Outro Karawaga?
Ele não é filho do Grande Mestre aposentado, então pode ser que seja menos habilidoso que Mine.
Olhem, o professor de Ouro está caminhando com o novato.
“Inspire... expire...’ Mine murmurava para si mesmo enquanto passava pelas pessoas com seu primo ao lado.
Os olhos de Mine fitaram cada lábio sussurrante, olhos julgadores e boca retorcida pelo caminho. Sem aulas naquela tarde, Mine decidiu acompanhar seu primo até a Arena de Treinos. Seus alunos imploraram para que ele os deixasse ir a uma Conferência em outro setor da dimensão mágica – e que duraria uma semana – prometendo trazer relatórios das palestras e oficinas. Mine, cético como sempre, cruzou os braços e pediu para ver a inscrição de cada um dos alunos e se iriam apresentar trabalhos ou não como forma de se convencer em deixá-los ir. Foi uma árdua vitória dos alunos que foram saltitantes para a Conferência.
Mashitsu, por outro lado, já estava tão livre quanto um vagal desde o dia que foi para a casa de Mine. Não que ele não estudasse ou trabalhasse nos jardins de Mine – que ele insistiu em arrumar – mas a sua rotina era bem menos atarefada que Mine, que chegava em casa só o pó e dormia assim que terminava o jantar que seu primo fazia.
A mente de Mashitsu, naquele momento enquanto ele andava, estava tão vazia quanto a dos passarinhos que batiam a cabeça no vidro. Enquanto isso, a mente de Mine só não saia fumacinha pois ele acabou se distraindo com os outros candidatos que passaram do seu lado que carregavam alguma coisa em mãos.
Cada candidato tinha seu amuleto da sorte – um lápis de cor, uma pulseira, um brinco, um brinquedo de pelúcia, um casaco, uma blusa – entre outros itens que carregavam consigo. Mashitsu estava com o saquinho de ervas que sua mãe fez que cabia na palma de sua mão e que seu pai pintou o selo no centro com uma tinta preta e vermelha.
Olhando de uma outra perspectiva, os candidatos ora pareciam um grupo preparado para a batalha ora eram como um grupo pronto para a inevitável derrota.
"Primo, cê não tá nervoso?" Mine perguntou, observando o quão relaxado seu primo parecia estar.
"Nah, tô bem de boa,” Mashitsu sorriu despreocupado. “Eu estudei bastante e Zuroke me deu uma mão ontem... então tô bem confiante!”
Mine soltou um suspiro de alívio e um sorriso desenhou seus lábios. “Bem, eu gostaria de ter seus olhos.”
“Ah, aqui estão os documentos gerais dos candidatos”, Mashitsu se aproximou da parede encantada perto da arena. “Olha, tem menos candidatos.”
Os nomes foram riscados em vermelho de forma bem grosseira. Originalmente, havia cinco colunas com cerca de dez alunos cada, mas os candidatos foram ser resumidos em apenas duas colunas.
“Eu sei que a parte prática não é fácil..., mas essa evasão é absurda,” Mine murmurou, esfregando o queixo.
“Isso significa que preciso trabalhar duro se eu passar,” Mashitsu se animou e seu crachá brilhou levemente. “Oh, eles estão prestes a chamar meu nome.”
“Então vem aqui para eu te dar algumas dicas!” Mine sorriu, arrastando seu primo para um banco mais próximo.
Eles não foram os únicos a revisar algumas coisas antes da prova, já que os demais candidatos formaram grupos, duplas e trios – e alguns até estudavam sozinhos – para uma brevíssima revisão ao modelo Juscelino Kubitschek (cinquenta assuntos em cinco minutos, no caso). Uma minoria esperava a sua vez como se tivesse sido desligado, observando as árvores, o vento... ou fazendo nada mesmo, enquanto um outro grupo orava com seus amuletos em mãos.
Próximo, candidato nº 12930.
Mashitsu começou a sentir suas mãos ficando mais frias.
Próximo, candidato nº 30942 e candidato nº 09348.
Os outros candidatos sentiram um frio na barriga.
Próximo, candidato nº 30494.
Mashitsu começou a se dispersar na revisão, mas terminou o último tópico.
Próximo, candidato nº 2033-
Mashitsu e Mine congelaram.
Desculpe, era o candidato nº 39485.
Mashitsu e Mine suspiraram aliviados, porém, Mashitsu não conseguia mais revisar nada.
“Primo, estou tão nervoso que poderia cagar nas calças,” Mashitsu suava frio e suas mãos diziam que seu nervosismo estava mais do que presente.
"Não esquenta. Venha aqui, vamos fazer o que minha irmã me ensinou uma vez,” Mine estendeu suas mãos para seu primo, que as pegou. “Agora... inspire... espere um segundo... depois expire.”
Mashitsu seguiu as instruções e orientações de Mine, meio trêmulo e meio tenso, mas ele tentava mesmo assim. Suas mãos eram maiores que as de Mine e estavam mais calejadas por causa dos dias no campo e das noites de caça aos gnomos com seu pai. Antes quentes, as mãos de Mashitsu ainda estavam frias, então Mine começou a aquecê-las com suas mãos menores e delgadas tal qual ele fazia quando eram crianças.
Cuidar do primo mais novo o lembrava das noites em que o barulho das corujas assustava o pequeno Mashitsu, que corria para a cama do primo mais velho no chão. Ele se escondia nos lençóis e rapidamente se encolhia em Mine, assustando-o e atrapalhando o sono de seu outro primo, Zuroke, que era pisoteado. Mine acordava confuso, afagava a cabeça de um Zuroke resmungão para voltar a dormir e arrumava Mashitsu para ele dormir confortavelmente e encolhidinho.
Enquanto Zuroke era o primeiro a cair no sono novamente, Mashitsu ainda tremia com o barulho das corujas e murmurava para Mine que estava morrendo de medo. Mine, então, sorria – meio embargado de sono e meio acordado – e dizia palavras bonitas, distraindo seu primo dos ruídos vindos de fora.
Mine costumava a iluminar o teto com estrelas de Mana que Zuroke uma vez o ensinou e as faziam brilhar levemente. O garotinho de cabelos cor de fogo fechava seus olhos lentamente até cair no sono e acordar só no dia seguinte com Mine de um lado e Zuroke do outro, ambos o abraçando como se ele fosse uma pelúcia.
O som de passos no cascalho próximo fez com que Mine voltasse o olhar para a origem do barulho, mas não havia nada ali, e outro som preencheu e abafou a conversa das outras pessoas.
Próximo, candidato nº 20335.
“Ah! Sou eu!" Mashitsu exasperou.
“Boa sorte, primo!” Mine sorriu. "Fique calmo. Dona Hera e Lydia são professoras legais,” ele aplaudiu.
“Obrigado,” e Mashitsu finalmente sorriu novamente.
E assim Mashitsu foi até a entrada da arena, sendo revistado, e foi autorizado para entrar na arena. Antes de desaparecer da vista de Mine, ele levantou o polegar e sorriu, o que fez seu primo rir e ficar menos ansioso por ele.
Sentado no mesmo banco em que estava anteriormente, Mine suspirou profundamente e começou a ponderar onde estariam os candidatos após as avaliações, já que nenhum dos que entraram saiu pelo mesmo portão. Mas, antes que ele pudesse se levantar, algo se aproximou e deixou uma sacolinha de papel a seus pés – o que o fez dar um pulo.
“Miau,” a coisa que se aproximou miou.
“...Umbra?!” Mine reconheceu a gato (em mais um encontro aleatório!). "E o que é isso?" ele pegou a sacolinha de papel do chão.
A sacolinha era pequena e parecia cheia, tanto que o que quer que estivesse ali dentro havia deformado parcialmente seu formato retangular original. Mine levemente balançou a sacola e ela fez um barulho de que havia mais de um item dentro e eles pareciam se pequenos.
Intrigado, Mine sentou-se novamente e colocou o pacote em seu colo enquanto Umbra o observava ansiosamente, como se esperasse por algo.
“… oh,” ele articulou, sua boca formou um ‘o’ enquanto ele abria a sacolinha de papel.
Biscoitos. Eram biscoitos.
Eles tinham tamanhos, aromas e cores diferentes uns dos outros.
Alguns tinham granulado por cima, outros eram lisos e – um em específico – foi objeto de teste de uma tentativa ambiciosa de colocar geleia de morango como decoração... e parecia ter dado mais do que certo!
O cheiro da farinha assada com manteiga e açúcar permeou as narinas de Mine, que logo fez com que suas papilas gustativas recebessem a mensagem de que esperavam por algo. Mine, então, pegou um dos biscoitos e retirou-o da embalagem com uma fitinha rosa, dando uma generosa mordida no doce logo em seguida.
Era um biscoito de chocolate com caramelo salgado por cima. O sabor era intrigante, mas quem o fez sabia muito bem o que estava fazendo. O amargor do chocolate, a doçura dos poucos grãos de açúcar cristal polvilhados por cima e o leve salgado do caramelo colocado num fio por cima do todo se complementavam.
Ainda assim, Umbra observava Mine com a mesma expressão de quem queria alguma coisa e seus bigodes se contraíram cada vez que ele movia o biscoito de um lado a outro.
“Eu não posso te dar um pedacinho,” Mine riu, “eles são venenosos pra você,” ele acariciou as orelhas de Umbra, que ronronou ao toque.
Depois, Mine pegou o próximo sabor entre as diversas opções: tradicional com chocolate granulado por cima. A crocância do granulado complementava a massa macia e aveludada. O sabor estava dentro do esperado, então Mine ficou muito satisfeito com o resultado do confeiteiro misterioso.
Mas algo ainda não encaixava nesse evento aleatório.
Onde Umbra achou aquele pacote?
Já voltando de sua viagem de sabores (tal qual o Remy de Ratatouille), Mine fitou a gata e engoliu seco o biscoito. “Umbra, de onde você... você os roubou?!” Mine suou frio e a gata apenas miou em uma determinada direção um pouco perto dali.
Na direção que ela miava em tom jocoso, uma pessoa apareceu do nada e Mine deu uma breve estremecida quando sua voz ressoou primeiro que sua aparição.
“Finalmente encontrei você!” a pessoa veio na direção de Umbra, que estava o fitando com bigodes e olhos tristes. “Eu juro que uma hora eu vou ficar mais doido do que já sou! Meu coração, Umbra! E olha- olha meus braços!” a pessoa repreendeu a felina ao mostrar seus braços todos arranhados.
“Miau...” a gata fechou seus olhos como se estivesse profundamente arrependida – ou apenas evitando mais problema.
Mine piscou algumas vezes enquanto fitava a pessoa. Ele conhecia aquela pessoa muito bem e o mesmo cheiro de biscoito que ele sentia da sacola, estava permeando aquela certa pessoa que segurava a gata (incomodadíssima) em seus braços.
“Addai?” Mine fitou-o.
Addai arrepiou e lentamente voltou seu olhar para Mine. “...” mas nada saia de sua boca.
Seus olhos se encontraram. Mine arregalou-os. Addai também os arregalou.
M-merda. Addai suou frio.
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