Estava estarrecida, completamente, absolutamente estarrecida. Como podia Sen ter chego a esse estado deplorável? Como podia ter esquecido delas e até dele mesmo? Antes, quando ele afirmou não conhecê-las, pensaram se tratar de uma brincadeira para evitá-las, no entanto conversando com ele pacificamente enquanto bebericavam xícaras de café e mordiscavam fatias de bolo, tanto ela quanto Ashura foram capazes de perceber: não havia mentira em Chihiro Yamano.
Tudo o que dissera era genuíno, até mesmo seu inacreditável apego por um moleque humano qualquer.
Apesar de tudo isso, as vibrações também não mentiam. Não havia outro ser no mundo capaz de emitir tal frequência. Cada um deles era singular, único, e emitia seu próprio chamado, sua própria vibração. Tão semelhantes e tão distintas, eram inconfundíveis. Aquele era Sen. E também era Chihiro Yamano. Ela ainda não compreendia, mas faria o possível para que fosse capaz, pois precisava urgentemente de Sen. Todo o plano superior precisava.
Respirou fundo. Olhou para Ashura, que assentiu de forma quase imperceptível. Soltou o ar e encarou Sen, os olhos esmeraldinos exatamente iguais a como se lembrava.
— Sabe, Yamano-san — começou, escolhendo as palavras cuidadosamente. — Às vezes as coisas não são o que parecem. Às vezes há um véu muito fino e tênue, que nos impede de ver a realidade tal como ela é.
Calou-se novamente, esperando a reação do rapaz. Ashura pediu mais uma guloseima, dessa vez um petit gateau com suco de laranja para acompanhar.
— E não poderia ser esse o caso? — Replicou Yamano, finalizando seu café. — Com vocês, digo, porque definitivamente houve um engano.
Ashura suspirou, cruzando os braços.
— Não há engano. Você também as sente, não é? — A ruiva inquiriu, fitando os olhos esmeraldinos. Kitsune sentia-se ansiosa. — Pulsando, dentro de você.
Sim, ele sentia, assim como Ashura e a própria Kitsune.
Naquele instante todos eles sentiram uma vibração nervosa e um tanto confusa, vinha de Sen. Kitsune lhe sorriu, tentando deixá-lo à vontade através de sua própria frequência. Seria bastante complicado contar tudo sem que parecesse um absurdo inventado, uma fantasia digna de um jogo da Nintendo. Não sabia como deveria seguir adiante com isso, a única coisa que tinha certeza era que precisava de Sen.
— Sen, digo, Yamano-san, peço que por favor escute tudo com seriedade.
Os olhos de esmeralda se estreitaram, mas Sen não demonstrou nenhum descontentamento, apesar de sua vibração incerta.
Kitsune respirou fundo, tomando coragem para prosseguir. Era uma longa história.
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