À noite, alguns burgueses e nobres que moravam em Sintra ou em cidades próximas se dirigiram para a Fazenda Campos, que estava iluminada e linda no meio do céu estrelado.
Um desses burgueses era Fabricio Seixas, um ferreiro e comerciante conhecido na região. Além de produzir armas metálicas feitas especificamente para magos e bruxos, também comercializava produtos mágicos ou artefatos raros.
Trajando roupas coloridas, estava acompanhado de sua esposa Cláudia Camargo Seixas, e seus filhos, Carlos e Diego, ambos de 15 anos, pois eram gêmeos. Eles eram muito parecidos, o que os diferenciava era o tamanho (Diego era menor) e os penteados (Carlos usava o corte militar e Diego, asa delta).
Ambos não queriam vir para tal evento. Primeiro que Fabrício falou que iria apresentar para eles suas pretendentes, só que Carlos namorava escondido uma moça. Segundo, a festa seria basicamente um evento político: vários nobres e burgueses iam, e a probabilidade de haver acordos de vassalagem e suserania era enorme. Por isso os gêmeos rezavam para que tudo desse errado.
Infelizmente, deu tudo certo e a Família Seixas chegou na Fazenda Campos.
-Carlos e Diego, - advertiu Fabrício, passando a mão pela sua barba negra - não quero vós se metendo em confusão, hein?
-Sim senhor - responderam os dois.
-Cumprimentem e conversem um pouco com os outros convidados - ordenou Claúdia - Mas voltem para conhecerem suas pretendentes.
-Ok - e ambos entraram.
O grande salão estava iluminado por lustres no teto e castiçais na parede, além de uma extensa mesa com alimentos. Várias pessoas vestidas lindamente conversavam em grupos ou se serviam na mesa.
-Vai ser chato - reclamou Diego.
-Só espero que a minha pretendente seja legal - comentou Carlos - Porque daqui dá pra sentir o clima chato dessa festa.
-Vamos meninos, entrem - empurrou Fabrício, aparentemente irritado.
O dueto entrou e foi cumprimentando as pessoas ali presentes.
-Ei, - chamou Diego - olha ali - do lado direito da mesa, os pais dos garotos conversavam com duas meninas.
-Quem são elas? - indagou Carlos.
-A primeira - apontou para uma delas, que usava vestido verde - é filha de um conde. Já vi ela por aqui. O pai dela tem uns acordos com guildas e corporações e manda os filhos pra dar uma supervisionada mensal.
-E a segunda?
-Nunca vi na minha vida.
Cláudia fez um sinal discreto - mas visível para que ambos se aproximassem.
-Filhos - pronunciou a mulher - Estas são Margarida de Lima, filha do Conde de Atouguia João Gonçalves de Ataíde - apontou para a de vestido verde, e movendo o dedo fino para a segunda moça, que tinha vestido vermelho - E essa é Rita Medeiros, neta do dono da corporação de ofício dos artesãos de Loures.
-Boa noite - disse Diego, tentando disfarçar o descontentamento. As duas eram filhas de pessoas importantes, então com certeza, ele teria que se limitar a falar de coisas sem-graças envolvendo política e dinheiro.
-Olá, - falou Rita, com um sorriso tímido. Cláudia e Fabrício se afastaram para conversar com os pais de ambas as garotas.
O quarteto começou a conversar animadamente. Os garotos elogiavam as roupas das garotas.
-Gostou, sr. Carlos? - perguntou Margarida.
-É muito bonito essa cor verde - elogiou ele. - Qual o tecido?
A conversa continuou e graças às habilidades de comunicação de Carlos, Diego conseguiu fingir que não sabia levar uma conversa muito adiante, e Rita optou por ficar na conversa de Margarida e Carlos. Diego apenas se afastou e foi para uma varanda lateral. Chegando lá, porém, viu um casal conversando.
-Oh, me desculpem - pronunciou, envergonhado - Não queria atrapalhar a conversa do casal.
O dueto riu.
-Não somos um casal - disse o garoto, que aparentava 20 anos.
-É que vocês estão com roupas combinadas - comentou Diego.
-Culpa dela - apontou para a moça. - A propósito, me chamo Gabriel, e ela é Valentina. Somos do bando do Sobreiro.
Gabriel usava um terno azul marinho e uma calça de seda cinza-claro. Já Valentina utilizava um vestido azul marinho muito bonito com um decote nos seios.
-Já ouvi falar de vocês - disse animadamente Diego (“finalmente encontrei alguém realmente interessante”) - São os novos integrantes do bando.
-Sim - confirmou Valentina - Ontem fizemos nossa primeira missão.
-A do sátiro? Ah meu Deus, foi muito louca a narração que o bardo contou.
-Devo imaginar - disse Val - É muito bom ouvir as canções dos bardos. Pena que não tenho muito tempo.
-Nem eu - Diego riu - Só consegui hoje pela manhã.
O trio continuou dialogando por um bom tempo na varanda, até que, de repente, gritos foram ouvidos. Ao entrarem na casa, os três estremeceram, alguns corpos ensanguentados estavam jogados no chão, formando uma espécie de barreira em volta de um homem. Suas vestes estavam tingidas de vermelho e seu olhar era de um maluco.
-É Felicio, filho de Benedito Campos! - exclamou atônito Diego.
-Ele está endemoniado - disseram juntos Gabriel e Valentina.
Margarida Lima: filha do conde Ataíde João Gonçalves de Ataíde e esposa de D. Henrique de Menezes. Nesta história, ela é prometida à Carlos.
Loures: cidade portuguesa próxima de Sintra.
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