No dia seguinte, os dois amigos estavam só o pó, cansadíssimos.
Mine sentia uma terrível dor nas costas – especificamente na lombar por ter errado algumas poses no pole dance – e Lydia lutava para ficar acordada. Para a sorte da professora de Herbologia, ela não tinha aulas naquele dia terribilíssimo, mas ainda teve que cuidar de algumas plantas que surpreendentemente chegaram naquela manhã no Centro de Herbologia. O professor de Mana Puro, entretanto, tinha só mais duas aulas depois do tal duelo, mas seu cansaço estava tão pesado que ele começava a se sentir em algum videoclipe do Jack Stauber ou alguma coisa assim.
Tudo ora girava e ora ficava embaçado. Entre tropeços e piscadas bem espaçadas, ele caminhava na praça central – perto da fonte. Apesar do cansaço, seu orgulho falava mais alto para ele ganhar aquele bendito duelo a qualquer custo.
O dia estava calmo e o vento agradabilíssimo bagunçava os cabelos soltos de Mine, bem como suas roupas enquanto ele se aproximava da arena.
Ele estava bem... cansado...
Sentindo um peso irresistível nos olhos, ele piscou lentamente e, de alguma forma, foi teletransportado para a sala comum dos professores no prédio da Administração Principal.
“Hein?” Mine não deixou de dizer e olhar para seus arredores, confuso e com um peso indescritível no corpo.
Quando ele tentou se levantar, percebeu que o casaco de alguém o cobria por completo. Ele era pesado, mas também macio e cheirava muito bem, como Ylang Ylang misturadas com um toque de Musk e- ele não tinha tempo pra isso. Mine começou a olhar em volta e continuava se perguntando como que um simples piscar de olhos conseguia fazer tal mudança.
Ele levou uma mão para sua testa e sentiu uma dor aguda e um inchaço que apareceu do nada! “Ai...” Mine esfregou o lugar machucado levemente, ainda sentindo que aquilo ali estava lhe dando choques.
“Você acordou,” uma voz profunda e irritadiça se aproximou dele, já examinando a cabeça de Mine.
Mine conseguia sentir o mesmo cheiro agradável das vestes vindo daquela pessoa de silhueta familiar. A distância era um tanto... constrangedora e Mine começou a corar involuntariamente, ignorando a tontura que também sentia.
“Tsk,” a pessoa estalou a língua. “Deite-se, vou te acordar depois,” e aquele sujeito familiar lhe ajudou a deitar, cobrindo-o com aquele casaco.
Addai. De novo. Esse sujeito de novo. Será que só existia aquele rapaz na universidade inteira?
Porém... Mine, de alguma forma, sentia uma tranquilidade inexplicável com a proximidade daquele sujeito que, mesmo resmungando, terminava de passar na sua testa um algodão frio e embebido de algo que ardia.
“Estou retribuindo o favor, já que você me ajudou com os livros", ele explicou, colocando o algodão no lixo mais próximo. “Além disso, nada de lixo no chão, né?” provocou e Mine fingiu não ouvir a última frase.
“Você é uma raposa astuta...” Mine fechou os olhos, sentindo o cansaço invadi-lo como tsunami, mas a testa latejante dificultou seu sono.
“Seu grande ego não foi afetado pela queda, mas sua cabeça foi em cheio,” Addai deu mais uma resmungada e estendeu a mão.
A mão dele era quente e surpreendentemente delicada, contrastando com a indelicadeza de suas palavras ácidas. Na verdade, todas as ações de Addai estavam sendo bem diferentes do usual. Não que Mine estivesse reclamando, lógico que não, mas... isso era, no mínimo, bem intrigante.
“Por que você está fazendo isso?” Mine não deixou de perguntar, fitando Addai com olhos sonolentos.
“Eu já disse o porquê.”
Mine levemente ergueu sua mão para tocar na de Addai e, já delirando de sono, acomodou-a em sua bochecha. “Obrigado,” e Mine embarcou no trem do mundo dos sonhos.
Mine nem se tocou que havia completamente apagado! Ele até sentiu um fio de baba escorrer por sua bochecha e logo algo enxugou e meio que parecia o chamar diversas vezes tal qual um despertador chato. Então, Mine acordou confuso e resmungando.
“Tá melhor?” Addai perguntou, colocando o pano úmido ao lado.
“... sim...” Mine resmungou, cobrindo a cara com suas mãos. Talvez cinco minutinhos a mais seria perfeito...
“Que bom. Minha aula está prestes a começar e tratei do seu ferimento na cabeça,” Addai explicou enquanto pegava sua mochila. “Você não deve mais sentir dor hoje.”
Mine descobriu seu rosto e sentou-se no sofá. Tinha alguma coisa faltando para ser feita. “E o nosso duelo?”
“Nah, esquece isso,” Addai abanou a mão e girou a maçaneta da porta. “Ah, tem uma coisa pra você na geladeira.”
“O que-”
Antes que Mine pudesse sequer perguntar o que seria, Addai já tinha fechado a porta. Então, ele levantou-se e dobrou cuidadosamente o casaco que o cobria, colocando em cima da mesa com um pequeno origami de estrela em cima.
Apesar do comportamento de Addai ser um tanto incomum, Mine decidiu não pensar muito sobre isso e, em vez disso, dirigiu-se para a geladeira. Ao abri-la, encontrou uma fatia de bolo de morango da qual ele não iria resistir dar uma bela garfada nela. Aceitando a gentileza de seu colega, Mine sentou-se e saboreou cada pedaço da sobremesa perfeitamente feita.
Tudo o que havia acontecido era... estranho, ele ainda estava sonhando?
“Você é um saco, sabia disso?” Addai colocou Mine desmaiado no sofá como se fosse um saco pesado de batatas. “Vou indo,” e girou a maçaneta e quando pisou fora da sala... ouviu alguns murmúrios.
“Hm... não... não rouba meu pudim...” Mine protestou enquanto dormia.
Addai conteve a risada que cobriu o seu amargor usual e não percebeu quando uma sombra se aproximou de seu tutor adormecido. Ao ver a tal sombra, seus olhos arregalaram e ele disse para a sombra deixar Mine em paz, mas aquela figura sombria era um tanto teimosa.
“Umbra...” Addai chamou a figura que se transformou num gato preto de pelos longos e bem felpudos. “Tá bom... você é tão teimosa quanto ele,” ele resmungou e sentou-se perto da gata e de Mine.
De frente para o seu tutor adormecido, Addai cutucou sua bochecha e se inclinou para ver se ele realmente estava dormindo e, de fato, Mine dormia profundamente. Umbra subiu no peito do “belo adormecido” e aninhou-se ali, já começando a ronronar enquanto seu dono a encarava, incrédulo.
“Não acredito,” Addai fitou sua gata. “Você gostou dele?!”
“Miau,” Umbra miou baixinho, amassando pãozinho no peito de Mine.
Seu dono colocou a mão na cara e suspirou profundamente. Quem diria que sua gata ia forçá-lo a tratar dos ferimentos de Mine? Tá, Addai não conseguiu impedir que Mine se esborrachasse no chão e fizesse um “tuc” com a cabeça no chão. Addai viu o tamanho do galo que ficou e da pequena comoção em volta dele e, quando ia sumir dali uma aluna o puxou para ajudar Mine.
Primeiro, a aluna e agora Umbra?
“... Por que você fez isso?” Addai cutucou a bochecha de Mine, que logo soltou um belo de um ronco que até assustou Umbra. “Pfffff... tá bom, tá bom... deixe-me ver sua testa.”
Addai riu baixinho e Umbra pulou em seu ombro, incorporando-se na sombra de seu dono enquanto ele afastou a franja de Mine para ver o galo roxo que já estava ali. Ele também esfregou o polegar na bochecha de Mine, sentindo a pele macia como pêssego e, enquanto amenizava o galo, Mine se aninhou na mão de Addai, compartilhando um pouco mais de calor.
Addai corou e seus olhos arregalaram de surpresa. “Tsk, bobagem,” ele franziu a testa e se afastou um pouco, ignorando o quão rápido seus batimentos cardíacos estavam.
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