Com um golpe pesado, ele cegamente atingiu o chão, por um segundo Hory esperou o que estava por vir até que sua magia agiu, uma onda circular de energia cinética de espalhou em volta da região do golpe como um anel de luz boreal prateada, e tão rápida quanto uma explosão ela se espalhou pelo chão e acima em todas as direções, levando tudo consigo, as carroças abandonadas nas calçadas foram levadas pelo vento e destroçadas pelo impacto, voando em forma de destroços contra as paredes do prédios, que balançaram e racharam violentamente ao absorver a maior parte do impacto. A onda de choque estava vindo em sua direção e não havia muito o que fazer.
Sem ter para onde desviar, ele apontou sua mão para o domo de um dos prédios e o puxou em sua direção, em resposta, sua magia o arrancou do chão e o lançou na direção do telhado do prédio, fazendo com que evitasse ser atingido em cheio pela magia destrutiva do leopardo. Com agilidade ele pousou no telhado. Por um segundo desorientado, se posicionou agachado no teto e se voltou para o leopardo vários metros abaixo, apoiado ao lado do domo.
O leopardo estava agachado no chão com a cabeça do martelo fincada na terra, a onda do impacto havia limpado tudo em volta dele, e rachado as paredes de todos os prédios em volta, o chão havia dado lugar a uma cratera imensa onde Hikkan se encontrava no centro. Com um movimento bruto ele arrancou o martelo do chão e grunhiu. Olhando em volta e sentindo a magia do oponente, logo seus olhos pequenos e brancos de raiva se encontraram com os olhos atentos e sem graça de Hory, o encarando do alto do prédio do outro lado da rua.
E rangendo os dentes de raiva, o leopardo seguiu caminhando lentamente em sua direção.
- Desça daí e me enfrente logo! Vagabundo imundo! – ele grita.
- Vem até aqui e tenta me pegar. – Zombou descuidadamente Hory.
Bufando com mais raiva se acumulando, o gigante voltou a acelerar segurando com mais peso seu martelo, começou a correr como um touro louco na direção do prédio, e tão curioso quanto tenso, o jovem observou a aproximação do leopardo pensando em seu próximo movimento, quando inesperadamente, Hikkan para em frente a fachada do prédio e ergue seu martelo preparando um golpe direto.
- Martelo Demolidor!
Com seu último rugido, a energia cinética nebulosa cobre outra vez o martelo, e ele golpeia o prédio, gerando a onda de impacto imensa diretamente em cima das paredes da estrutura. As rachaduras de destruição se espalharam daquela área rapidamente, e todo o prédio tremeu intensamente, desequilibrando Hory e quase o derrubando, em poucos segundos, as paredes começaram a ruir, e a onda do impacto começou a fazer a estrutura ceder, se desmanchando em pedaços.
“Porra.”, pensou Hory, decidindo que não seria muito seguro prolongar demais aquela luta, e que a única forma de derrubar aquela bola de demolição viva seria a derrubando de muito alto.
Antes que comprometesse seu equilíbrio e caísse junto com o prédio, ele saltou do telhado, acompanhado das rochas que se separavam das paredes caindo e das nuvens de poeira que se erguiam, encarando fixamente seu oponente, que rangia seus dentes enterrando o martelo no prédio.
Hory ativou a energia ondulante mais uma vez em sua mão, desta vez, a contraindo no ar como se preparando para um soco, e apontando para o leopardo com os olhos, ele o cobriu com a mesma camada de sua energia, e numa última troca de olhares entre os dois magos, Hory socou o ar na direção de Hikkan, o fazendo voar do chão em alta velocidade. Não havia sido um golpe, apenas um empurrão extremamente forte em todo o corpo do leopardo, e Hikkan pôde sentir isso enquanto disparava pelo ar se afastando do prédio em ruinas. No meio da queda ainda, Hory apontou sua mão na direção da quina do prédio ao lado, e gesticulou como se estivesse a agarrando com seus dedos fortes, e puxando o braço contra si mesmo como se estivesse puxando o próprio prédio, sua magia o lançou na direção do prédio de onde o leopardo do martelo voava, ainda mais velozmente, e no ar ele se aproximou de Hikkan como uma bala, impotente, o leopardo apenas pôde ver o garoto se aproximar dele no ar contraindo o braço e socando o ar na direção dele outra vez, o empurrando ainda mais para o alto.
Como uma bala disparando para o céu ambos seguiram subindo para além dos prédios, Hory segurou com a sua magia outra vez o pico de um prédio e puxou seu braço se lançando ainda mais rápido e num ângulo ainda mais alto para além do leopardo, a resistência do ar o desacelerava e o fazia sentir a pressão do vento bagunçando seus cabelos, assim como fazia o corpo do Leopardo desacelerar, mas não o suficiente, então por fim, ele agarra o corpo do leopardo com sua energia transparente, guiada através de sua mão, e com ela o puxa para si, o fazendo voar até ele no alto.
O leopardo observava a cena com confusão e medo, o atrito do vento aumentando ainda mais a sensação de ter seu corpo movido por aí como se fosse uma boneca de pano, algo totalmente fora de série para ele, sempre considerado uma montanha humana, sempre o mais forte e resistente Hikkan, que ninguém conseguia derrubar, e agora, se aproximava velozmente no ar na direção do mago que o desafiou. Esquecendo de toda a sua raiva e o próprio motivo para estar com ela, ele viu sem entender o mago que veio matar mover seu braço como se fosse o socar mesmo há poucos metros de distância, e atingir o ar com um soco limpo, mas causando do mesmo jeito uma reação.
O corpo do gigante Hikkan disparou para o chão outra vez sendo empurrado pela magia misteriosa de Hory. Agora caindo como um meteoro, ele só pôde ver impotente o chão se aproximar dele numa velocidade aterradora e as pessoas em volta olhando para o céu e correndo de medo nas duas direções opostas para fugir de sua queda.
Burrrrrrst!
Seu corpo imenso se choca violentamente contra o chão após a queda de mais de trinta metros de altura. O chão se racha e uma nuvem de poeira se levanta para além dos prédios, as pessoas assustadas em volta observaram com espanto o estranho objeto cair e devastar o meio da rua.
Do outro lado, Hory apoia sua mão durante sua queda na quina de um prédio e se empurrou para cima, pousando na beira do telhado. O estrondo do impacto da queda do leopardo o assustou no momento, já que era novo para ele ver alguém sendo tão pesado e denso para conseguir ter uma queda tão violenta.
Arfando, ele se sentou na beira do telhado e observou as pessoas abaixo assustadas abandonando suas barracas e seus afazeres para correrem na direção do estrondo.
O que mais o surpreendia era a sensação de que seu oponente ainda estava vivo, apesar de tudo.
- Cara, essa cidade é mesmo problemática.
(...)
Observando de longe a nuvem de poeira se erguer como uma coluna de fumaça, os pequenos olhos violetas da raposa brilharam. O pequeno animal observou a luta inteira de longe, se movendo pelos becos escuros e vazios conforme os magos se moviam nela, e o que viu foi simplesmente fantástico... e terrivelmente assustador também. Aquele jaqueta era extremamente poderoso, se tivessem mais jaquetas como ele pela cidade, o garoto não teria escolha a não a abandonar, aquela alfandega estaria comprometida por eles, assim como Culleir em si. Mas o homem que o enfrentou era aparentemente mais poderoso ainda que ele e o derrotou sem se ferir de qualquer forma. Assim como o mendigo de antes aparentemente havia pessoas poderosa na cidade que poderiam lutar contra os jaquetas de alguma forma, mas ainda não estava claro em como ele conseguiria deixá-los do seu lado e ajudá-lo a chegar na alfandega, ou se isso sequer era possível.
Mas agora ele sabia que as co8isas seriam ainda mais complicadas do que nunca, e apesar disso o assustar, também o encantava, pela primeira vez ele sentia a tensão de uma situação sob ele o pressionando, e a adrenalina que percorria seu corpo o embriagava, era uma sensação nova e viciante. Então Fyrr em sua forma de raposa se virou e entrou no beco escuro e vazio, pronto para observar melhor o que acontecia em volta e queimando seus neurônios para decidir o que fazer a seguir, as coisas estavam ficando perigosas, mas também, divertidas.
(...)
Suas botas brancas pisavam naquele chão sujo e empoeirado, mas ele não via isso como um problema, seu uniforme branco se destacava tanto com o cenário cinzento ao redor que chegava a ser triste, e isso era o que realmente incomodava. Branco era a cor que os kristanos escolheram para demonstrar que sua guarda era pura e incorruptível, mesmo assim, enquanto o comandante vagava pela rua aberta da praça central de Culleir, ele só via rostos de pessoas desanimadas, com uma baixa perspectiva de futuro e com o medo passivo sempre presente quando saiam pelas ruas para fabricar porcelanatos, ou pães, ou peças para máquinas ou qualquer outra merda que os donos de comércios exigiam por vender muito e fácil em outras cidades.
Isso amargurava o comandante Amta profundamente, geralmente as pessoas costumam achar que as ameaças imediatas são as mais perigosas e nocivas a elas, mas na verdade não, não é o risco de um dia os céus ameaçarem desabar que deveria estar no topo de suas preocupações, deveria ser o risco que diariamente recai sobre eles de forma quase imperceptível e que os drena um pouco de cada vez o tempo inteiro. Esse é o verdadeiro perigo que deve ser erradicado.
- O senhor está bem, Comandante? – a tenente Minno o questiona. O fitando com uma leve preocupação escapando de seus olhos na faceta dura que sempre fazia.
- Vou ficar agora. – Ele responde, secamente.
- O senhor realmente... confia que o seu amigo irá ser vital em ajuda?
- É raro você questionar minhas ações, tenente Minno. – Ele comentou, sorrateiro.
- Me desculpe, senhor.
- Tudo bem... Kaian não foi apenas meu parceiro na Escola de cavaleiros de Krista. Ele era um grande espadachim, e um grande estrategista, ele pensa fora da caixa e chega em seus objetivos de uma forma eficaz e pouco destrutiva. Se há alguém que irá no ajudar sem riscos será ele. Mas não importa se vamos ser pegos ou não, certo?
- Sim, senhor. – Ela responde sem exatamente se sentir muito segura. Os olhos daquele homem não exalavam uma grande responsabilidade ou compromisso.
- Hahaha, não parece que acreditou tanto em mim. – Comenta ele, sorrindo casualmente.
- Não, senhor, não é isso, se está dizendo que ele é útil então... – ela tentou se retratar, antes de o comandante a interromper colocando seu braço a frente dela.
Seus olhos foram na direção em que ele olhava, e ela viu também o sub-tenente correndo na direção deles. E ele parecia nervoso.
O soldado se aproximou até eles e bateu continência.
- Fale logo. – Ordenou o comandante, impaciente.
O subtenente arfante respirou uma ou duas vezes, parecia ter corrido todo o caminho até alcançá-lo, e não deveria ser o único em sua busca. Sem muita cerimônia, ele se manteve ereto para contar sua notícia ao comandante.
- Comandante! O senhor reitor está a sua espera em seu escritório.
- Como? O que houve?
- Houve uma batalha há poucos minutos nas proximidades do centro da cidade. O leopardo do martelo foi visto numa batalha violenta contra um mago desconhecido, a luta começou num bar-restaurante e se moveu para outra rua, e o leopardo do martelo foi derrotado, isso é tudo o que sei até agora, senhor!
“Não é possível, mago desconhecido? Kaian... você não faria isso, certo?”, pensou o comandante, impacientemente.
- Uma carruagem o espera há algumas quadras daqui senhor comandante. Por favor, siga-me.
- Certo. Vamos, tenente.
- Sim, senhor.
E com uma faceta mais séria, ele seguiu o nervoso e cansado soldado pela rua da praça.
“Merda, me diz que não foi você Kaian... e se for... o que está planejando?”.
Com a mesma cara de impaciente, ele chegou até a carruagem branca de rodas de metal o esperando no meio da rua cinzenta e subiu nela abrindo a porta ele mesmo. Ela seguiu e pelo caminho seu rosto foi se suavizando, enquanto sua mente pensava em milhares de formas em que as coisas poderiam estar acontecendo.
Os solavancos repetitivos e raros passaram num piscar de olhos, e em quinze minutos eles estavam agora parando em frente aos portões da mansão do reitor, e sem paciência, ele saiu assim como entrou e atravessou o jardim apressado seguido por seu tenente e um par de soldados para a sua segurança.
E logo, se viu mais uma vez caminhando com as mesmas botas que pisavam em poeira da rua no carpete elegante do corredor até a porta de carvalho do escritório do reitor.
Ele bateu duas vezes na porta, e a voz melodiosa de sempre atendeu.
- Entre.
Com a mesma calma educação de sempre, o comandante entrou, e encontrou o reitor em pé, observando a vista da rua mais rica da cidade pela janela para a sacada, com as persianas esvoaçando com a brisa fria que entrava.
O comandante dispensou os soldados e sua tenente com um gesto de sua mão, e com certa relutância ela se afastou com eles, fechando a porta atrás de si, e apenas os dois homens ficaram no escritório.
- Como você já deve ter ouvido, os leopardos andaram fazendo confusão de novo.... que porra... – comentou o reitor, finalmente se virando na direção do comandante. Seu sorriso usual não estava lá, apenas uma calma irritação.
- Eu ouvi que o leopardo do martelo foi vencido por um mago desconhecido. Isso deve significar que a trupe está se movendo por si só, certo?
- Correto. A pior coisa que eu já fiz foi confiar naqueles animais da roça. Mas tudo bem, eu vi o quanto eles são bons em manter a ordem, não vou desistir deles ainda. Mas para evitar que as coisas descarrilhem, quero que você mova a guarda da cidade também.
- Certo, senhor reitor.
- Você vai mover a guarda para as estradas principais e para as ruas. Avise que estamos num estado de emergência e feche tudo temporariamente. Vamos começar a fazer buscas em todos os estabelecimentos e em cada beco, em cada bueiro, em busca dos arruaceiros que resolveram fazer confusão na minha cidade.
- Sim, senhor reitor. – Concordou Amta, se curvando, no fundo, pronto para encontrar uma chance de achar Kaian antes do reitor. As coisas estavam avançando de uma forma inesperada e poderia deixar sua situação muito mais difícil do que deveria.
As coisas estavam saindo do controle.
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