Ian desencostou-se da parede e andou até a janela próxima da cama. Uma coisa que nunca entendi em meu quarto é o fato de ter duas janelas ao lado uma da outra, meus pais também nunca entenderam muito bem, mas acharam interessante por iluminar bem o comodo e até então não me atrapalhava em nada. Ele olhou para fora observando o local, verificando se estava seguro já que logo mais iria escurecer e então me olhou.
―Você vai continua sentindo algumas dores por mais umas duas horas, mas precisamos sair daqui antes disso.
―E como vamos fazer isso se eu não aguento andar direito? ―Cruzei os braços enquanto o fitava, ele não podia querer que eu me arrastasse pelo chão.
―Separa o que considera de extrema importância para levar, volto em alguns minutos.
E claro que o Sr. forte e frio me ignorou por completo, ele saiu do quarto sem nem olhar para trás e pelos barulhos de portas abrindo e fechando ele estava verificando se tinha algo suspeito, além dele mesmo.
Fechei os olhos para tentar encontrar alguma forma de amenizar as dores para que pudesse me levantar, mas era bem difícil pensar em qualquer coisa com tantas preocupações em minha mente. Resmunguei baixo várias ofensas e usei força nos braços para me apoiar e empurrar o corpo para frente, a dor voltou com tudo e quase me fez voltar para trás. Puxei o ar com os pulmões criando um pouco, bem pouco, de coragem para jogar minhas pernas para o lado.
Agora todo meu corpo estava dolorido, não era uma dor tão forte, mas ela me era incomoda e restringia quase todos os meus movimentos. Como iria trocar de roupa naquele estado? Puxei todo o ar que podia e então falei o mais alto que me era possível.
―IAN! PRA ONDE VAMOS? COM QUE ROUPA EU DEVO IR? ―Sei que a pergunta era meio estranha, mas dependendo do lugar eu não poderia ir de pijamas.
―Tanto faz. ―Sua voz estava muito baixa e tive que me esticar para poder conseguir entender o que ele dizia. ― Quando chegar lá vai ter que se vestir com outras coisas, então pode ir com isso que está trajando.
Por mais que eu não fosse muito fã de sair de pijama na rua achava bom não ter que me trocar, a dor seria grande demais pra isso.
Olhei para o meu quarto verificando se tinha algo para levar, mas pessoalmente não queria tirar nada dali a minha intenção era voltar depois então peguei minha mochila que estava jogada perto da porta, verifiquei o que tinha dentro e para minha surpresa tinha uma pequena caixinha de presente.
Acabei rindo sozinha, meus pais deveriam ter escondido ali para me dar depois ou iriam inventar de me fazer procurar um presente no meu quarto bagunçado. Novamente senti uma enorme tristeza, e claro que mesmo se quisesse não conseguia chorar.
Decidi que iria abrir aquela caixa depois então nem mesmo a peguei em mãos, respirei fundo e fechei a mochila a colocando nos ombros logo depois. Dei alguns passos para perto da porta fechada, onde tinha um espelho e olhei para meu rosto soltando um riso de deboche. Meus cabelos castanhos – quando criança minha mãe brincava dizendo que eram daquela cor por conta do tanto de chocolate que eu comia – estavam completamente bagunçados, minha franja estava toda jogada para a esquerda com vários fios pra cima, meus olhos cor de mel demonstravam meu cansaço. E minha pele, bem ela estava pálida como sempre. Ajeitei nas pressas os fios bagunçados deixando eles ao menos de uma forma mais apresentável, sem parecer que tinha acabado de sair de uma briga com um gato.
Por sorte acabei "me acostumando" com a dor, ainda estava bem ruim, mas ao menos conseguia suportar mais. Fechei os olhos e contei mentalmente até cinco, no fim da contagem comecei a caminhar para fora do quarto e para minha surpresa Ian estava parado no corredor bem a minha frente.
Mesmo que ele parecesse ser um cara ruim, muitas vezes agia de boa fé. Claro que se eu perguntasse ele iria dizer coisas como "Estou seguindo ordens" ou "Caso contrario isso seria um pé no saco" e coisas do tipo, mas era interessante observa-lo.
Ian esperou que eu chegasse ao seu lado para poder me surpreender. Ele virou e antes que eu pudesse perceber estava nas costas dele, talvez para não atrasa-lo ou correr o risco de atrair aquelas coisas. Preferi não protestar, mesmo sendo magro daquele jeito Ian parecia ser bem forte, não queria arrumar confusão com alguém assim.
Muitas vezes meus pais me disseram "Elae, não fale com estranhos e não siga um", mas nesse caso o estranho está salvando minha vida, e tecnicamente ele está me carregando então não conta como "seguir". Ele pode até mesmo me ajudar a entender tudo o que está acontecendo, mesmo que as histórias dele sejam absurdas.
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