— Você se importa se eu fumar aqui?
Eu ergui os olhos, enquanto me aconchegava mais na cama de Alex. A verdade era que já estava me sentindo em casa naquele lugar. Não havia muitos lugares para ficar — e eu já havia dormido ali mesmo —, então foi natural me jogar nos lençóis de Alex, me espreguiçar enquanto o dono do apartamento se mexia e organizava o pequeno caos que ele criara na minha ausência.
Aproveitei o momento para admirar o corpo dele, e com olhos preguiçosos o encarei ante ao seu pedido. Lógico que ele era um fumante. Tinha que ter algum defeito naquela perfeição que era Alex e seus cabelos ruivos e seus olhos verdes floresta e sua tatuagem no rosto em forma do símbolo do ás de espadas…
— Não — porque era a verdade. Fumar ou não fumar, não me incomodava nem um pouco. Estando no meio artístico, você acabava perdendo um pulmão ou outro. Então não liguei quando Alex foi até um canto da cômoda blocada e tirou uma carteira de cigarros mais velha do que ele próprio e tirou um cigarro, acendendo-o com um isqueiro prateado.
Droga, eu estava hipnotizado por seus movimentos.
Queria provocá-lo à ação. Eu o teria.
— Então você esteve indo atrás de rapazes no Tinder?
Alex parou, inalando mais da fumaça do cigarro. Ele tinha dedos esguios, com unhas delicadas. Ainda tinha algumas manchas de tinta, algumas pequenas cicatrizes… Eram mãos com histórias. Eu queria desvendá-las. Queria que aquelas mãos enormes me tocassem, que explorassem o meu corpo…
Que ele jogasse aquela fumaça sobre meu corpo nu, que me envolvesse por completo naquele mistério.
— Pode-se dizer que sim.
— E deu algum fruto nisso?
Alex sorriu de novo, enigmático.
— Se tivesse, estaria eu aqui falando com você?
Você estava ali, de volta ao meu apartamento.
Como um gato, se mexendo e se espreguiçando na minha cama. Agia com tamanha naturalidade que parecia que nos conhecíamos há anos, e não uma semana.
Sentei-me perto do duto de ar, para que a fumaça do cigarro não ativasse o alarme de incêndio. O banquinho era velho e eu o havia recolhido do lixo de outra pessoa, mas como diziam, era necessário reciclar, reusar e reutilizar. Me servia muito bem quando eu usava minha mesa de desenho, e para momentos em que eu precisava fumar dentro de casa no inverno.
Mas uma vontade agitava as minhas mãos e as deixavam inquietas. Achei que o cigarro aplacaria a necessidade, que diminuiria a urgência do vício, mas não era isso que meu corpo clamava. Não. Meus olhos iam para um lado do meu apartamento, mas sempre paravam na cama, em especial, nas áreas em que as roupas de Jesse não cobriam.
Por que ele tinha usado um cropped logo no inverno?
Eu queria…
Assoprei um pouco da fumaça, sentindo minhas orelhas esquentarem.
— Se minhas empreitadas no Tinder tivessem dado algum fruto, tenha certeza de que você não estaria na minha cama — continuei.
Você riu. Droga, ficava cada mais difícil resistir à urgência quando eu via o modo como sua camisa subia em direção ao seu torso, expondo a pele de seu abdômen definido, como os músculos de seu pescoço se tensionavam por sua risada e seu pomo de adão subia e descia em sua garganta…
Tudo era muito belo.
Eu queria eternizar aquele momento de alguma forma.
Da única maneira que eu sabia bem como eternizar momentos, na realidade.
— Você se dá muito pouco valor, Alex. Tenho certeza de que os homens do Tinder caíram aos seus pés.
— Duvido. Aposto que você tem mais sorte do que eu.
Seu sorriso era enigmático. Eu sabia que você não devia ser virgem, mas aquele sorriso indicava que você não era estranho a ir para casa de, bem, estranhos. De outro modo, como não ficaria confortável em ficar nu no meio de uma sala cheio de jovens adultos cheios de tesão e cansaço? Era óbvio que aquela profissão era perfeita para você, Jesse.
Eu só não sabia o quanto.
Suas mãos passearam por seu estômago e eu engoli em seco. Seus dedos alvos passeando por seu músculo oblíquo externo enquanto dedilhavam por sua pele, arranhando-a no processo, chegando à curva da linha alba, o contorno perfeito de um traço.
— Você quer ter sorte, Alex?
— Eu quero…
Eu comecei a frase, quando era óbvio que você sabia que meu olhar estava completamente hipnotizado por seus dedos. Fazia de propósito, para me provocar, e passou do apex de sua pélvis para o alto de suas costelas.
Droga.
Suas mãos começavam a se movimentar na cama quando eu disse:
— Eu quero desenhar você.
Seu rosto transmitiu algum choque, e por alguns segundos, você ficou parado no lugar. Mas logo se recompôs, engatinhando em minha direção, saltando da cama e indo até o banco onde eu estava sentado. Eu fiquei parado, esperando suas ações. Meu cigarro continuava em minha boca, mas eu não o tragava. O ar entre nós parecia suspenso.
Seus olhos estavam enevoados.
— Eu modelarei para você, Alex Morris — você disse, arrancando o cigarro com seus dedos esguios. — Se parar de fumar e me comer agora.
Minha boca aberta parecia estúpida agora sem o cigarro.
Claro que você propôs algo do tipo. Eu apenas hesitei — não porque não quisesse, mas... Como reagir propriamente? Eu estava atraído por você, lógico, mas o que fazer nessas horas? Iza sempre reclamou que eu não tinha atitudes, que sempre seguia o fluxo, e era extremamente lerdo, além de devagar. Eu não sabia fazer as coisas como um furacão como você. Você veio derrubando todas as portas, derrubando prédios e pontes.
Ir para a cama logo no primeiro encontro? Eu nunca tinha feito isso. Não era do meu feitio, mas...
Jesse, você não era qualquer um.
— Jesse... — meu ar faltou.
A decepção no seu olhar foi visível quando eu não o correspondi. Suas intenções eram claras: você queria algo a mais. Quanto a mim...
Eu não sabia o que queria.
— Preciso ir — você disse, começando a reunir os seus pertences. Aquilo machucou o meu coração de uma forma que eu não soube o que fazer. Eu precisava impedir. Precisava ter você comigo, ao menos por mais algum tempo. Eu sabia que, se você saísse por aquela porta, nunca mais nos encontraríamos.
E uma coisa que o Destino unira, não poderia ser desfeito daquela maneira.
Agarrei seu braço, o impedindo de continuar.
— Jesse, por favor.
Você parou, mas não disse nada, apenas encarando-me com uma expressão neutra. Eu tinha feito merda, não era?
— Eu preciso de mais algum tempo. É tudo um pouco novo demais para mim. Eu ainda… não estou acostumado com isso.
— E precisa? Talvez eu não queira um cara que demore a se acostumar.
— Talvez não. Mas eu quero você.
Você se virou para mim, o olhar azul completamente surpreso. Eu sei. Eu também estava surpreso com a minha própria admissão, com a vontade que nascia dentro de mim.
— Eu quero te tocar. Mas não sei se isso significa o que você quer que signifique.
Eu vi seus olhos correrem da porta para a cama, e a distância entre elas. Pois bem. Mas suas mãos tocaram as minhas, colocando-as em seu estômago e você pediu baixinho:
— Me toque.
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