De repente, Ayzen desperta em sobressalto, com o coração acelerado e a respiração ofegante. Sua mente, ainda enevoada, tenta desesperadamente entender onde está. Ele pisca algumas vezes, ajustando a visão ao ambiente úmido e desconhecido. Ao olhar ao redor, a realidade lentamente se revela: um barco balançando suavemente sobre águas escuras e calmas.
Confuso, Ayzen esfrega os olhos e, ao observar melhor, vê seus amigos desmaiados ao seu lado: Gusta, Alu e Yuto. O silêncio cortante é interrompido apenas pelo som de um remo submergindo e emergindo da água ritmicamente. Ayzen desvia o olhar para a frente do barco e percebe a silhueta de alguém, remando calmamente. O choque o deixa sem palavras.
Nesse momento, Yuto acorda gemendo, esfregando a cabeça como se tentasse afastar uma ressaca dolorosa.
— Tô vivo... como? Tomei só uma lapada?
Logo em seguida, Alu e Gusta também despertam. Gusta, visivelmente desorientado, tenta focar nos arredores e resmunga:
— O que... o que aconteceu?
Alu, atordoado, instintivamente leva a mão ao peito, onde sente o eco de uma dor que já não está lá. Seus olhos arregalam-se em choque.
— Uai... eu tinha levado uma no coração, não tinha?
— Vixi, esse cara aí foi rejeitado. — Disse Yuta rindo da cara do Alu
— Cala a boca, seu doido! — Alu retruca
Enquanto eles discutem, Gusta, com a visão turva, tenta focar na figura à frente. Ele estreita os olhos e sussurra:
— Quem... quem é aquele cara ali na frente?
O homem misterioso interrompe o murmúrio dos garotos. Ele se vira lentamente, a luz fraca revelando um rosto envelhecido, porém resoluto. Seus olhos transmitem uma mistura de paciência e poder. Com um leve sorriso nos lábios, ele fala:
— Finalmente acordaram.
O silêncio entre eles é quase palpável enquanto a gravidade da situação se torna ainda mais evidente.
— Podem me chamar de Velho Blaud. — A voz rouca do homem ecoou no barco, enquanto Ayzen e os outros trocavam olhares confusos.
Alu, ainda incrédulo, se levantou e, com um tom de desconfiança, perguntou:
— Velho Blaudmir, o que a gente faz nesse barco?
Gusta, sério, observando a cena com atenção, respondeu antes que o velho pudesse falar:
— Acho que ele é quem vai nos levar. — Sua voz carregava um peso incomum, como se algo estivesse errado.
— Percebeu rápido, garoto. Agora, peguem essas máscaras de gás rosa e coloquem rápido. — ordenou o Velho Blaud com uma seriedade que fazia o ar parecer ainda mais denso.
Todos colocaram suas máscaras, exceto Alu, que continuava a olhar o velho com desconfiança.
— Pra que essa máscara, afinal? — Alu retrucou, a teimosia evidente no tom de sua voz.
Antes que pudesse reagir, Ayzen e Yuto o seguraram, forçando-o a usar a máscara, enquanto Gusta, inquieto, perguntava:
— Alu está certo, por mais inacreditável que pareça. Por que precisamos das máscaras para entrar na cidade?
A pergunta pairou no ar por um momento, e então, como se em resposta à inquietação de todos, uma névoa negra com tons esverdeados começou a se formar ao redor do barco, envolvendo-os como uma sombra ameaçadora. O Velho Blaud parou de remar, e um silêncio sepulcral se instalou. O ambiente era opressor, e cada segundo de quietude fazia o coração dos jovens bater mais rápido. Finalmente, o velho quebrou o silêncio com uma voz baixa, quase sinistra:
— Prestem muita atenção, garotos. O que vou dizer agora é um segredo que ninguém dos sete reinos conhece... Essa cidade que estamos prestes a entrar já foi um reino poderoso, esquecido por todos. — Seus olhos escureceram ao pronunciar as próximas palavras.
— Ao todo, temos sete reinos: Leverkyt, Oldenort, Odenberg, Revenrest, Nevekylt, Vecatron e, o principal, Nordeal. Há muito tempo, Nordeal foi o primeiro a surgir e, por eras, governou com mão firme. Sob sua bênção, dois reinos de alto escalão foram criados: Nevekylt e Leverkyt. Mas o equilíbrio foi rompido quando dois nobres irmãos fundaram seus próprios reinos sem a permissão de Nordeal — Oldenort e Odenberg. O caos começava a se espalhar, e então veio Vecatron, um reino ambicioso e poderoso, mas sem a bênção de Nordeal. — O tom do velho se tornava cada vez mais sombrio.
— Vecatron... foi rejeitado. Esquecido, agora é apenas uma cidade decadente, infestada por traficantes, facções, canibais... e outras coisas que é melhor não mencionar.
O grupo ficou em silêncio, absorvendo o peso da história. Gusta, impressionado, arriscou perguntar:
— E o sétimo reino? O que aconteceu com ele?
— O sétimo reino foi criado sob a bênção dos quatro grandes reinos. Revenrest... um lugar onde apenas magos prodigiosos nascem. Seu poder é tão vasto que se tornou o segundo reino mais poderoso, e o mais distante, mantendo-se à margem das políticas dos outros. Eles respeitam Nordeal, mas seguem seus próprios caminhos, isolados, afastados da podridão que aflige os outros reinos.
— Mas se Vecatron foi rejeitado, por que ainda o chamam de reino? — perguntou Gusta, sua voz carregada de uma mistura de curiosidade e desconforto.
O Velho Blaud soltou um suspiro pesado, como se lembrasse de algo sombrio.
— Porque, garoto, mesmo sem a bênção, Vecatron nunca perdeu o título de reino. Mas, para todos os fins práticos, é apenas uma cidade... um lugar de caos, traição e morte.
O silêncio que seguiu foi esmagador. Todos estavam em choque com a revelação. O ar parecia ainda mais pesado dentro das máscaras, e o barco cortava as águas negras como se seguisse em direção ao próprio coração das trevas.
Finalmente, o Velho Blaud quebrou o silêncio uma última vez:
— Garotos, chegamos. Podem tirar suas máscaras e desembarcar.
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