Nas redondezas do castelo havia uma enorme floresta e lá vivia uma velha senhora, histórias contam que quando jovem era uma moça bastante bela que atraía olhares de todos, inclusive da realeza, porém tanta beleza havia atraído também uma fera terrível que a levou para longe de todos.
Muitos anos depois, quando o povo a esqueceu e seus pais já haviam partido, ela surgiu como uma mulher sem beleza e juventude, dizendo que o dragão havia a devolvido para casa.
O dragão a trouxe de volta, mas infelizmente, após tanto tempo, sua casa já não existia mais.
Sendo tratada como louca por todos, ela vagou pelo reino em busca de um lar até que encontrou a floresta, lá se instalou e passou a viver tranquilamente.
Isso até o dia em que abrigou um pobre menino que fugia de um temporal.
Sem saber de quem se tratava ela o criou por dias como se fosse um filho. Ela compartilhou com ele todo o tempo que viveu com a fera, claro que disfarçando muitos fatos pois era uma simples criança, mas ele desde o primeiro relato ficou encantado com suas histórias. Porém em uma tarde, guardas reais vieram em sua porta procurando pela criança, naquele instante ela descobriu quem ele era, durante todo o tempo o pequeno garoto era o príncipe de Nova, o Infante Austros.
Entretanto, ela não esperava que o príncipe retornasse para sua casa todas as tardes para ouvir mais sobre o temido dragão e muito menos que futuramente, ele fosse em busca dele.
— Me diga que ouvi errado. O que você vai fazer, Austros? — não era preocupação, era apenas surpresa.
A visita do príncipe não era mais costumeira, as tarefas reais tomavam muito tempo e mesmo que Austros não se importasse com a maioria delas havia outros assuntos que apenas ele poderia resolver. E bem naquele fim de dia quando Genovina, a senhora benquista, recebeu sua visita logo ela soube que ele faria algo grandioso.
Mas nunca imaginou que fosse envolver o famoso dragão de Pinyekit.
— A senhora não ouviu nada errado. — Austros estava de pé no centro da sala, havia chegado em instantes apenas para lhe contar sua aventura particular — Eu vou capturá-lo e guardá-lo como um troféu em meu palácio! — inflou o peito com propriedade, ninguém negaria toda a confiança que ele transmitiu ao dizer isso.
Bem decidido, ele pouco se importava com qualquer preocupação da mulher aquela altura, ela provavelmente lhe daria conselhos e advertências sobre o assunto e ele estava a par de tudo.
— Vocês se parecem em algumas coisas. Pela idade minha memória se tornou vaga mas lembro-me que uma vez ele disse algo como; A raridade deve ser apreciada apenas por quem tem o dom de apreciar. — Genovina riu ao relembrar todo o contexto por trás daquilo, ela omitiu boas histórias para Austros pois haviam coisas que devia manter por baixo dos panos ou até mesmo levá-las para o túmulo se necessário.
— Até concordaria se não fosse um dragão a ter dito isso. — Austros bravejou e outra vez Genovina riu, pelo tempo que passou com o dragão podia pressentir o
diálogo catastrófico dos dois ao se encontrarem.
Austros sendo impulsivo não esperaria por menos de um minuto para empunhar a espada e partir para o ataque, já o dragão… bem, ele devia se preocupar.
Genovina conhecia muito bem a capacidade de Austros e não negava a preocupação para com seu longo confidente na juventude.
O homem em sua casa não dava indícios de que desistiria e para ela só restava lhe informar o que muitos sabiam mas nunca conseguiram ver.
— Sente aqui, Austros. Vamos conversar um pouco. — Genovina o convidou para a mesa, tentaria fazer um chá para acalmar a criatura inquieta que era aquele homem.
— Deixe o melhor para o final, a senhora não sabe como estou me segurando para não ir a Pinyekit agora mesmo. — ele disse sorrindo com sinceridade e também ansioso com o que viria a ouvir. Porém Genovina apenas o desaprovou, a criação que o Duque tinha dado para ele era um enigma até o momento, Austros vivia de absurdos.
Os dois deram alguns passos até a mesa de jantar, o príncipe sentou em uma cadeira qualquer enquanto Genovina foi averiguar se o preparo do chá era possível, ela havia colhido algumas ervas pela manhã e por sorte não estavam murchas. Bem, agora só restava fazer o fogo.
— Como você pretende chegar em Pinyekit? — lá do fogão ela perguntou.
— Vou pagar alguém para me levar, comprarei um mapa ou um guia. Não vou gastar meu tempo pensando muito.
— Mesmo que ainda não tenha se preparado para a viagem já está no rumo certo. Eu indicaria uma viagem de carroça até a entrada de Pinyekit e a partir dali seguir em frente. De qualquer modo, não há guias para Pinyekit, digo, não há guias humanos. — Austros logo direcionou toda sua atenção para a Genovina.
— Explique-me isso!
— Lá existem muitas criaturas que podem se comunicar com humanos e todas elas sabem onde o dragão vive. Austros, você nunca se perguntou porque ninguém encontrou o dragão até agora? Eles possuem mapas para isso!
— Os mapas são falsos?!
— Eles não eram falsos até o dragão invalidá-los. Ninguém em várias campanhas teve a curiosidade de me perguntar algo sobre ele, sempre me julgaram como louca! — ela balançou a cabeça inconformada, pensou um pouco e percebeu que com Austros teria a chance de fazer a diferença. Ela não odiava o dragão, na realidade gostou muito do tempo em que viveu com ele, porém foram anos de vida perdidos. Uma criatura milenar não entenderia a percepção de tempo humana. Aquela jovem capturada teria o mesmo destino infeliz e solitário que ela teve, e ela não deixaria isso acontecer.
— Ele é sagaz e precavido, e também é meio humano!
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