O café da manhã havia sido incrível, apesar das declarações da Erina de que eu “não podia ficar entre ela e John”. Após a refeição, já podíamos ver pela janela os primeiros edifícios da cidade de Norwill. Agora era só esperar menos de meia hora. Neste tempo, arrumamos as nossas camas e nossas malas de mão, garantindo que não nos esqueceríamos de nada. Após isso, ficamos imaginando como seria nossas vidas na Academia Avalon.
Erina já se imaginava com o uniforme e participando das aulas práticas. Ela até se questionou se haveria clubes para entrar e, se sim, ela iria para um clube de esgrima ou de natação, mas eu acho que ela iria direto para o de natação e só falou do de esgrima para parecer menos tarada.
Quanto a mim, acho que vou me dar bem na academia. Eu gosto de ler e, como eu geralmente ensino o que eu aprendo para a Erina, eu vou conseguir estudar bem. Pelo menos, na média eu me garanto! Quanto às aulas práticas, por mais que eu me exercite regularmente, provavelmente eu não vou ter o melhor condicionamento da turma – acho que nem o segundo melhor –, mas eu sei que minhas habilidades de cura vão ser a sensação! Eles só precisarão perceber o quão as minhas habilidades facilitam o combate e vão me rodear como filhotinhos! Em relação a possibilidade de ter clubes, seria legal ir para um clube de leitura e escrita ou algo do tipo. E bem que a gente poderia criar histórias para publicar. Seria a antologia do clube!
Sem que pudéssemos perceber, já havíamos chegado na estação de Norwill. O tempo voa quando se está fantasiando! Sem mais delongas, Erina e eu pegamos nossas malas e desembarcamos. Adeus, vagão particular! Sentirei saudades do seu requinte! O resto das malas, que em sua maioria eram de Erina, iriam ser entregues na academia, deixando-nos apenas com as nossas malas de mão. Olhando ao redor, eu não encontrei alunos novos, para a minha surpresa. Talvez o trem que eu e minha amiga pegamos tenha um itinerário diferente do trem usado pelos demais estudantes.
Procuramos por John, mas não o encontramos. Provavelmente ele se atrasou. Para não ficarmos cansada enquanto esperamos por ele, eu sugeri que sentássemos nos bancos da estação.
- Onde será que o John está agora? – Erina perguntou, olhando de um lado para o outro ansiosamente.
- Ele deve estar a caminho, ele sabe do itinerário – Expliquei – E tem mais! A irmã dele sou eu! Eu é que devia estar tão ansiosa, não você!
- É porque, em um futuro próximo, seremos legalmente parte da mesma família. Não sei por que você é contra a eu ser sua cunhada!
- …Só deixe meu irmão em paz, tá bom?
Eu sei que ela só está falando isso pra me provocar, então não tem porquê peitar. Por hora, eu sei que ela não fará nada além de provocações que provavelmente John não entenderá, mas não tem garantia do que ela fará no futuro. Quer dizer, já se passaram cinco anos e ela ainda teima em pegar o John! Será que, mesmo que o harém dela fique imenso, ela ainda irá insistir nele?…
Do nada, Erina soltou um longo suspiro.
- Aaaaaaahhhh… é uma pena que tenhamos sido as únicas alunas a chegar agora…
- É isso que dá usar um trem com itinerário diferente só porque ele é mais chique! – Eu ri em resposta. Eu não estava insatisfeita com a viagem. Era um vagão particular, pelo amor da Deusa! Estar com Erina me aproximou de luxos que eu jamais teria contato na vida passada.
- Eu já queria avaliar os boys hoje! – Ela cruzou os braços e fez beicinho, como uma criancinha emburrada.
- A gente mal chegou e você já quer procurar membros pro seu harém?! Tenha paciência, mulher!
- E quem disse que eu estou procurando para mim? Estou avaliando para você! Eu já iria procurar boys de óculos ou de cabelo comprido ou os dois para adiantar o seu lado! – Ela falou como se eu tivesse implorado para ela procurar – Vem cá, qual é a prioridade? Cabelos compridos ou óculos?
Erina havia se aproximado de mim provocantemente, sem nem perceber que alguém estava se aproximando.
- Do que vocês estão falando?
Nós olhamos para havia feito a pergunta. Um jovem de uns 19 anos, que estava bem vestido apesar da simplicidade de sua vestimenta, de cabelos âmbar e olhos escarlates. Não importava o quão humilde ele se mostrasse em sua aparência, sua beleza iria sempre ser estonteante. Esse era ninguém mais, ninguém menos que meu irmão mais velho, John Phenis.
- “Cabelos compridos”? “Óculos”? Estão falando de uma nova tendência de moda?
Ele respondeu com tamanha inocência que, mesmo ele já tendo 19 anos, não tenho coragem de pervertê-lo. Parece até um crime! Tenho que pensar em uma desculpa e logo!
- Ah, John! Er… a gente—
- JOHN!
Sem mais nem menos, Erina pulou do banco e se jogou aos braços de John, abraçando-o. Menina abusada! O irmão é meu e é ela que vai abraçando ele! Cadê sua etiqueta, mulher?! Você é menina de família!
- Há quanto tempo! – Ela se soltou do John, com o seu sorriso mais radiante.
- Sempre me esqueço que a família Banloros é muito mais inclinada a cumprimentos físicos… – Meu irmão esfregou a nuca, um pouco desconcertado, mas manteve uma conduta educada perante ela – como tem estado, Senhorita Erina?
- Bem melhor agora… – Ela suspirou. Provavelmente ela deve estar pensando algo como “A cada vez que eu o vejo, ele fica mais bonito!”
Levantei-me do banco e os olhei. Uau! Isso ficou estranho rapidinho. Erina realmente bagunçou a ordem das coisas. Não era pra irmã ser a primeira a cumprimentar? Agora eu tô sentindo que eu tô segurando vela pra esses dois--
- Vem cá, Amaris!
Sem qualquer aviso prévio, John pegou meu braço e me puxou para um abraço. Como ele se mexeu tão rápido? Eu nem vi!
- Você reencontra seu irmão e nem vem abraçar ele? Não me diga que você ficou fria porque tá mais velha! – Ele falou na brincadeira.
Eu me preocupei a toa. O John não me faria sentir que tô segurando vela.
- A temperatura aqui é um pouco mais fria. Eu é que devia estar perguntando se você esfriou! – retribui a brincadeira e o abracei de volta – É bom te ver de novo, maninho!
- Também é bom te ver, Amazinha! – John finalmente me soltou. Eu não lembrava de ele ter um abraço tão firme, mas também eu me acostumei demais a fase pré adolescente dele – À propósito, parabéns por ter sido aceita na academia! Eu estou muito orgulhoso!
Ele afagou minha cabeça. Ele sempre foi assim, tão afeiçoado? Ou será que a distância deixa as pessoas mais afeiçoadas? Ou vai ver é coisa da idade…
- Você já me parabenizou quando a carta de admissão foi enviada… e em todas as outras cartas para organizar minha vinda aqui… mas obrigada, mesmo assim! – eu respondi, um pouco sem jeito.
- Pode me parabenizar mais, que eu aceito! – Erina comentou, obviamente buscando a atenção de John.
John riu do comentário de Erina. Está óbvio que ele não a vê como uma possível namorada no futuro. Por mais que Erina queira algo mais, acho que ela vai ter que se contentar com ser a amiga da irmã do John.
- Bom, vocês duas devem estar cansadas de andar de trem esse tempo todo. Eu irei carregar a suas malas até os dormitórios do colégio. – John se ofereceu, cortesmente. Quando ele foi até o banco pegar as malas, ele ficou surpreso com a quantidade – Uma mala da Amaris e… apenas duas da Senhorita Erina?
- É que eu já mandei entregar o resto das bagagens para os dormitórios. – Erina explicou, sentindo-se uma mulher por já ter cuidado da bagagem de antemão.
- Que bem preparada! – John a elogiou. Em seguida, ele pegou a minha mala que, por ter a possibilidade de ser carregado como uma mochila, ele a colocou em suas costas e as malas de Erina ele pegou uma em cada mão – Agora, sigam-me. Levarei vocês aos dormitórios e vocês poderão ver a cidade! – ele dirigiu sua fala a mim – Eu acho que você vai gostar da cidade! Quanto a Senhorita Erina…
- Eu confio no seu gosto! – Erina declarou.
- Nesse caso, – rapidamente fui ficar ao lado direito de John – vamos logo! A cerimônia de entrada é amanhã, né? Você deve estar atarefado. E ainda você combinou de nos levar para almoçar mais tarde.
- Opa, almoço? – a menção da palavra “almoçar” deixou Erina animada e logo ela se posicionou ao lado esquerdo de John – Vamos, vamos!
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