Kitsune. Ashura. Mynea. Gravou bem o nome de cada uma quando apresentaram-se. Já era experiente nisso devido anos de prática na empresa e no mundo dos negócios, conseguia esconder sua desconfiança atrás de expressões amigáveis e gestos corteses, tudo como mandava o manual.
Entretanto não se deixava enganar pela simpatia das três, que foram capazes de forjar uma carta falsamente escrita por Chihiro Yamano somente para que pudessem todos estar reunidos assim, afinal Hideyoshi nunca, jamais, deixaria Yano sozinho.
Mas... como poderiam ter falsificado tão perfeitamente a caligrafia rebuscada de Chihiro? Ele a conhecia tão bem como a sua própria, sabia exatamente qual a aparência de cada letra cunhada pelas mãos do namorado, sabia como os caracteres se apresentavam quando escrevia com pressa e quando escrevia com esmero, sabia tudo, ou pelo menos julgava que sabia.
Só não era capaz de entender como estranhas que nunca viram sequer um A escrito por Yano conseguiram copiar sua caligrafia com tanta precisão a ponto de enganá-lo. Toda a situação era muito esquisita e apesar dos sorrisos e do papo agradável Takashi estava atento a tudo ao redor.
Durante os cumprimentos, ele, Yamano e Faye também se apresentaram e Hideyoshi notou o olhar intrigado do rapaz de cabelos negros para a ruiva com cabelos cor de pôr do sol, com certeza precisaria explicar tudo mais tarde. Não pensou muito mais em nada, alguém passou próximo a eles, levantando uma lufada de vento. Com o movimento do ar, Hideyoshi foi capaz de sentir o já fraco perfume de Yamano e isso o deixou torpe, desejando aproximar-se ainda mais do outro.
Aquele leve cheiro de baunilha e lavanda que momentaneamente se sobrepôs ao agradável aroma de café e chocolate o fazia delirar, era sem dúvidas seu cheiro favorito e pelo que lhe pareceu um longo momento apenas perdeu-se no aroma açucarado.
Sentiu o toque do outro em sua perna, seu olho cor de mel moveu-se para vislumbrar os cabelos negros e muito bem cuidados de Yamano. Conteve um impulso de acariciar os fios sedosos, algo lhe dizia que deveria recobrar a atenção, pois essa fora perdida com a lufada de vento e o cheiro de baunilha e lavanda. Kitsune, a de cabelos negros e olhos dourados, a própria Amaterasu encarnada, falava qualquer coisa calmamente, o rapaz não estava prestando atenção e só conseguiu captar o final da fala.
— ... assim, por favor, queira perdoar nosso mau comportamento.
Pelo jeito, devia ser a porta-voz ou ter alguma posição diferenciada entre suas duas colegas. O olhar dourado era belo e penetrante, até mesmo inebriante. Era fácil por demais vaguear eternamente na imponência áurea que eles exprimiam. Takashi assentiu positivamente, embora não perdoasse coisíssima nenhuma e fosse muito bom em guardar rancor.
— Sentimos muito mesmo — reiterou ela.
Tão bela era aquela mulher, tão extraordinária, tão... parecida com Yano.
Epa.
Hideyoshi fitou Kitsune por mais um tempo, em seguida seu olhar pulou para a igualmente deslumbrante moça de cabelos cor de sangue e pele escura. Eram as duas tão diferentes visualmente, porém tão semelhantes... tão sobrenaturalmente belas e magníficas, exatamente como... Yamano.
Os três compartilhavam essa característica tão singular e encantadora, como pôde não ter reparado nisso mais cedo? Olhou para Mynea e obrigou-se a não fazer uma careta, não foi com a cara dela. Observou-a de maneira discreta por algum tempo e logo em seguida retornou a olhar para as duas beldades, havia um abismo entre elas.
Por mais que Mynea tivesse lá sua formosura, não podia jamais ser comparada com Ashura e Kitsune, essas duas eram dotadas de uma beleza tão fascinante e de um ar tão etéreo que nenhuma outra mulher do mundo poderia ser comparada com elas, talvez somente outras mulheres sobrenaturalmente diferentes como elas. Outras mulheres..., sua mente vagueou, desenterrando memórias tão antigas... Ela também era tão fascinante como elas.
Xícaras grandes e pequenas acompanhadas de pratos e pires de tamanhos variados eram depositados sobre a mesa de madeira envernizada, um a um todos agradeceram ao atendente. Hideyoshi especialmente agradeceu de muito bom grado, estava faminto! Pediu suco de laranja, um bolo confeitado qualquer e umas bolachinhas salgadas para balancear a refeição. No caminho de vinda disse à Faye que ela poderia pedir o que quisesse que ficaria por conta dele, a ruiva negou enfaticamente, mas lógico que não a deixaria pagar, tinha uma dívida grande demais para com ela.
Enquanto comia o bolo, refletiu sobre como almoçar isso não era saudável, certamente deveria comer algo mais forte quando chegasse em casa.
Em meio ao tinir de talheres e pratos, o jovem levantou o olhar para Kitsune, que rapidamente o encarou de volta. Aqueles olhos eram puro ouro derretido, fácil, muito fácil de distrair. Eles penetravam na mente de Takashi como se procurassem algo, Hide sentia-se muito exposto e forçou-se a desviar o olhar, ficou desconfortável com a possibilidade da mulher estar vagueando em sua mente.
E, principalmente, desconfortável com o efeito deliciosamente opressor que o dourado cintilante tinha sobre ele.
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