Todas as noites Ian contava um pouco sobre a misteriosa Ivy e mostrava os itens que ela desejava, maquiagens, roupas, sapatos, cosméticos e Dante ouvia atentamente enquanto bebia seu uísque, fumava o seu charuto e alguma moça de cabelos negros brincava com o seu pau, no final ele pedia para que o rapaz mantivesse segredo tanto sobre a conversa quanto sobre a garota, essa situação fazia Ian rir um pouco por dentro, já que era impossível esconder qualquer coisa de Ivy, já que ele era Ivy.

No dia seguinte sem falta os presentes chegavam aos montes ao camarim improvisado, sempre com um bilhete “Para minha Rainha só o melhor”, mas Dante nunca aparecia de fato na frente de Ivy, ele apenas observava de longe esperando o momento certo para atacar sua presa e devorá-la por inteiro. 

Um dia um dos entregadores reclamou sobre o muquifo que ele tinha que ir todos os dias fazer entrega e Dante se lembrou do espaço patético que Ivy usava como camarim, em algumas horas local recebeu uma super reforma com uma elegante decoração e se transformou em um camarim de fato, já a sala de descanso foi alocada para outro lugar. Mariano ficou tão feliz com a generosidade do chefe que ofereceu mais um jantar com Ivy, no entanto, ele recusou dizendo que não era a hora ainda.

Ivy aparecia no palco com as roupas, acessórios e maquiagem que Dante havia comprado para ela e Ian sempre dizia como ela parecia feliz com tais mimos e como ela estava radiante com o novo camarim, porém estava começando a ficar incomodada, era coisa demais e ela não tinha mais onde guardar.

— Será que devo comprar para ela uma casa maior, então? — disse Dante tão sério que Ian não soube se era uma brincadeira ou não, mas ele deu um jeito de recusar, por mais que ele quisesse se mudar para um lugar mais próximo do trabalho, o Rei do Inferno não podia saber onde Ivy morava, se soubesse ele poderia aparecer a qualquer momento e descobrir o seu segredo.

— N-não acho que ela vá aceitar — gaguejou Ian tentando ser convincente.

— Você tem razão! — disse Dante olhando pro relógio ansioso pelo show daquela noite — É melhor esperar, uma casa é um presente de casamento e não de cortejo.

Os shows de Ivy estavam cada vez mais agressivos e expressivos, como se ela estivesse passando por algum tipo de crise, mas quando Ian foi questionado sobre o assunto tudo que recebeu como resposta era que ela estava tentando novas abordagens e estilos no palco.

Por mais que a desculpa dada por Ian não tenha convencido muito, Dante não teve muito tempo para pensar sobre o assunto, pois uma pequena briga interna entre a luxúria e a ganância estourou e teve que ser contida. O oitavo nível acusou o sexto nível de tentarem roubar seus clientes enquanto algumas pessoas vendiam seus corpos nos cassinos, porém o sexto nível alegou que não podia fazer nada se as pessoas apostavam o próprio cu e perdiam com certa frequência.

As discussões triviais deixavam Dante muito irritado, ele não havia se tornado o único mafioso na cidade quando destruiu toda a concorrência para acabar tendo que mediar conflitos bobos. 

Obviamente Mike lidou com tudo com muita destreza, instaurando um decreto que determinava que era terminantemente proibido apostar favores sexuais nos cassinos, porém se alguém quisesse pagar uma dívida com os cassinos ou com os agiotas usando o próprio corpo ela teria que passar a trabalhar em um dos bordéis, assim uma porcentagem iria direto para a casa e a outra direto para os credores e a pessoa não ganharia nenhum centavo até quitar tudo.

Claro que as pessoas responsáveis pela confusão foram severamente punidas pelo próprio Dante da forma que ele achou mais adequada. 

O mau-humor de Dante refletiu em seu comportamento na Boate Luxuria, na noite seguinte ele não aceitou nenhuma das mulheres na área VIP, todas lembravam a ele que seu precioso tempo havia sido desperdiçado por causa de alguns gigolôs e algumas putas que se achavam inteligentes o suficiente ao burlar o sistema do Inferno, ou ao menos tentar.

A área VIP foi esvaziada e Dante ficou acompanhado apenas por Ian, o rapaz parecia estar mais à vontade com a sua presença, porém a sua aparência estava ainda mais miserável, as olheiras que já faziam parte das suas feições estavam muito fundas e escuras, o seu semblante estava triste com uma expressão de derrota, porém seus olhos continuavam afiados, o que deixava o Rei do Inferno curioso e com vontade de perturbar o pobre coitado.

— Me diga Ian — disse Dante fazendo sinal para que o rapaz se aproximasse — Quando você acha que os caprichos da Ivy vão terminar? Eu já estou cansado dessas putas sem graça, daria tudo para poder saborear a minha rainha.

— E-eu não sei, senhor — começou Ian com o gaguejar que sempre aparecia quando ele falava com Dante, o Rei do Inferno achava que o pobre rapaz era gago, pois ele sempre se atrapalhava na hora de conversar com ele — O que faz da Ivy tão especial? 

— Ela teve a capacidade de me rejeitar — disse Dante enquanto obrigava Ian a se sentar ao seu lado, ele soltou uma baforada de fumaça sobre o rapaz e continuou — Na verdade, desde que eu a vi no palco a achei a coisa mais deliciosa que já coloquei os meus olhos em anos! Achei que seria uma conquista fácil como sempre, mas aquela mulher tem fibra! Ela tem tudo que eu espero em uma mulher, por isso preciso fazer dela a minha Rainha e para isso preciso tratá-la bem.

Parecia uma conversa entre velhos amigos, mas na realidade era tudo uma jogada de Dante, ele só havia dito os seus reais motivos, pois sabia que apesar de ter prometido não citar as conversas com ele, Ian contaria sobre as suas intenções para Ivy e que isso provavelmente tocaria o seu coração, afinal quem não gostaria de ser a Rainha do Inferno e governar toda a cidade ao seu lado? 

— O que quer dizer com rainha? — perguntou Ian pela primeira vez sem gaguejar.

— Ser minha esposa, é claro — disse Dante levantando o copo como se fosse brindar — e mãe dos meus filhos e herdeiros.