“É um prazer fazer parte desta instituição,” Addai curvou-se para a plateia. “Espero parecer bem convidativo aos novos alunos e tenho certeza de que teremos momentos agradáveis juntos.”
“Ei,” Lydia chamou Mine, finalmente acordada. “Esse cara é um gostoso né?” Ela disse sem muito pensar e Mine lhe deu uma bela de uma encarada.
“Lydia, não é hora pra isso!” Mine a repreendeu baixinho e apertou o nariz dela, fazendo-a grunhir.
“É melhor vocês dois se comportarem,” Aarush disse à dupla ao seu lado, “Abannak tá encarando vocês,” e ele começou a suar frio quando o vice-diretor se levantou, fixando o olhar em certas pessoas além da multidão.
O Vice-Diretor usava um longo traje escuro com detalhes prateados na gola e luvas pretas. Simples, mas elegante, como seu longo cabelo prateado preso com um enfeite azul. Ele olhou diretamente para a alma de Mine, e o garoto sentiu que algo diferenciado viria.
“Addai, já que você é o nosso novato, escolhemos um professor experiente chamado Mine Karawaga para guiá-lo durante seus primeiros meses. Ele será seu tutor,” Abannak explicou e Addai assentiu, voltando o olhar para a plateia. “Você pode se apresentar, Mine?”
Mine se aproximou do palco, vestindo seu traje de professor verde azulado simples – que havia lavado na noite anterior. Quando ele pisou no primeiro degrau, Addai pôde ver que, apesar do nome daquele professor parecer ter grande importância – até pelo tanto de murmúrios dos alunos – ele parecia... pequeno e jovem demais.
Suas bochechas eram levemente avermelhadas, bem pouquinho, o suficiente para ver que ele tinia de saúde, ou havia ficado muito tempo no sol no dia anterior. Seu nariz era pequeno e com a ponta bem redonda, quase parecido com uma boneca. Seus olhos redondos e rosados fitaram o outro professor, recebendo-o com um sorriso e um aperto de mão. Esse tal sorriso era tão vivo quanto suas bochechas coradas e seus olhos quase se fecharam ao seguirem o desenho de sua boca, fazendo com que os cílios longos se tornassem o centro das atenções.
Tudo aquilo dava um pouco mais de inocência para sua aparência...
... até ele abrir a boca.
“É um prazer conhecer e cumprimentar todos vocês aqui!” Mine sorriu e uma varinha fina e delicada tal qual seu dono materializou em sua mão.
Ele tinha uma postura firme e precisa. Sua voz também era agradável e não muito estridente ou aguda, como Addai pensava que seria. Até que ele não parecia ser muito irritante. Mas o que Addai não esperava era ver que os cabelos de seu tutor fosse... mudar de cor?!
“Eu realmente espero que todos gostem das aulas do novo professor. Mas gente, por favor não manquem nas minhas! O povo gosta das coisas misteriosas, do tal dark, mas sempre esquecem da luz...” ele andava no palco, fazendo uma cara de tristeza enquanto a varinha o seguia flutuando. “Não se esqueçam de mim, viu?” Ele riu e pegou a varinha.
Enquanto Mine fazia os padrões com a varinha, as pontas de seu cabelo mudaram do usual verde-acinzentado para amarelo, azul e depois para verde azulado. Um camaleão?
Logo, diversos coelhos de mana puro pularam de cabeça em cabeça na plateia, provocando risos e suspiros – uns de susto e outros de animação. Addai o observava atento, principalmente quanto ao coelho que parecia estar atraído pelas correntinhas de seus óculos.
Mine riu baixinho e fez com que todos os coelhinhos se dissipassem antes que a plateia ficasse muito eufórica com os bichinhos.
“Mas que biscoiteiro,” Lydia riu baixinho para Aarush, que também riu.
“Aproveitem o primeiro ano de vocês e, sempre que precisarem de ajuda, só lembrar de mim~” Mine curvou-se e sorriu.
Aplausos e mais aplausos. Mine adorava se amostrar, principalmente para novatos, mesmo não esperando nada de volta. Soleil então tomou o palco para si, já com o gostinho de quem queria acabar com tudo aquilo ali e tomar seu rumo. Mine guiou Addai para a primeira cadeira que achou ali na plateia para terminarem de assistir à reunião, já que seu próprio assento estava muito longe.
Addai deu duas batidinhas no braço de Mine para chamar sua atenção e aproximou-se. “Espero aprender muito com você”, Addai curvou-se respeitosamente.
"Hehe, obrigado,” Mine sorriu daquele mesmo jeitinho de antes – os cílios e os olhos sorrindo junto. “Ah, preciso te dar instruções. Depois da aula você me encontra na sala comunal dos professores no prédio principal,” ele fez com que a varinha sumisse em seus bolsos que pareciam rasos.
"Claro", Addai sorriu e estendeu a mão.
Quando apertaram as mãos, Mine piscou umas duas vezes e parecia que a sala tinha ficado em completo silêncio por alguns segundos. Atrás de Addai apareceu um par de olhos no meio da escuridão do auditório que o fitaram e Mine, como um bom Karawaga cara de pau, olhou de volta.
Tudo durou apenas alguns segundos, mas o suficiente para que Mine visse que o sorriso no rosto do novo professor havia dado uma brevíssima... falhada, como se tivesse alguma coisa ali a mais em suas expressões que ainda não aparecia.
“Você tá bem?” Mine perguntou, ainda segurando o aperto de mão de Addai.
“Hm? Sim, por quê?”
“Nah, não é nada não,” Mine riu, soltando a mão de Addai. “Luva legal,” ele sorriu, apoiando suas mãos no colo.
“Obrigado,” Addai cruzou os braços, voltando sua atenção para as palavras de Soleil.
Os calouros não estavam lá muito interessados nas aulas de Mine porque ele parecia jovem demais para lecionar. No entanto, quando Mine fez um cadáver se levantar e começou a mostrar o registro de mana residual, toda a dúvida do pessoal sumiu assim ó, rapidão. A dúvida foi substituída pelo encanto e pelo medo do que ele poderia fazer com aquele cadáver (quem não ficaria, oras bolas).
As aulas da manhã e tarde terminaram e, felizmente, nenhuma delas foi maçante. Talvez porque era o primeiro dia, então não esfalfou nem os professores, nem os alunos.
Mine andava pelos corredores do departamento da última disciplina do dia e um guincho agudo encheu os corredores, e não demorou muito até que mais guinchos fossem ouvidos. Não havia dúvida de que eram... mandrágoras!
Lydia daria brotos (até que bem desenvolvidos) de mandrágoras para seus alunos do primeiro ano para que trabalhassem nelas durante todo o semestre (ou ano, dependendo da sua sobrevivência). O Edifício de Mana Puro era o ideal, porque os pequeninos problemas ficavam muito agitados sob o sol e não queriam dividir espaço com outras plantas, então aquele lugar seria perfeito devido às energias que os acalmavam.
As mandrágoras não deram nenhum pio para Lydia enquanto ela cuidava delas, mas quando a professora as deu para cada aluno... elas começaram a revolta!!!
Pobre dos alunos...
Bom, voltando para Mine que já estava começando a olhar para seu celular a cada segundo, chegou atrasado para a reunião com Addai. Ele saiu do prédio de Mana Puro e correu para o prédio principal até a sala comunal dos professores de lá.
O lugar era limpo e amplo, apesar de parecer pequeno pelo tamanho da porta. Cada professor tinha um armário para si e uma grande mesa para usarem quando quisessem, bem como uma sessão privada de livros exclusivos – não que a biblioteca principal não tivesse livro o suficiente, mas aqueles dali eram especiais (e mais caros).
No momento em que Mine tocou na maçaneta, ele interrompeu abrir a porta ao ouvir alguns sussurros vindo de dentro. Então, ele bateu na porta antes de entrar.
"Olá? Posso entrar?"
Nenhuma resposta.
“Tô abrindo,” Mine girou a maçaneta e recebeu um puxão rude para trás.
“Que mal-educado,” uma voz sussurrou perto do seu ouvido direito, perto o suficiente para sentir a respiração do sujeito.
"QUE PO-" ele encarou quem quer que fosse com raiva, cerrando os punhos e pronto para um contra-ataque. Ele sentiu uma linda raiva fluir e turvar sua visão já turva. Mas que aspereza e petulância!
“Opa, desculpa,” a pessoa disse e soltou a gola de Mine. “Vamos fingir que nada disso aconteceu.”
“Mas que mer- tá, vamos. Mas só porque estou muito cansado,” Mine bufou e entrou na sala, já colocando sua bolsa no sofá. “Só dessa vez que vou fazer vista grossa, Addai.”
"Obrigado", Addai curvou-se.
"Sente-se. Escrevi algumas coisas para você. É sobre o sistema e os procedimentos da Universidade", Mine entregou-lhe alguns papéis meticulosamente escritos. "Qualquer dúvida você tem meu número."
Deus sabe quanto uma onda de raiva demora a apagar, e Mine estava fazendo o possível para não dar uns belos sopapos naquela alma do seu lado. Então, ele pegou um de seus livros e colocou-os sobre a mesa para arrumar o armário que usava como guarda-livros, já que o seu principal – o do Departamento de Mana Puro – estava lotado o suficiente. Seu armário implorava por misericórdia, abarrotado de livros e cadernos até o teto, mas seu dono acreditava que ele era um grande coração de mãe: sempre cabe mais um livro.
Como Addai não tinha acesso a todos os departamentos – por ainda estar em fase probatória –, Mine decidiu ficar ali com ele, mesmo não sendo seu local de estudo/trabalho usual.
"O que é isso?" Addai perguntou, com notas de curiosidade em sua voz.
"O quê?"
“Isso” Addai apontou para uma pulseira de arco-íris no pulso de Mine que parecia ter visto dias melhores e mais brilhantes.
“Ah, é uma pulseira comum. Um velho amigo me deu há muito tempo," Mine explicou sem detalhar muito (e parecia deveras incomodado). "Pare de procrastinar e concentre-se no seu documento aí.”
“Ok, ok… Vossa Sapiência,” Addai zombou, e Mine olhou para ele sem acreditar.
“É o que?”
"O quê? Você achou que eu seria seu amigo? Ainda não estou convencido de que você seja tão bom como... ah! Como diz a lenda, certo Sr. Karawaga?" Ele encostou-se na cadeira e cruzou os braços.
“Eu sou tão capaz quanto você,” Mine olhou para ele ainda mais incrédulo com tamanha petulância.
“Ah, sim, sim. Isso é o que todo mundo diz", Addai acenou com a mão direita com desdém, "Seu rosto até parece o de uma criança", ele riu.
Se Deus permitisse – e o Código de Ética da Universidade também – Mine certamente daria um soco na cara do novato, mas ele precisava agir com calma. “Olha, eu fui educado até agora”, disse Mine, já perdendo a compostura. “E, com isso, eu saio e educadamente mando você se foder”, ele colocou seus pertences na mochila.
“Uau~” Addai assobiou, e Mine saiu dali, tentando não enfiar a mão na cara daquela pessoa.
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