Era primavera novamente, dia 20 de março para ser mais preciso. Primeiro dia da primavera e meu não tão aguardado aniversário de trinta e cinco anos. Minha irmã Sofia havia me abandonado para dançar com um pau vestido que atendia pelo nome de Thomas, portanto eu tinha de comemorar sozinho.
Sozinho entre algumas aspas, o pub que eu costumo frequentar estava lotado e a música, por sinal muito boa, estava num volume ensurdecedor, ao menos minha vodca estava bem gelada e eu tinha um pote de cerejas em conserva em mãos, cortesia do barman. Ryan era uma das poucas pessoas que eu considerava como amigo, tinha cerca de 22 anos, um diploma em design e um combo de coxas e bunda que eram capazes de deixar qualquer um delirante.
"Jade, desfaz esse bico." Ele me repreende com um sorriso de canto. "Por que não vai dançar? Sua irmã parece estar se divertindo."
"Eu vou se você me acompanhar, meu bem." Provoco, retribuindo o sorriso.
Estava tocando uma música realmente dançante, mas eu preferia dançar com companhia, uma de minhas muitas manias. Como, por exemplo, morder o lábio. Reparei em um homem sentando no lado oposto do bar: cabelos loiros claros, tingidos de um tom azulado devido à iluminação, olhos azuis que pareciam negros no momento, roupa social de mais. O moço que gostava da cor jade. Sorri ao reconhecê-lo e Ryan me olhou de forma interrogativa.
Eu lhe pedi que servisse uma dose de whisky para ele, por minha conta, e, quando o rapaz virou para mim, dúvida em seus olhos, eu acenei de forma simpática. Ele e Ryan trocaram algumas palavras. Meus dedos já estavam vermelhos por causa da calda das cerejas e cheiravam doce quando o rapaz resolveu aproximar-se de forma tímida, sentando-se ao meu lado com o copo de bebida na mão.
"Seu lindo arranjo me rendeu um bom tempo de namoro." Ele disse com um sorriso.
"E o senhor com sua beleza me rendeu uma irmã apaixonada." Brinquei, devolvendo o sorriso, no entanto, quem havia passado bons meses devaneando sobre um rapaz de olhos verdes fora eu.
"Nossa... impressionante." O rapaz riu e deixou o copo sobre o balcão, atenção focando em mim. "Meu nome é Rafael, e o seu?"
"Jade." Eu disse simplesmente, embora eu fosse mais solto do que aquilo, por alguma razão não sabia como conversar com ele. Coloquei mais uma cereja na boca.
"Um belo nome." Senti minhas bochechas aquecerem levemente pelo elogio. Poderia muito bem dizer que o rubor em meu rosto era por culpa do álcool se eu quisesse, mas eu havia gostado de mais do elogio para fazê-lo. "Combina com seu sorriso."
"Não elogie tanto, Rafa, posso achar que quer alguma coisa comigo." Lancei um olhar provocativo em sua direção antes de terminar com a vodca em meu copo em um só gole. A leve queimação do álcool em minha garganta era familiar e consoladora. Rafael havia saído durante meses com uma mulher antes de estar sentado ali do meu lado, com certeza ele não devia. Mas se fosse pelo menos bissexual eu já poderia me considerar um cara de sorte. "Ryan, mais uma dose." Pedi com um sorriso, piscando de forma adorável.
"Se continuar assim vai acabar com nosso estoque de vodca, Jade." Ryan riu antes de encher meu copo novamente. "Sei que sua tolerância para álcool é bem alta, mas isso vai ferrar seu fígado." Suspirei, era fofa a preocupação dele, embora extremamente desnecessária.
Rafael me chamou para dançar não muitos copos de whisky depois. Suas mãos em minha cintura tremiam, como se não soubesse se tinha permissão para me tocar, seus olhos verdes enevoados pela embriaguez e escurecidos pela maldita iluminação. Ele não era nem de longe um dançarino de balada. Sentamos novamente no bar cerca de cinco músicas depois.
Rafael estava completamente bêbado, deitado sobre o balcão do bar, reclamava de cansaço, fome e trabalho.
"Como você tem tanta energia? Meu Deus, eu devia ter comido alguma coisa antes de vir pra cá..." Reclamou, bocejando. "E pensar que tenho de trabalhar amanhã." Aparentemente o álcool fazia com que ele se soltasse um pouco.
"Cala a boca, tá começando a me irritar." Resmungo colocando a última cereja na boca. "Você devia ir para casa, está completamente alcoolizado."
"Eu vim andando, mas não lembro onde eu moro." Mais um bocejo. "Acho que nem lembro que meu nome é Rafael."
Não pude evitar de rir. Levantei de meu banco e o ajudei a fazer o mesmo, passando um de seus braços em torno de meu pescoço e um dos meus em torno de sua cintura. Como não sabia onde ele morava, resolvi levá-lo para o meu apartamento, no andar de cima da floricultura. O trajeto de lá até o bar levava vinte minutos a pé e sóbrio. Estando um bêbado e outro carregando o dito bêbado, somado ao fato de Rafa ser pesado e maior que eu, acabamos levando quase uma hora. Subir as escadas foi uma missão ainda mais difícil.
"Jade... Você é tão lindo..." Ele resmungou enquanto eu o deitava no sofá. "Parece que você está usando batom, sua boca está rosinha..." Ele já estava rindo por nada, provavelmente a ressaca seria ainda pior do que os comentários aleatórios. "Gostaria de te beijar, principalmente agora com seus lábios assim, aposto que tem gosto de cereja." Ele diz como tentativa de flerte, braços em torno do meu pescoço. "E quero fazer mais coisas também, mas seria um tanto inapropriado." O sorriso pervertido dele não era de todo desagradável, chegava a ser engraçado.
Deixei Rafael deitado no sofá e fui até o banheiro para tomar um banho. A água gelada deveria ajudar a pensar mais claramente e calmamente, evitando decisões das quais eu com certeza iria me arrepender. Eu era um tolo, deixando-me ser atraído por um garoto mais novo que eu e, ainda por cima, completamente bêbado. "Pelo amor de Deus, eu sou mesmo um idiota."
Logo saí do banheiro, toalha enrolada na cintura e cabelo ainda pingando um pouco, queria me vestir e dormir logo, mas uma mão segurando meu pulso deteve minhas ações. Senti meu coração falhar uma batida e depois acelerar. Rafael estava parado logo atrás de mim. Ele me abraçou por trás e eu só rezava para a maldita toalha ficar no lugar. Seus lábios pressionaram levemente na curva de meu pescoço, eu gostava daquele tipo de coisa, mas resmunguei pra ele me soltar. Gemi em protesto quando Rafael mordeu minha orelha antes de se afastar.
"Deita na cama, você precisa descansar." Bocejei enquanto ia em direção ao meu armário.
"Posso fazer uma proposta indecente?" Eu ri e mordi meu lábio esse cara estava me deixando completamente maluco e só nos conhecíamos a algumas horas.
"Rafael, se você não estivesse bêbado eu pensaria no seu caso, mas agora cala a boca e vai pra cama." Respondi com um sorriso de canto.
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