Uma brisa fria e sem graça passava pela pequena raposa, observando a cidade a sua volta com seus pequenos olhos violetas caninos. Antes, as colunas de fumaça das fábricas de manufaturas se espalhavam pela paisagem como árvores negras, mas agora, o nível delas haviam se reduzido bastante. A raposa em cima da laje de um prédio onde funcionava uma estalagem percebeu isso, e além disso, tinha alguma coisa errada, ou melhor, se acertando, pois os homens de branco que deveriam estar presentes desde o começo estavam finalmente ali.
A guarda da cidade havia repentinamente aparecido pelas ruas, mas ao invés de agir como deveria, eles estavam começando um toque de recolher. Lá embaixo, haviam alguns carroceiros reclamando com um grupo de guardas de branco e elmos prateados, as carroças movidas a elefantes anões estavam carregadas de produtos, e eles deviam estar querendo envia-los para algum lugar, mas a guarda estava bloqueando seu caminho e cuspindo algumas palavras persuasivas pra eles, com seus ouvidos apurados, ele percebeu e ponderou que os guardas estavam dando a mesma desculpa que em outras ruas, dizendo que haviam criminosos perigosos escondidos na cidade e que todos deveriam entrar em suas casas e esperar que eles fossem encontrados.
Não era exatamente uma mentira, mas também não era um bom motivo pra realmente fecharem tudo, os carroceiros estavam bem mais resistentes que o esperado, talvez porque a falta de presença da guarda por tanto tempo e a passividade deles em deixar que os jaquetas se espalhassem por toda a cidade deve ter diminuído bastante a moral deles, e eles mesmos pareciam mais passivos que o esperado, deviam ter perdido a confiança neles mesmos também.
Era uma situação complicada, mas nem tanto, já que quem seguravam as baionetas carregadas de balas de chumbo eram os soldados, e para apontar aquelas pontas laminadas na direção dos carroceiros e ordenar uma última vez para eles entrarem em casa e perderem lucro atoa era só um passinho a mais.
E isso acontecia em todos os lugares, soldados de branco que se constrastavam ridiculamente naquela cidade cinzenta e suja mandavam as pessoas comuns e comerciantes menores a entrarem, fecharem suas tendas, barracas e carrinhos de vendas e lentamente, as ruas estavam começando a ficar mais vazias e silenciosas, os burburinhos agitados de reclamações estavam cessando, e a raposa observava a tudo. As ruas estavam parando e as estradas estavam fechando. A cidade estava cercada pela guarda, e agora Fyrr se encontrava numa armadilha de ratos. Bem, não importava mais.
Tudo o que ele precisava estava ali, e assim como haviam riscos, haviam possibilidades também, a raposa deu as costas para a visão da sacada e desceu as escadas de emergência ao lado do prédio para sair outra vez. Era hora de planejar e lutar para avançar, como numa verdadeira aventura.
E o resultado que sua ideia poderia alcançar o emocionava como nada antes já o fez.
Saltando do último degrau para o beco fechado ao lado do prédio, a raposa voltou a sua forma humana vestida comumente.
Era hora de colocar em prova todo o potencial de ser um cretino que as kitsunes sabiam fazer.
No final das contas, armadilhas de ratos não servem pra raposas.
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