Thadeu voltou para casa de Angélica. Ela estava em sua mesa comendo biscoitos vencidos. Ele colocou sua máscara na mesa com a estátua que o Isniffi tinha lhe dado. A mulher sorriu. Aquela pequena estátua era algo difícil de se encontrar naqueles dias conturbados.
— A mulher nua, coberta apenas pelos seus cabelos. Isso é uma estátua que ninguém usa em nossos dias. Sabe o que ela significa? — perguntou Angélica.
— Não faço a mínima ideia — respondeu Thadeu, aceitando um biscoito.
— Ela é a deusa padroeira da guilda dos heróis. Ela andava nua, porque era como o primeiro homem criado pelas criadoras, sem maldade, pura como o ouro derretido. Sua pele branca como leite representa a paz e o seu cabelo vermelho simboliza o sangue dos homens e mulheres que morreram usando seu poder para manter a honra de sua padroeira. Por isso os cabelos tapam a preciosa! — sorriu Angélica — Abrek caçou e matou todos que tinham essa coisa em casa. Isniffi Ikari deve estar querendo trazer os heróis de volta, ou nunca teria esculpido isso.
— Como você sabe que foi ele que me deu? — indagou Thadeu.
— Palpite.
— Você é muito misteriosa… vamos para a parte que eu aceito sua proposta. Como vamos atacar Malphas?
— É disso que eu estava falando! Primeiro, preciso que você me escute com atenção, depois conheceremos algumas pessoas que vão nos ajudar a colocar nosso plano em prática.
— Outros mendigos que moram em barracos? — zombou Thadeu.
— Você em silêncio é um poeta.
— Está bem, conte o seu maldito plano.
— Existem quatro facções criminosas controlando o tráfico de drogas em Boombayacles. Malphas é o maior fornecedor de perimpimpim e as outras facções compram dele para revender. Eles não querem mais isso, mas quem se opõe aos propósitos de Draco Griseus é morto sem piedade. Para atacar Malphas, precisamos atacar o seu negócio. Se conseguirmos fazer as outras facções ficarem maiores, ele irá iniciar uma guerra. É agora que você entra. Um dos medos de Malphas é o retorno dos heróis. Você sairá por aí, acabando com o crime e destruindo o negócio do Dragão Cinzento. Ele terá duas preocupações, a primeira é as famílias se tornarem grandes, a segunda, é você colocando o símbolo da mulher nua até na testa da mãe dele.
— Até aí tudo bem, mas e quanto a fraqueza de Malphas? Não fazemos a menor ideia de como derrotá-lo!
— Thadeu, não seja ingênuo. É no momento de desespero que contaremos com duas peças. A primeira é a sua amiga. Ela está ao lado de Malphas, por isso irá descobrir alguma coisa. E a segunda peça é a Melina. Ela sabe de alguma coisa, mas tem sentimentos pelo pai que irão impedir o seu bom senso.
— E se o seu plano não funcionar? Ainda teremos um doido poderoso nos caçando.
— É agora que entra meu plano B. QianQian não deixará barato, ainda mais que sua popularidade poderá cair se a guerra das facções não for resolvida. Ela virá, com toda certeza, atraindo a atenção do Gato e da Fada. De qualquer maneira, Malphas irá cair. Seja na nossa mão, seja na mão dos heróis.
— Se é assim, por que não chamamos eles de uma vez? — indagou Thadeu.
— Homem, acha mesmo que o Isniffi vai matar ele?
— Tem razão, quero matar Draco Griseus, não o prender.
Thadeu se ergueu da mesa e se dirigiu ao seu novo quarto. Angélica fez uma expressão brava. O homem nem esperou ela terminar de falar e já foi dormir! Ele tirou sua roupa, vestiu algo leve e se deitou. Essa seria sua última noite de sono, antes de começar suas aventuras de super. Thadeu fechou os olhos e respirou fundo. Uma pequena meditação era o suficiente para ele pegar no sono. Para sua surpresa, uma voz feminina e Aguda chamou o seu nome. Ele abriu os olhos e lá estava o Isniffi sentado ao seu lado. Mas não era o próprio, já que ele parecia um fantasma transparente e vermelho!
— O que diabos você está fazendo aqui? — gritou Thadeu.
— Desculpa! Isniffi não está aqui, mas no meu quarto no reino das fadas. A Nini fez um feitiço que consigo me comunicar com você.
— Diabos, sai daqui! Não quero conversar com um idiota que acredita que o mundo se resume a fofura.
— Isniffi gosta do seu temperamento! — sorriu o pequeno com seu rosto de uma moça inocente. Aquele dente fofo fez o coração de Thadeu se acalmar. Como um ser tão doce poderia ser uma ameaça a Malphas?
— O que você quer comigo? — indagou Thadeu.
— Isniffi só queria começar o seu primeiro dia de treinamento!
— O quê? Treinamento? Tá ficando doido!
— Pensei que você tinha aceitado a filosofia Kawaii!
— É claro que não… e que treinamento você daria? Como comer chocolate sem morrer de diabete?
— Não vou contar! — repensou Isniffi cruzando o braço e fazendo uma careta com um biquinho fofo.
— Tá bom…. Se eu aceitar a tua filosofia, você vai embora? — disse Thadeu. Por algum motivo, ele não queria magoar aquela coisa. Mesmo sendo o ser mais poderoso do mundo, ele parecia com uma doce menina que só queria brincar com as pessoas. Thadeu podia ser um assassino, mas ele ainda tinha coração!
— Que legal!!!! Isniffi sabia que poderia contar com seu novo amiguinho. Então, para seu primeiro dia de treinamento, quero que você coma um chocolate por dia, para que sua vida fique mais doce. Combinado?
— O quê? Tá querendo me matar?
— Como assim? Isniffi e as fadas comem chocolate no café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar, sobremesa e lanche de dormir.
— Você é filho do deus da tempestade, eu sou filho de um ser humano que se exagerar no açúcar, morre!
— Que coisa… mas tenta mesmo assim. Vai valer a pena! — respondeu o gato sorrindo.
— Está bem… vou comer, agora posso dormir? — resmungou Thadeu.
— É claro que pode, mas lembre-se, uma vida salgada não é legal, mas com um pouco de açúcar, até sua vida amargurada fica melhor!
— Não entendi, mas vou fingir que entendi.
— Açúcar é alegria, sei que é difícil, mas tente procurar por ela e, quanto menos esperar, a alegria irá te abraçar! — gritou Isniffi com uma voz entusiasmada.
— Que legal — zombou Thadeu. — Agora vai dormir, pelo amor de Sýnpam!
— Só mais uma coisa! Isniffi está montando uma equipe de Super Heróis!
— Uma equipe? Vai dormir, por favor.
— Antes de partir, escute essa canção e você poderá entender o que a tropa do bicho será para nosso mundo!
— Tropa do bicho?
— Gostou? Foi o Isniffi que inventou! O nome combina com o time, uma pena que ninguém quis entrar na equipe ainda… — respondeu Isniffi com um olhar triste.
— Canta logo!
A Tropa do bicho
Não é uma ideia
Feita sem cabeça,
E muito menos feia!
Imagine um grupo
Unidos por aliança.
Com super poderes
E grande esperança!
Lutando contra o mal
E salvando crianças.
Fazendo os super vilões
Ficarem nas lembranças.
As pessoas vão olhar
Para a Tropa do bicho
E dirão “Meus heróis”
Com grande capricho!
Vamos mostrar ao mundo
Que tem um escudo forte,
Pronto para protegê-los
Sem nenhum pingo de sorte.
Ao terminar a canção, Isniffi desapareceu como uma névoa. Thadeu sorriu. A presença daquele gato o fez lembrar de sua irmã. Ele fechou os olhos e dormiu.
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