A manhã parecia mais longa que o normal para Minami, que agora só podia se esconder atrás de um murinho onde quase ninguém ia durante a hora do intervalo. Mas seu momento reflexivo não duraria muito, pois Yukino, que a procurava por todos os cantos, apareceu silenciosamente por detrás da jovem.
— Achei você! Como tá? — Yukino perguntou.
Minami levou um susto e virou a cabeça lentamente em direção a Yukino.
— Tô ótima! — disse com voz trêmula.
— Não tá não! — Yukino respondeu, cortando a mentira de sua colega. Aquelas palavras fizeram os olhos de Minami se encherem de lágrimas, mas, ao mesmo tempo, ela começou a se abrir.
— ... Yukino, você que não é muito normal... — Minami disse soluçando. — ... Se eu te mostrar algo, você não vai se assustar?
— Me chamou de louca? — perguntou Yukino encarando-a.
— Ahhh... errado não tá, né? — respondeu Minami.
Mas, ao invés de continuar a conversa, Minami começou a tirar o cachecol. Depois, tirou o casaco e as luvas, mostrando sua pele brilhante para Yukino.
— Não conte para ninguém. — pediu timidamente.
— Por incrível que pareça, eu sei quem pode te ajudar! — respondeu Yukino, sem demonstrar surpresa alguma.
— Sério? Sabia que dava pra te contar. — Uma ponta de esperança surgiu dentro do coração da jovem.
— Vou chamar a Akiko e a Miyu pra verem isso.
— NÃO, PARA! NÃO É PRA MAIS NINGUÉM DA ESCOLA SABER!
Yukino se virou e correu para buscar suas amigas, ignorando completamente o pedido desesperado de Minami. Ela rapidamente encontrou as duas no pátio e as levou logo para averiguar a situação. As duas olharam e rapidamente chegaram a uma conclusão:
— Megumi! Tem que falar com a Megumi! — disseram Akiko e Miyu em uníssono, sem hesitar.
— QUÊ?! MAIS UMA PESSOA VAI TER QUE VER ISSO? — Minami já começava a ficar preocupada com a situação em que se encontrava. A discrição não era mais uma opção.
— É que a Potentia da Luz é diferente das outras. Não entendo como funciona, e ela é a única que causa isso. — Até mesmo Akiko deu uma resposta técnica para a situação.
— Potentia? — perguntou a jovem de pele iluminada.
— São poderes. — explicou rapidamente Yukino.
— Me sinto naquelas coisas doidas que você assiste, Yukino. Qual é o nome mesmo?
— Anime. — respondeu Yukino com cara de desprezo, enquanto pensava que sua amiga havia chamado o que ela gosta de “doido”.
Durante o diálogo, a música do fim do intervalo tocou, e todas precisavam voltar para suas salas. Minami ficou preocupada, pois demorava muito para arrumar toda a roupa que estava usando, e ela não queria que a vissem brilhando.
— Vai assim mesmo. — sugeriu Yukino.
— Diz que é iluminador. — Miyu sugeriu.
— Ninguém vai acreditar nisso. — Minami reclamou.
De volta à sala de aula, Minami sentou-se em seu lugar de costume e ficou em silêncio, na esperança de que ninguém olhasse para ela. Seu colega de turma, que sentava ao lado, a encarou e perguntou:
— Minami, o que deu que cê tá brilhando?
— É iluminador.
— Ah, tá!
“Ele acreditou...”, pensou Minami, chocada.
Casa de Sayuri
Sayuri estava em seu ensaio diário de uma nova melodia que estava compondo no piano. Concentrada, a música fluía com uma incrível leveza, preenchendo o ambiente de maneira harmônica. O cenário parecia o de um ato glorioso e heróico de filmes.
— SAYURIIII! — Akiko chegou em casa gritando a plenos pulmões, interrompendo o ensaio de Sayuri.
“CLANG”, soou o piano quando Sayuri perdeu as notas e teve seus pensamentos cortados. Ela respirou fundo, virou-se em direção a Akiko e disse:
— Akiko, não grite enquanto eu estiver tocando, por favor. — pediu, um pouco nervosa, mas com delicadeza, e continuou: — Eu estava treinando uma melodia mais difícil...
— Mas Sayuri... — disse Akiko. — Temos uma emergência! — Akiko mostrou que havia uma jovem brilhando e que precisava de ajuda. Sayuri viu a cena e já se espantou.
— MEGUMI, CORRE AQUI!
Como não estava acostumada a ouvir Sayuri gritar assustada, Megumi desceu correndo as escadas, perguntando se estava tudo bem. Minami olhou para a modelo e ficou encantada com sua beleza. Já a loira alta olhou a cena e compreendeu tudo rapidamente.
— Esfregue bem uma mão na outra e depois bata palmas. Isso vai dissipar a energia. — explicou Megumi, fazendo os gestos para ela compreender.
Minami olhou para aquilo muito confusa, mas, como não tinha muitas alternativas, preferiu imitar o ato, por mais absurdo que parecesse. Ela esfregou bem suas mãos e bateu palmas. Um leve feixe de luz se espalhou, e ela automaticamente parou de brilhar.
— Quê!? Era só isso? — perguntou, boquiaberta.
— Isso acontece nos estágios iniciais dessa Potentia! Posso te ensinar como usar! — prontificou-se Megumi.
— É melhor eu aprender. — respondeu Minami.
Apartamento de Koa e Adonis, 21 de março, meio-dia.
O jovem Adonis finalmente acordou e se dirigiu até a cozinha, onde Koa já estava preparando o almoço.
— E aí, Koa. Bom dia. — disse o ruivo, bocejando.
— Adonis, já é hora do almoço. Não acha que está se levantando muito tarde? — respondeu Koa, incomodado.
— Mas hoje é domingo. É a minha folga. — respondeu o jovem depois de bocejar.
“Folga?”, pensou o mais velho.
— Mas já pensou no que vai fazer durante a semana? — perguntou Koa, virando o olhar para Adonis.
— Amanhã tem prova de matemática, trabalho de física para entregar, e minha sala ficou encarregada de coletar caixas de papelão para gincana. — O jovem ia fazendo seu check-list mental e passando para seu colega de quarto.
Koa então fincou a faca com raiva na tábua de madeira em que fatiava a carne. Parece que a resposta do jovem estava bem longe do que ele gostaria de ouvir. Adonis, assustado, deu um salto para trás e arregalou os olhos.
— Adonis... a sua missão! Maureen, Itzel, Yesenia, Rosália, todos já viram as garotas, e você nada até agora! — O tom de voz de Koa era firme e sério, não deixando espaço para justificativas.
Adonis uniu as mãos, abaixou a cabeça e respondeu com voz trêmula:
— Eu vou! Eu juro! Não desista de mim!
22 de março, segunda-feira, Colégio
O segundo ano estava em aula de educação física. Neste colégio, as turmas praticavam educação física com meninas e meninos em separado. Havia três quadras: do ginásio coberto, a quadra coberta e a quadra descoberta. Normalmente, praticava-se futebol, vôlei, basquete ou handebol. Neste dia, Adonis estava jogando o esporte que mais gostava no planeta: o futebol. Algumas meninas de sua turma assistiam ao jogo e não paravam de elogiar o rapaz.
“Ahhh! É lindo, né?”
“Que bom viver na mesma época!”
“Que bom estar na mesma sala!”, eram algumas das frases que soltavam.
Como atacante, Adonis jogava com seriedade e velocidade e, por isso, já estava todo suado, inclusive no rosto. Como era comum, levantou a camisa para limpar o suor.
— AHHHHHHHHHHHHHH! — as meninas gritaram em uníssono.
— As meninas são estranhas, mano. — comentavam os outros meninos da turma entre si.
Enquanto isso, Aino e Miyu dirigiam-se à quadra de esportes. Aino segurava Miyu pela mão e parecia estar com pressa.
— Vem, Miyu, vamos aproveitar que fomos liberadas mais cedo.
— Tá, mas por que estamos indo à quadra?
— Quero ver o Adonis, mas não quero ir sozinha.
— Mas eu não tenho interesse.
— Não faz escândalo.
— …
“Não sou obrigada a ficar aqui…”, pensou Miyu, já se virando para sair.
Ao se virar, acabou tropeçando e deu com a cara no peito de alguém.
— Opa! Foi mal, não te vi! — disse Adonis para Miyu.
A moça de cabelos verdes não respondeu, surpresa. Já o ruivo a encarou e se abaixou para medir sua altura.
— Meu! Cê é muito baixa! — disse ele, espantado.
— Quê!? — a garota demonstrou incômodo.
— Veja pelo lado bom! Cê não bate com a cabeça no teto! — consolou Adonis.
— Que sorte, Miyu! — comentou Aino ao fundo.
Miyu ficou ainda mais irritada e ficou emburrada. Adonis, de pé novamente, não entendeu o porquê que a garota parecia chateada. Sem mais conversa, Miyu se virou e saiu em direção ao pátio. Aino correu atrás dela.
— E aí!? Seu coração parou? — perguntou a amiga.
— Sim, de raiva! — respondeu Miyu, ríspida.
23 de março, terça-feira, Colégio
As primeiras aulas já haviam terminado, e a música do recreio ecoava. Na turma do primeiro ano, a última aula havia sido de Biologia, e a professora fez um pedido antes de todos saírem:
— Tá, galera, eu sei que é intervalo. Mas alguém me ajuda a levar os livros para o laboratório? — Ela mostrou a pilha gigantesca de livros que havia levado para a sala.
No entanto, todos saíram correndo para o intervalo, sem se preocupar em ajudar. Apenas Miyu ficou e se ofereceu para ajudar a professora, que agradeceu e entregou alguns livros para ela levar.
A pilha de livros era realmente enorme, quase cobrindo o rosto da jovem. A sala de aula ficava no térreo, enquanto o laboratório estava no segundo andar. Miyu subiu as escadas cautelosamente e parou diante da porta do laboratório, pensando em como abrir a porta carregando tanto peso. Não demorou muito para que uma mão se estendesse e abrisse a porta para ela.
— Obrigada. — agradeceu.
— Não tá pesado? Passa uns livros pra mim. — Adonis, que havia aberto a porta, ofereceu ajuda.
— Não, pode deixar. — Miyu recusou educadamente.
Os dois entraram no laboratório. Miyu colocou os livros sobre uma mesa, enquanto Adonis começou a explorar o local, cumprimentando o esqueleto e observando os potes de experimentos. Miyu apenas o observava de canto, preocupada. Logo, ele passou dos limites e começou a mexer nas substâncias guardadas.
— Bora misturar substâncias. — Ele pegou dois líquidos e foi até o balcão.
— EI, NÃO MEXE AÍ! — Miyu já estava irritada com o rapaz.
— Olha esse líquido rosa, que legal! — Adonis começou a misturar os líquidos do tubo de ensaio e do erlenmeyer.
— Adonis! Isso é soda cáustica! — Miyu se aproximou, preocupada.
— Olha que massa, ficou rosa! Azul! Verde! Agora ficou amarelo! — Ele falava enquanto a mistura mudava de cor.
As cores chamaram a atenção de Miyu, que começou a prestar mais atenção, apesar de sua preocupação.
— Sabe por que isso acontece? — perguntou Adonis, encarando-a.
A jovem ficou um pouco tímida, mas respondeu:
— Não é difícil! Na água tinha permanganato de sódio, e a soda cáustica tinha açúcar. Foi essa combinação que resultou nessas cores.
— Isso! Cê é inteligente, curti! — Adonis ficou impressionado.
Miyu não respondeu, mas não tardou para que ele tivesse outra ideia.
— Tá, vou levar isso pra casa. — disse, levantando o recipiente.
— QUE? NÃO! DEIXA ESSAS COISAS NO LUGAR! — Miyu se desesperou.
— EI! EI! EI! — reclamava o rapaz, desviando o recipiente das mãos dela.
— ADONIS, LARGA! — Miyu tentou pegar o recipiente de volta.
No meio da confusão, o erlenmeyer bateu no béquer próximo, e um som fino de vidro ecoou pelo ambiente.
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