magico que fazia qualquer coisa voar, certo? É quase a mesma coisa, a única diferença é que o nosso pó é feito com um encantamento da Imperatriz das fadas e com ele somos capazes de viajar de um lugar para o outro. ―Cruzei os braços enquanto o ouvia falar, mesmo sendo bem confuso.
―Para qualquer lugar?
―Infelizmente, não. Só podemos ir para lugares na qual a Imperatriz marcou. Quando ela criou este pó ela determinou os lugares na qual iria se locomover. Então só podemos viajar de um centro para o outro, tem poucos lugares por fora dos centros que servem de ponto de transporte. Aquela casa pequena que entramos era um, pelo o que sei antigamente era parte da floresta e era um lugar onde a Imperatriz gostava de visitar. Agora se quiser ir para algum outro lugar é necessário usar o cristal que tem uma variedade maior, ou ir para algum lugar perto e seguir a pé.
―Isso é bem... Confuso.
―De inicio é sim, mas com o tempo você vai se acostumar com essas coisas. ―E mais uma vez o garoto me surpreendeu, mesmo estando em minha frente pude notar um pequeno sorriso em seus lábios, mas que logo sumiu. ― Ah, o pó é algo único das fadas, são poucos aqueles com permissão de usar.
―E você tem essa permissão?
―Se eu não tivesse não teria conseguido um, apesar de eu não usar, abri essa exceção hoje por sua causa.
―Não é como se eu tivesse pedido, ainda mais com aquele cheiro insuportável.
―Ah é? Iria aguentar andar sem descanso durante uma semana? ―Ian virou o rosto para trás rindo de forma debochada, preferi não cair na provocação e apenas olhei para outra direção o ignorando completamente. Ian deu de ombros e voltou a andar novamente.
A conversa fez parecer que o caminho era menor, então nem mesmo notei quando chegamos a um grande arco – que assim como todo o resto, era feito de mármore – quase do mesmo tamanho que a parede alta que dava acesso a um corredor. O corredor não era extenso, as paredes de dentro eram simples, em uma cor bege. Logo no fim do corredor tinha um portão de ferro, e assim como antes, era bem simples. O ferro utilizado no portão era arredondado em cima para acompanhar o arco de mármore. E dando um destaque nas cores o portão era pintado um verde bem claro.
Mantendo o silencio seguimos até o portão que se abriu sozinho, ou assim parecia ser, mas logo que passamos por ele vi duas esferas de luz, uma de cada lado. Imaginei que deveria ser as fadas, as mesmas de antes.
Depois que passamos pelo portão entramos em um grande salão bem movimentado. As paredes eram beges também, e tinha três andares. Cada andar tinha alguns arcos de mármore que dava a outros corredores ou salas, os andares continham uma grade que dava vista para o salão e algumas pessoas estavam apoiadas nessas grades. Para poder subir existia uma escada no canto do ambiente, a mesma coisa se repetia nos andares de cima. E assim como o chão, era de mármore.
Imagino que eles devem adorar mármore já que praticamente tudo ali era feito dessa forma.
No centro da sala existia um grande tapete cinza onde algumas crianças estavam sentadas brincando ou conversando.
Podia ser coisa da minha imaginação, mas assim que entramos e demos alguns passos essas pessoas nos olharam, elas pareciam cochichar algo entre eles. Talvez estavam falando da minha roupa suja, mas preferi ignorar todos os olhares, por algum motivo eu não me sentia tão incomodada com o que eles pensavam.
Até que um rapaz de pele negra veio correndo e sorrindo, enquanto acenava para Ian. Ele vestia algo que julguei ser um uniforme, já que não era o único se vestindo assim. O uniforme era de vermelho ruby nas regiões dos ombros, na ponta da manga e no centro do abdômen, o resto era branco. A calça era toda branca e ele usava uma bota preta, por cima da calça. Em seu cinto branco tinha alguns sacos de pano, iguais ao que o Ian tinha carregado o pó de fada.
―Você voltou! ―O rapaz puxou Ian e o recebeu com um abraço apertado, antes de se afastar e, ainda sorrindo, me olhar com espanto. ―E trouxe alguém junto...
―Retornei hoje, preciso dar meu relatório e sair dessa forma humana. ―Ele não parecia ter desgostado do abraço, e estranhamente sorria para o outro garoto. Ian deu de ombros e apontou para mim com o seu polegar, sem nem mesmo me olhar. ―Esta é Elae, ela vivia com os guardiões lá no mundo humano.
―Então... ―O homem alegre assentiu e veio para minha frente, estendendo a mão. ―Muito prazer, eu sou o Hendri Breaker.
O sorriso de Hendri era bem largo que me fazia sentir bem vinda ali, então sem nem hesitar estendi a mão e o cumprimentei apropriadamente, sorrindo de volta.
―Honrada em conhecê-lo, pode me chamar de Elae.
―Deixando as saudações para depois, Hendri estou indo até a sala de comando e você vem comigo, Elae.
Acenei com a cabeça para o novo conhecido e segui Ian quando ele começou a andar novamente. Fomos em direção a uma pequena porta ao lado da escada, nela existiam alguns rabiscos estranhos que não conseguia entender muito bem. A porta estava fechada e tinha uma mulher, vestida igual Hendri diferenciando apenas na cor que era azul escuro, parada ao lado. Ela olhou Ian da cabeça aos pés e logo abriu a porta, o rapaz deu um passo para o lado e indicou com a mão para que eu entrasse primeiro.
Quando passei pela porta a mulher me olhou com uma expressão de poucos amigos e virou o rosto para o outro lado, como se me ignorasse por completo e eu, claro, que não achei ruim. Não gostava da ideia de chamar a atenção e já me bastava todos do salão me olhando de forma estranha.
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