A noite logo caiu, o céu limpo destacava as estrelas aos milhares, iluminando todos os cantos. A lua estava cheia e brilhante. Algumas poucas luzes de lamparinas perto das janelas das casas e edifícios, misturadas com os poucos sons de passos das poucas pessoas que andavam pelas ruas, davam vida àquela cidade noturna, com alguns poucos bares e lojas abertas.
De uma pequena e estreita viela saem calmamente duas pessoas, altas e robustas, com porte físico masculino, cobertas por longas capas pretas. Não é possível ver seus rostos. Elas logo se misturam entre as pessoas andando pela rua. Ambos andam pela via principal da cidade até chegarem em uma área um pouco menos movimentada, caminhando até parar ao lado de um alto muro de pedras que se estendia além do que era possível enxergar — os muros da academia.
“Não estou vendo ninguém por perto”, um dos homens fala para o outro enquanto olha para os lados.
O outro homem dá dois passos à frente, em direção ao muro, e com a mão dá três leves socos na parede, fortes o suficiente para fazer barulho, mas não para danificar a estrutura. Após alguns segundos de silêncio, outros três socos são ouvidos vindos do outro lado e, em seguida, o homem mais próximo da parede faz um sinal com a mão para o segundo, logo atrás, que puxa um saco de pano preto debaixo da capa.
“Vamos rápido, tem que estar tudo pronto para amanhã”, o homem mais à frente comenta.
O segundo então se prepara para jogar o saco. Enquanto isso, o primeiro homem coloca a mão sobre a parede e começa a recitar palavras que não são possíveis de compreender. Quando ele começa a fazer isso, uma luz fraca começa a vir do topo do muro acima dele e, então, uma barreira azul-claro fica visível subindo aos céus acima do muro.
“Eu vou abrir, mas não vou conseguir por muito tempo. Vê se não erra”, o homem mais próximo da barreira exclama para o outro.
Ao voltar a balbuciar mais palavras, a luz se intensifica e, por um breve momento, um buraco aparece entre a barreira azul, um pouco maior que o tamanho do saco de pano. Assim que o buraco se abre, o segundo homem rapidamente atira o saco, acertando em cheio e o fazendo atravessar para o outro lado. Assim que o primeiro homem percebe que deu certo, solta a mão da parede e para de recitar as palavras. A barreira azul rapidamente volta ao normal e some, desaparecendo com a luz emitida do muro.
“Deu certo”, o segundo homem exclama.
“Vamos sair daqui, não vai demorar muito para alguém chegar e ver o que aconteceu”, o primeiro homem comenta.
Os dois logo saem do local em um ritmo acelerado, voltando para a via principal e se misturando entre as demais pessoas, se afastando do lugar. Alguns momentos depois, dois guardas chegam caminhando ao local. Um deles se aproxima da barreira, se ajoelha e a examina cautelosamente, enquanto o outro soldado olha ao redor procurando algo suspeito.
“O que houve aí?”, o soldado em pé pergunta.
“Não vejo nada de errado com a barreira, acho que foi um alarme falso”, o soldado que está analisando a barreira responde.
“Olhe bem, não quero ouvir reclamações do capitão depois”, o soldado de pé fala.
“Tá”, o soldado ajoelhado responde.
Após os soldados não verem nada de errado com a barreira e o muro, e nada de estranho ao redor, os dois logo vão embora em direção de onde vieram mais cedo.
O sol não demora muito para surgir no horizonte. Os primeiros raios de sol começam a atingir as partes mais altas das copas das árvores e dos edifícios. As multidões logo começam a crescer com o nascer do dia e tomam as ruas. As pessoas estão mais agitadas do que o costume; a intensa chegada de viajantes à cidade indica que algo grande está por vir.
“Toc, toc, toc”, batidas são ouvidas na porta do quarto.
“Alexander, sou eu, Lucas!”, a voz de Lucas pode ser ouvida abafada do outro lado da porta.
Lucas se vê à frente da porta do quarto de Alexander, esperando por uma resposta após bater na porta. Ele ouve, bem baixo ao fundo, o som de passos se aproximando da porta. O som da porta sendo destrancada é ouvido e, em seguida, a porta se abre levemente, revelando seu companheiro de quarto.
“Pois não?”, Ricardo pergunta relutantemente.
“O Alexander está acordado?”, Lucas pergunta.
“All? Ele não está aqui, ele saiu bem cedo hoje”, Ricardo responde.
“Sabe aonde ele foi?”, Lucas pergunta a Ricardo.
“Acho que foi treinar, ele saiu tão rápido que nem deu tempo de perguntar para onde ele foi”, Ricardo responde.
“Tudo bem, obrigado e desculpe por acordá-lo”, Lucas responde a Ricardo enquanto se vira e começa a andar pelo corredor em direção à saída.
Lucas rapidamente desce as escadas e sai pela porta da frente, se deparando com Gustavo o esperando do lado de fora.
“Cadê ele?”, Gustavo pergunta.
“Ele não está no quarto, provavelmente foi para o campo de treinamento cedo, como o professor comentou”, Lucas responde.
“Vamos lá, então”, Gustavo fala.
Os dois logo partem em direção ao salão de treino do colégio em um passo acelerado. Chegando ao local, notam a porta principal semiaberta. Eles entram no local pelo corredor principal e, ao se aproximarem mais do interior do salão, começam a ouvir o som do vento e o assobio de uma espada se movimentando rapidamente. Ao chegarem na entrada do salão, logo notam Alexander no centro da sala.
“Não é que o professor acertou, hahahah”, Gustavo fala em um tom leve, rindo ao final da frase.
“Não é muito difícil chegar a essa conclusão, afinal, ele, acima de qualquer coisa, é um espadachim”, Lucas retruca.
Os dois caminham até perto de Alexander, que está tão focado no treino que nem nota os dois ali ao seu lado.
“All...”, Gustavo grita para Alexander.
Alexander não responde e continua o seu treino.
Lucas dá mais alguns passos à frente, chegando bem perto de All. Ele se concentra por um momento e libera a sua aura por alguns instantes. Alexander, que está focado no treino, rapidamente sente a presença ao seu lado e, de forma instintiva, muda sua movimentação e, em segundos, se coloca em posição de defesa à frente de Lucas, notando Lucas momentos depois.
“Lucas!... Gustavo? Ah... Desculpa, eu... Eu estava focado aqui eeeh...”, Alexander começa a se enrolar nas palavras, visivelmente constrangido.
“Está tudo bem, acabamos de chegar”, Lucas responde enquanto se vira e começa a caminhar em direção a Gustavo.
Alexander começa a segui-lo, caminhando até parar à frente dos dois.
“Vejo que está ansioso”, Gustavo comenta.
“É, um pouco. Lutar contra pessoas fortes é sempre emocionante”, Alexander responde.
“Nós viemos buscar você para os preparativos da luta”, Lucas fala em tom sério.
“Buscar? Não sei se entendi direito. Eu achei que era só ir à arena na hora marcada...”, Alexander responde confuso.
“Não é tão simples assim. Esta não é uma simples luta entre dois alunos, é uma justa”, Lucas responde.
“Justa?”, Alexander repete a palavra confuso.
“Justa é meio que uma batalha evento. É algo mais voltado para o esporte do que uma luta real, normalmente visto como um duelo esportivo. Aqui na escola, uma justa é algo bem maior, ainda mais quando se trata de um aluno conhecido como a Annie”, Gustavo responde com entusiasmo na voz.
“Vão acontecer algumas preparações antes da luta. Vamos”, Lucas responde, enquanto se vira e caminha em direção à saída.
Gustavo e Alexander logo seguem Lucas e saem do salão, indo em direção ao campo onde a luta irá acontecer.
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