Envolto em uma rotina de aula após aula, treino após treino, Alexander foi passando a semana focado em melhorar o máximo suas notas em todas as matérias que estudava. Nos dias subsequentes, ele preencheu seus horários vagos em atividades extracurriculares buscando notas extras. Após terminar seu dia, Alexander volta para o seu dormitório. depois de subir todas as escadas e chegar até a porta de seu quarto, ele nota a porta apenas encostada, sem estar trancada. Ele lentamente abre a porta.
"Olá?", ele fala apreensivamente.
Após abrir a porta até a metade do vão, ele com calma olha de canto de olho para dentro do quarto, encontrando o local vazio. Ele chega melhor em todos os cantos e, após confirmar que o local estava vazio, entra, fechando e trancando a porta em seguida. Ele logo vai até seus pertences para averiguar e, após mexer um pouco, confirma que tudo estava ali. Ele puxa a cadeira da escrivaninha e se senta, relaxando na cadeira.
"Acho que o Ricardo deve ter deixado aberto, vou ter que dar uma bronca nele", murmura All enquanto se espreguiça e joga seu corpo para trás, se "derramando" sobre a cadeira.
Enquanto olhava pela janela o pôr do sol em silêncio, All começou a bocejar e pegar no sono ali mesmo, lentamente apagando. Sua mente era um enorme silêncio, enquanto lutava para manter os olhos fechados. Alexander escuta o que parece ser um grito de agonia ao longe, um grito de uma mulher, e antes que pudesse perceber algo, ele escuta a porta do quarto batendo e, como em um susto, levanta a cabeça recobrando a consciência e olhando para trás quase que instantaneamente, vendo Ricardo entrando no quarto. Seus olhos se cruzam.
"Chegou?", Alexander pergunta ainda meio sonolento e com a voz falhada.
"Não não, tô lá fora", Ricardo responde com sarcasmo.
"Besta", Alexander responde rindo.
"O que tu tá fazendo aí dormindo na cadeira?", Ricardo pergunta enquanto coloca sua bolsa sobre a cama.
"Eu estava te esperando para falar com você, e não estava dormindo", All responde coçando os olhos.
"Não foi o que eu vi quando abri a porta... Mas dada a hora, não me espanto", Ricardo retruca.
"Dada a hora? Nem é tão tarde assim...", Alexander responde meio confuso.
"Não está tarde? Já é quase 1 da manhã", Ricardo responde.
Alexander, ao ouvir isso, olha para a janela que há poucos momentos emanava a luz do entardecer e percebe a escuridão do lado de fora agora. Ele coça os olhos novamente e percebe que dormiu ali sentado. Ele se levanta e vai arrumar sua cama para ir dormir.
"Você falou que estava me esperando, o que foi?", Ricardo pergunta curioso.
"Ah, é, só para te pedir para ter um pouco mais de cuidado na hora de sair do quarto, você esqueceu a porta aberta", Alexander responde.
"Não, eu tenho certeza que tranquei a porta...", Ricardo fala seriamente enquanto para o que estava fazendo e olha para Alexander preocupado.
"Quando eu cheguei, a porta estava semiaberta, não tinha sinal de que foi arrombada e todas as minhas coisas estão aqui. E pelo que eu pude ver, as suas coisas também estão aí. Como eu sai antes de você, eu pensei que você tinha esquecido de fechar", All responde enquanto se vira apontando para a porta.
"Não, eu tenho certeza que tranquei. Eu sempre checo duas vezes antes de sair, é uma mania que eu tenho", Ricardo fala enquanto olha para sua chave na mão.
Os dois ficam se encarando por alguns momentos até que decidem dar mais uma olhada no quarto procurando algo suspeito. Após meia hora procurando, não encontram nada de anormal. Todos os seus pertences ainda estavam ali. Ambos decidem relatar aos supervisores no dia seguinte e decidem ir dormir. Alexander deita na cama e, por estar muito cansado, cai no sono quase que instantaneamente.
Alexander, com os olhos ainda fechados, começa a ouvir barulhos estranhos vindo do seu lado. Ao abrir os olhos, ele toma um susto ao se encontrar no meio de uma floresta, parado de pé no meio do nada. Ele rapidamente olha para todos os lados confuso, mas não vê nada além de árvores e vegetação. A hora não parecia ser nem de noite e nem de manhã, mas sim de um final de tarde. Ele começa a andar pelo lugar confuso, seguindo uma fraca trilha aberta levemente escondida pelo mato que tomava o local. Enquanto ele pode ouvir ao longe, à sua frente, barulhos estranhos, parecendo uma mistura de gritos com o som de fogo e grunhidos irreconhecíveis, ele acelera o seu passo pela trilha até que, em certo momento de relance, olha para o lado da trilha em uma área um pouco mais aberta entre a densa mata do local. Ele sente um forte gelo na espinha subindo lentamente, seu corpo se torna pesado e uma angústia o toma por completo. Seus olhos lacrimejam, ele estava lá, parado encarando uma macieira, uma simples macieira com algumas maçãs penduradas. Ele reconhecia a árvore.
Ele tenta falar alguma coisa, mas sua garganta parece completamente paralisada, sua boca não se mexe. Ele queria muito gritar, mas por mais força que faz, nenhum som sai. Seu ser está totalmente tomado por medo, angústia, desespero, aflição, enquanto encara a trilha à sua frente e ouve os gritos de lamúria que aumentam cada vez mais, tornando-se cada vez mais distorcidos e intensos. Sua expressão é completamente irreconhecível. Ele tenta mais que tudo no mundo se mover. A força que ele faz para tentar mover um único dedo é o suficiente para ele começar a sangrar por todos os orifícios possíveis. Ele sente um desejo incontrolável de correr em direção aos gritos. Seus olhos agora imersos em lágrimas e sangue desejam mais que tudo alcançar o final daquela trilha, e aos poucos, o que eram gritos ao longe agora são completamente ensurdecedores e horripilantes grunhidos de dor que parecem tomar completamente sua mente. Eles são tão altos que os ouvidos de Alexander estouram em sangue. A floresta está totalmente tomada por uma poderosa e infernal chama, a macieira ao seu lado se desmancha em cinzas enquanto cada centímetro do corpo de All queima até a pele começar a desgrudar e a carne viva começar a escurecer. Ele sente mais que tudo que está no inferno, está sendo castigado, quando de repente sente uma pressão forte em seu peito.
Alexander dá um forte pulo na cama, completamente desnorteado e ensopado de suor. Sua expressão é de terror misturada com confusão. Ele olha ainda atordoado para o lado, percebendo que está no quarto, e vê Ricardo extremamente preocupado o encarando.
“Cara... Tá tudo bem?”, Ricardo pergunta preocupado.
“Tá... Cof! Cof! Cof!”, Alexander tenta responder, mas assim que começa a falar, sente uma ardência na garganta e começa a tossir.
Ricardo corre até uma pequena mesa de canto ao lado da porta do quarto, onde se encontrava uma jarra com água. Ele pega um copo, o enche e leva até Alexander, que bebe em seguida.
“Eu acordei com uns sons estranhos e, quando vi, você estava se debatendo muito. Fiquei com medo”, Ricardo fala hesitantemente enquanto se senta na beirada da cama.
“Eu... Eu tô bem, só tive um sonho ruim”, Alexander responde ainda meio rouco.
“Um sonho ruim? Eu nunca vi nada do tipo... Quer que eu chame um supervisor para trazer um médico?”, Ricardo responde apreensivo.
“Eu tô bem, juro...”, Alexander fala enquanto se senta na beirada da cama.
Após falar com Ricardo, Alexander se levanta e anda até sua escrivaninha. Ele olha para a janela ao lado, onde vê os fracos raios do nascer do sol. Pega suas roupas sobre a cadeira e anda em direção à porta.
“Está indo aonde?”, Ricardo pergunta.
“Vou tomar um banho, não dá para ir para as aulas do jeito que eu estou”, Alexander responde enquanto caminha.
Ele chega até a porta, destranca-a e a abre. Enquanto saía do quarto, ele para repentinamente na porta, se virando em seguida.
“Ah! Eu tenho que fazer algo hoje cedo, então do banheiro eu não vou voltar aqui até de tarde. Você consegue ir falar com os supervisores sobre ontem?”, Alexander pergunta para Ricardo.
“Claro”, Ricardo responde rapidamente.
Alexander sai do quarto em seguida, fecha a porta e segue em direção dos banheiros. No meio do caminho, enquanto vira uma esquina, ele avista um rosto conhecido vindo em sua direção. Era Gustavo. Alexander acena para ele, Gustavo acena de volta.
“All! Bom dia... Tá indo onde tão cedo?”, Gustavo pergunta.
“Tô indo tomar um banho, tenho um treino especial com o pessoal do clube, esqueceu?”, Alexander responde.
“Caramba! Você tá todo suado, o que aconteceu? Correu uma maratona?”, Gustavo curiosamente pergunta.
“Não é que... Eu não tive uma boa noite de sono...”, Alexander responde, dando uma leve gaguejada enquanto desvia o olhar.
Enquanto Alexander falava, Gustavo nota ao fundo um movimento e, ao ver melhor, observa o companheiro de quarto de Alexander abrindo a porta e dando uma olhada em volta no corredor. Assim que seus olhares se encontram, Ricardo volta para o quarto. Gustavo para por um segundo, olha para Alexander, depois olha para a porta do quarto e volta a olhar para Alexander, fazendo uma expressão estranhamente engraçada.
“Hmm... Vejo que sua noite foi bem intensa... heheh”, Gustavo fala com um olhar e sorriso maliciosos enquanto dá um leve tapa no ombro de All.
Alexander olha confuso para Gustavo e para trás, voltando a olhar para frente, travando por um momento enquanto fica vermelho de vergonha.
“Nananana... Não é isso que você está pensa...”, Alexander começa a falar, gaguejando bastante, quando é interrompido por Gustavo, que põe suas mãos sobre o ombro de All.
“Tá tudo bem... Eu não tenho nenhum problema ou preconceito com isso...”, Gustavo fala seriamente, enquanto encara fortemente All.
Alexander começa a balbuciar e gesticular com as mãos, enquanto seu rosto fica cada vez mais vermelho. Gustavo começa a andar pelo corredor, deixando Alexander para trás, enquanto ri bastante internamente da situação.
“Acho melhor cancelar o treino de hoje, All. Não sei se você vai ter energia suficiente... heheh”, Gustavo fala, segurando o riso, enquanto caminha.
Alexander, que já estava todo vermelho, agarra suas roupas com força e começa a caminhar em passo rápido em direção ao banheiro, entrando rapidamente e indo direto para os chuveiros.
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