UNIVERSIDADE LOCAL A
LOCAL: SALA DA DIRETORIA – 9:15am
A diretoria parecia um caos ― e a pressão entre os professores com as provas e as pilhas de folhas nas mesas eram prova disso. A ausência do diretor, sempre naquela época do ano, afetava todos os lecionadores. Muitas provas importantes eram aplicadas naqueles dias, e basicamente tudo tinha que estar bem organizado até a volta do diretor ― que estava em um congresso pedagógico.
― Definitivamente, se não se organizarem com os professores novatos, os alunos ficarão prejudicados. ― A vice-diretora Saeda Harada se pronunciou. (Sra. Harada. Cargo: Vice-diretora. Idade: 38 anos. Personalidade: Passional.)
― De início, vamos nos focar apenas nas provas. Já estamos com problemas de sobra, Sra. Harada!! ― Um dos professores se manifestou. (Prof. Hector. Cargo: Prof. de Matemática Aplicada. Idade: 39 anos. Personalidade: Austera.)
― Vocês se preocupam demais com as coisas!! ― (Prof. Angélica. Cargo: Prof. de Ed. Física. Idade: 25 anos. Personalidade: Extrovertida.)
― Claro que nos preocupamos! ― Prof. Hector se pronuncia. ― Mudança de professores de última hora, provas atrasadas e a viagem de última hora do Diretor! O que você acha, Sra. Angélica?
Aparentemente, ambos não se dão bem. A diretora apenas suspirou a fim de ignorar os dois.
― Depois dessas mudanças de professores meu trabalho dobrou! ― Sra. Harada.
― Bom, eu não senti diferença! ― Prof. Angélica.
― Sério que não sentiu, Angélica?
(Nota: Professores de educação física não aplicam prova.)
E lá estava os dois se engalfinhando novamente. Como de costume, eles não se davam tão bem.
― Se ao menos o diretor estivesse aqui… ― Sra. Harada se lamentou brevemente, percebendo a entrada do mais jovem na sala da diretoria. ― Bom dia, querido! Como foi a aplicação da prova?
― Olha quem voltou! ― Prof. Angélica acenou para quem entrava.
― Bom dia, professores! ― Petrus, Presid. do Grêmio Estudantil. Idade: 20 anos. Personalidade: Metódico. ― Não foi difícil. Apenas foi preciso um pouco de pulso firme com alguns alunos.
― Sua adaptação nessa escola é admirável! Gostaria que mais alunos fossem tão comprometidos quanto você. ― Sra. Harada suspira pesadamente pegando as provas que lhe foram entregues.
― Eu agradeço o elogio… ― Petrus continuou com uma das folhas em suas mão, percebendo que era a do garoto de antes: Fuyuki Hun. ― Sra. Harada… Se me permite, estou curioso sobre o aluno Fuyuki Hun, da sala 8 AB…
― Fuyuki Hun? Hum? O garoto dos piercings na boca? ― A Prof. Angélica o interrompeu de forma curiosa, enquanto Petrus confirmou com a cabeça. ― Ele nunca vai na minha aula. Na verdade, como minhas aulas são opcionais, ele mesmo é quem assinou o termo de não-obrigação. Eu até mesmo achei que ele não gostasse de mim no início.
(Nota: Alunos maiores de idade não são obrigados a fazer aulas extracurriculares como Educação física, finanças, culinária, etc. / Termo de não-obrigação são para confirmar no fim do ano letivo que o aluno não fará determinadas aulas.)
― Eu me lembro dele também. Ele é da turma de Estudos Gerais. No ano passado ele tirou ótimas notas comigo, mas esse ano ele definitivamente pode reprovar na minha matéria. E cá entre nós, não só na minha como em todos os professores da grade de estudos gerais. Mas, por que a curiosidade?
― Ele deixou a prova em branco. ― Petrus estendeu a folha, enquanto os professores se entreolharam.
― Deixe-me ver a prova dele, Petrus. ― Sra. Harada estendeu as mãos para alcançar o que o rapaz a entregava. ― Parece que nossos esforços com ele não estão dando resultado.
Enquanto os professores olhavam a folha, Petrus encarou-os novamente com uma feição de dúvida. Não havia entendido como um aluno tão “ruim” ainda estava frequentando as aulas.
― Como assim, Sra. Harada?
― Na última reunião, disseram que ele é um garoto difícil de se lidar. Além dele ser fechado demais. ― Prof. Angélica acabou soltando sem freios, o que fez os outros a repreender com os olhares e cutucadas.
― Bem… É complicado de se explicar, Petrus. ― Sra. Harada a corrigiu. ― Fuyuki é um bom garoto, mas, de uns anos para cá, o desempenho dele está pior a cada dia. Todos os anos, como de costume, são aplicadas nas turmas as avaliações neuropsicológicas. Nas provas escritas, enquanto as dos outros alunos vêm preenchida, a dele vem apenas com o nome e as questões em branco. Isso também acontece com frequência nas provas e exercícios. Já tentamos conversar com ele e a família dele quando ele ainda era de menor, mas é quase impossível contato com eles.
A diretora parecia pesar novamente em suas palavras e os outros professores concordaram. Ela então continuou:
― Ele sempre está nos evitando, então, nessas condições somos incapazes de ajudar. Não sabemos o que se passa na cabeça dele… Eu me pergunto como ele ainda não foi expulso pelo diretor.
― Talvez ele tenha medo de conversar com alguém ou se sinta inseguro, cheio de ira e incapaz de se controlar, ou até mesmo… Angustiado. ― Petrus se perdeu em seus sentimentos quando percebeu ser encarado. ― Sinto muito… É apenas o que eu acho…
― Não se desculpe, Petrus. Aprecio você, como membro do grêmio estudantil, querer conhecer mais sobre os alunos, mas, devemos reconhecer que a situação do Fuyuki não está mais em nossas mãos. ― Sra. Harada afirmou a fim de finalizar a conversa.
― Eu entendo, Sra. Harada. Eu agradeço as informações. Como líder do grêmio, reconheço a situação.
― Pois bem! Vamos apenas mudar esse clima e prossigamos a reunião.
Os professores voltaram às suas preocupações apenas ignorando a conversa anterior. Petrus, no entanto, ainda parecia curioso com aquilo.
“Você é mais interessante do que aparenta ser, Fuyuki Hun.” ― Pensou.
Desde que colocou seus pés naquela sala, Petrus já havia percebido: Fuyuki Hun não é um garoto normal.
“Tem alguma coisa errada com esse garoto…” ― A vaga memória de minutos antes havia voltado. Petrus sentiu suas mãos tremularem e sua visão embaçar. Aquela sensação era como se estivesse sendo chamado desesperadamente.
Depois de muito tempo, o seu lado secreto estava desesperado para sair.
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