A Academia de Magia Avalon, como o próprio nome já indica, é uma instituição que tem como objetivo ensinar aos seus alunos a teoria e a prática da magia. Entretanto, por ter também treino de combate em sua grade curricular, ela se tornou ideal para magos que desejam entrar em uma carreira militar.
A instituição fica situada em Norwill, uma cidade que se formou ao redor da academia depois de sua fundação, o que permitiu que os alunos não se sentissem isolados do mundo e que os cidadãos comuns pudessem contar com a proteção do instituto, o que atraiu novos moradores para Norwill, afinal, quem não iria querer morar numa cidade tranquila com boa segurança?
O período letivo dura 4 anos e, após a graduação, grande parte dos alunos entram na carreira militar ou policial. Entretanto, essas não são as únicas opções de carreira para os graduados. Há uma boa porção de estudantes que entraram na área da pesquisa, da saúde, da educação, etc. Independente de qual seja sua vocação, era dito que, ao estudar nessa academia, seu caminho para a vida boa já estava formado. Por isso que muitas famílias consideram a academia como um investimento seguro.
Quando meu irmão fez 14 anos ele entrou na academia, só que 14 anos não é a idade mínima para entrar, mas sim 10 anos. Ou seja, Avalon é tipo uma faculdade, você encontra novinhos e velhos juntos e misturados. Isso também significa que, quando John estivesse no segundo ano, eu já teria idade para me matricular também, só que tanto meus pais quanto ele acharam que eu era nova demais, então eu perdi de três a um. Porém, agora, depois de 5 anos, finalmente estou na academia, como mais uma nova estudante. Vou garantir que irei meu tempo aqui irá render!
………
A noite havia se encerrado e a manhã já havia chegado e, com isso, chegou a hora de acordar. Só havia um problema: eu não queria sair da cama. Vida passada ou atual, eu ainda detesto ter que acordar cedo! Talvez deva ser porquê, na minha vida passada, o ato de acordar era o precursor da monotonia e incômodos que eu sentiria no dia e portanto, por mais que já façam 14 anos desde que eu reencarnei, parece que uma parte obscura e profunda dentro de mim ainda não desfez essa má associação. Bom, pelo menos a aula não é às 7:00 da manhã, então nisso essa academia acertou.
De qualquer forma, eu não tinha escolha, então eu me levantei e peguei minhas coisas para tomar um banho. Graças a água gelada e o aroma do sabonete eu senti um pouco do ânimo voltar para mim. Talvez quando eu tomar café e caminhar um pouquinho, eu esteja melhor. Voltando para meu quarto, eu vesti meu uniforme e, seguindo a sugestão de Erina, fiz uma trança no meu cabelo. Já arrumada e com a mochila pronta, deixei meu quarto.
Eu tinha a intenção de ir bater na porta do quarto da Erina para chamá-la, porém, quando eu olhei para as escadas, vi uma característica mecha de cabelo loiro esvoaçante. Tomada pela curiosidade, fui direto para a escada e me encontrei com a Erina, pronta para sair. Ela estava usando o uniforme da mesma forma que ontem e, como ela havia declarado no dia anterior, seus cabelos estavam soltos e decorados por uma tiara vermelha. Estou surpreendida por ela não ter pego a mais cara que tinha.
- Finalmente você está pronta! – Erina me cumprimentou – Que cara de sono é essa? Por acaso você ficou lendo até tarde?
- Não, é que eu não queria sair da cama… – murmurei – Pra alguém que também odeia acordar cedo, você tá bem feliz.
Por mais que Erina já tenha treinado de manhã com a sua irmã, ela nunca gostou de acordar cedo. Ela só se levantava por uma questão de disciplina.
- Já se esqueceu? – Ela arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso malicioso – Hoje, antes da cerimônia começar, nós vamos começar a procurar os boys!
Ah, sim, os boys… Tá explicado! Só que eis a questão: para a ela ou para mim?… bom, provavelmente, conhecendo a Erina, ela vai querer matar dois pássaros em um tiro só e vai procurar tanto para ela como para mim. O único problema seria os métodos que ela usaria. Ela se aproveita do fato que as pessoas a veem como uma nobre elegante para ser um tanto descarada. Se deixar, ela finge que caiu na frente de um garoto para que ele a carregue como uma princesa até a enfermeira. Agora, quando se trata dos métodos que ela vai usar para “me ajudar”, eu preciso tomar cuidado. Se ela escolher me empurrar na frente de um garoto para parecer que eu tropecei e ele vir me socorrer, eu vou tá ferrada. Graças a benção da Deusa Protetora, ela tem uma força acima da média que, às vezes, ela esquece de controlar. Eu vou acabar com uma fratura, com certeza. É nessas horas que agradeço à existência de magia de cura nesse mundo.
Eu poderia estipular outras possíveis estratégias que Erina utilizaria mas eu não tive tempo, pois a própria me interrompeu, pegando meu pulso e me puxando escada abaixo, enquanto repetia “Vamos!” com uma voz cheia de empolgação. Passamos reto pela cozinha e saímos do dormitório. Ela continuou me arrastando até chegarmos o restaurante. Dentro de lá, Erina me levou até uma das mesas e pediu um café da manhã para nós duas. E ela pediu uma refeição de boa qualidade! O pão, a geleia, os ovos cozidos e o café estavam dando água na boca! Principalmente o pão!
Esperta! Ela está tentando me comprar com pão!
- Ok… – Erina iniciou, após tomar um gole de seu café – Primeiro, vamos até a estação de trem para dar uma olhada inicial nos estudantes. Em seguida, iremos aproveitar que a cerimônia só vai começar mais tarde para socializar com os selecionados e começar nossa conquista! - inclinando-se para mim, ela perguntou – devo procurar mais por cabelos compridos ou por óculos?
- Você já perguntou isso – respondi após dar uma mordida no meu pão com geleia.
- Mas você não respondeu.
- Ai, ai. Sinceramente, eu prefiro que você encontre alguém com os dois. Sabe o que é? É que os cabelos compridos dão um charme elegante e até mesmo místico e os óculos dão um ar de intelecto, de quem busca o conhecimento, então, quando juntando os dois, você tem um distinto cavalheiro refinado que arranca suspiros quando passa e… – só parei para perceber que eu estava fazendo um monólogo quando o sorriso de Erina estava ficando cada vez mais malicioso – …mas pode ir procurar por óculos.
- Óculos, saquei – Ela respondeu, terminando o seu pão – depois que eu o encontrar, farei com que ele fique gamadinho por você e aí vou convencer ele a deixar o cabelo crescer.
- …Obrigada – Agradeci sinceramente, sem qualquer escárnio ou sarcasmo. Se ela realmente conseguir achar alguém desse jeito, vai estar realizando um desejo oculto meu e aí terão que canonizar ela como santa casamenteira!
Enquanto continuávamos o café da manhã, Erina externou que ela ansiava por encontrar um nobre para ser seu próximo noivo. Eu a relembrei que seu primeiro noivo, Zacarias, também era um nobre, mas ela falou que deseja conseguir mais poder, então mais uma família aliada a ela nunca é demais. O que é curioso, pois, mesmo sendo uma dos dezoitos filhos de seu pai, Erina estava longe de ser socialmente vulnerável. Isso é que é ambição, hein!
Após nossa refeição, fomos rapidamente até a estação de trem. O trem estava prestes a fazer seu desembarque, então não perdemos a chegada dos alunos. Como se fosse um evento de celebridades, Erina e eu observamos com atenção, para não perdemos nenhum detalhe. O aglomerado de alunos desceu do trem, das mais distintas idades, espécies, origens e tamanhos. Humanos, fadas, elfos, anões, pessoas-fera… uma variedade de se dar inveja. A prova viva do alcance e influência da Academia Avalon.
Erina e eu fomos nos encostar em uma parede, com o intuito de ver melhor os alunos enquanto não bloqueávamos o caminho. Em meio a um cenário tão vivido e detalhado, confesso que me dispersei um pouco, mas logo fui posta de volta ao foco graças a uma leve cotovelada de Erina.
- Mulher, – Ela me sussurrou – Olha o loirinho que vem aí!
Olhei para a direção que os olhos da minha amiga sugeriam e vir se aproximando um garoto de mais ou menos nossa idade. Seus cabelos eram loiros, de um tom menos vibrante do que o de Erina, e seus olhos eram de um azul gélido. A forma que seu uniforme e cabelos estavam arrumados, me davam a impressão de que ele era um nobre – ou no mínimo, que veio de uma família rica. Ele passou diretamente por nós, sem ao menos notar que estava sendo observado por mim e devorado pelo olhar da Erina.
- Bingo!
Erina exclamou do nada, deixando claro que seu alvo agora era outro. Sem demora, ela ergueu o seu dedo indicador, sorrindo com astúcia. Ela iria fazer um feitiço. Quando eu me virei para encontrar aquele que era seu alvo, tudo que eu pude ver foi os óculos de um rapaz saindo rapidamente de seu rosto e pousando diretamente em minhas mãos!
- Ei!
O rapaz exclamou com raiva. Erina pegou uma outra bolsinha de dinheiro que ela tinha guardado e colocou no bolso externo do meu casaco e sussurrou no meu ouvido:
- Vai que é tua!
E me deixou lá, com os óculos de outra pessoa nas minhas mãos!
Em que espécie de furada você me meteu, Erina?!!!!
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