Como um coelho assustado Ian tremia, mesmo todo coberto seu corpo estava todo arrepiado, era o seu fim, definitivamente a sua vida havia acabado ali. A feição dócil de Dante se transformou em um olhar frio quase assassino.
— Vocês estão querendo me fazer de idiota?! O que esse cuzão está fazendo aqui?! — Um murro foi desferido na parede, a intenção assassina de Dante podia ser sentida por todo o quarto, Ian não conseguia mais chorar, seus canais lacrimais foram travados com o medo, ele havia sido descoberto, era o seu fim. — Onde está ela?! Onde está a minha Rainha?! — vociferou Dante.
— E-ela… — a gagueira habitual de Ian de quando falava com Dante retornou.
— A mulher que estava com ele foi embora — disse o chefe do pequeno grupo.
— E o que ele está fazendo aqui?! — Dante se levantou da cama furioso, ele não conseguia olhar para aquele rapaz patético.
— Ele foi dado como pagamento da dívida dela, estávamos amansando ele para levarmos ele pro bordel. — continuou o homem um pouco mais confiante.
— Quanto era a dívida dela? — Perguntou Dante em um tom mais calmo, pressionando as têmporas tentando pensar de forma racional.
— 500 mil, mas ela quebrou o contrato ele vai ter que pagar o dobro — o chefe olhou para Ian analisando-o — Ele pode conseguir pagar antes de ficar velho demais para se vender, isso se ele não morrer antes.
Aquela conversa não soava nada bem para Ian, que nada podia fazer além de ouvir, ao menos Dante achava que a mulher que estava com ele era Ivy, se ele soubesse jogar bem, talvez ele ainda tivesse uma chance de sair dali vivo e sem ter que passar seus últimos dias em um bordel.
— Um milhão ein — Dante pegou um charuto no bolso, se encostou na parede, cortou a ponta, acendeu e deu uma tragada lenta enquanto olhava Ian de cima a baixo novamente, seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas, mas ainda eram afiados como o de Ivy — Diga rapaz, por que você pagaria uma dívida que não é sua? Ainda mais uma dívida tão alta?
— E-eu.. E-eu sou irmão da Ivy — disse Ian nervosamente — Eu não ia deixar a minha irmã ir para um bordel e ela não queria pedir a sua ajuda, então esse era o único jeito…
— Ela concordou com isso? — Dante continuou tragando o seu charuto e soprando a fumaça devagar, dessa vez ele não olhava mais para Ian, aqueles olhos o incomodavam de alguma forma, agora ele sabia o motivo, eram iguais aos de Ivy, por isso seu olhar agora estava fixo no canto do teto mofado, evitando o espelho que refletia a cama em que o rapaz estava deitado.
— Ela queria mudar o acordo, por isso a dívida cresceu — dessa vez foi um dos homens que falou.
— Hmmm… — o som saiu como um murmúrio e ninguém ousou falar, o cheiro de tabaco preenchia todo o quarto e a densa fumaça estava começando a deixar o ambiente fechado com um clima um pouco nublado - Eu cobrirei a dívida dela, agora saíam!
— Foi você ou ela que me ligou mais cedo? — perguntou Dante assim que os homens saíram.
— Ela… — Como foi Samanta que havia telefonado ele resolveu contar a história dessa maneira, caso Dante resolvesse perguntar algo aos agiotas mais tarde.
— Ivy não é um nome muito comum — Dante continuou tragando o seu charuto com calma — e eu nunca vi nos registros.
— Ela fez o contato sob outro nome — mentiu Ian.
— Por que ela foi embora e largou você para trás? — O olhar de Dante voltou-se para o rapaz na cama, ele ainda parecia extremamente cruel.
— Ela disse que você me ajudaria — mas logo sua voz foi perdendo a força e saindo em um sussurro quase inaudível.
— Irmão da Ivy, né? — Dante puxou Ian pelos cabelos para que levantasse da cama e analisou bem o rosto dele com seus olhos de águia — Vejo a semelhança, apesar de você parecer patético, não chega nem aos pés da minha Ivy, claro.
— V-você tem razão — gaguejou Ian, agora que o perigo desconhecido havia passado, ele estava com aquele medo familiar, ele tinha certeza que Dante não machucaria Ivy, mas não tinha certeza o que ele faria com ele, ainda mais se descobrisse a verdade.
— Nós tínhamos um acordo, por que você nunca disse que era irmão dela? — Dante soltou o cabelo do rapaz quase o jogando de volta à cama.
— Ela me pediu para não contar — respondeu Ian inseguro.
— Então você só me conta o que ela permite que você me conte? — Bufou Dante — Você é um bom irmão Ian e espero que seja um bom cunhado também.
Toda a atitude do Rei do Inferno mudou, ele parecia uma pessoa completamente diferente, ele apagou o charuto na mesa de cabeceira e sentou-se ao lado de Ian que continuava estático no lugar, ele pegou o braço do rapaz que estava machucado por causa das algemas deu uma longa olhada e não disse nada, em seguida pegou as roupas do rapaz, entregou a ele e saiu do quarto informando que iria esperar pelo rapaz lá fora.
Tomado pela vergonha e humilhação sozinho naquele quarto Ian via pelo espelho no teto os fluidos que escorriam pelo seu rosto, lágrimas dos seus olhos, muco do seu nariz e sangue da sua boca, ele estava uma bagunça, havia um conflito tão grande dentro dele, que ele não sabia como reagir.
A dor que àquela situação lhe infligia não se limitava aos tapas e socos, havia a traição de Samanta que cortava seu coração, ela era a primeira pessoa que se aproximava dele em tanto tempo e ela não hesitou em entregá-lo aos agiotas, havia o medo do que aqueles homens podia ter feito com ele caso Dante não aparecesse, havia o terror de passar o resto da sua vida de merda preso em um bordel obrigado a vender o seu corpo, havia o alívio de que agora estava a salvo, havia a esperança de que tudo ficaria bem.
Se Dante realmente foi enganado pela sua mentira, havia uma chance dele querer agradá-lo para chegar a sua suposta irmã, mas e se ele não acreditou?
O rei do Inferno era inteligente e ardiloso, ele podia muito bem fingir que havia caído naquela jogada de Ian e no final voltar-se contra o pobre rapaz e destruí-lo. Não que ele precisasse disso, afinal o cara era dono de tudo no submundo, com um estalar de dedos ele podia fazer da vida de Ian um inferno, como ele mesmo já havia dito uma vez, se ele realmente estava só brincando com aquele coelhinho assustado era apenas pela emoção de se divertir às custas do seu sofrimento.
“Afinal há ou não esperança?”
Agressivo é um estilo de jogo onde as trocas de peças e os ataques são realizados ainda na fase de abertura.
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