Em algum momento entre 936 a 990 da era dos heróis
Ji Young não era conhecida por ser voltada para festas, mas dessa vez precisava fazer um pequeno esforço. Um príncipe famoso estava dando um banquete. “Se o boato for verdadeiro, terei minha recompensa até o final da noite”. Ela não sabia o motivo, mas desde o dia que matou um ogro sequestrador de princesas, ela vem sentindo um forte desejo por caçar bruxas.
É claro que nem todas elas, ou mataria todo mundo! Seu trabalho era matar somente as bruxas que usavam seus poderes para fazer o mal, destruindo vidas inocentes e devorando criancinhas!
No meio dos convidados, havia uma mulher diferente de todas as outras. Ela era uma criatura má que corrompia a ética das bruxas para seduzir homens ricos com o único objetivo de matá-los, uma prática conhecida como “viúva negra”.
Ji Young não poderia entrar nas festas de biquíni, por isso precisou roubar uma loja de roupas chiques. Logo em seguida, já vestindo seu Hanbok, ela procurou por uma carroça que a levasse até a mansão com a mesma pompa de uma rica. Para sua sorte, uma donzela passeava numa carruagem pela estrada. Era de noite. Não tinha ninguém por perto, provavelmente um ótimo momento para roubar sem ser percebida.
— Senhora, tem uma mulher estranha parada no meio do caminho! — exclamou o homem que guiava os animais.
— O que será que ela está querendo? — perguntou a moça assustada.
— Não faço ideia.
Ji Young ficou parada no caminho. A carroça estava em alta velocidade, mas isso não parecia assustá-la. O cocheiro não sabia o que fazer. Teimosa como sempre, ela permaneceu parada esperando pelo seu alvo.
— Essa louca não está saindo do lugar!
— Não podemos atropelar ela — exclamou a mulher.
Ele freou o cavalo. A carroça quase tombou. Os cavalos relincharam. Ji Young saltou sobre suas cabeças e golpeou o cocheiro com um soco. Ele caiu para o chão inconsciente. A moça, delicada e assustada, não sabia se gritava ou fugia.
— Por favor, não me mate.
— Preciso de sua carruagem — sorriu Ji Young tomando as rédeas.
— Era só ter pedido!
— Se eu tivesse pedido, provavelmente não teria dado em nada.
— O que você fará com ela?
— Digamos que essa coisa pode me levar para dentro da festa do príncipe que todo mundo está falando.
— Por acaso essa festa seria a do príncipe Jina?
— Não me importo com nomes.
— Pelos céus, se você queria entrar na casa de meu irmão, era só ter pedido com mais educação!
— Seu irmão? Por que diabos você está aqui se a festa é na casa dele?
— Jamais gostei dessas festas. Estou passeando para poder dar uma desculpa pela minha ausência.
Ji Young a observou. Aquela poderia ser uma passagem mais segura para dentro da festa. O problema é que ela não confiava nem mesmo na sua sombra, quiçá numa desconhecida! “Ela pode ser uma das discípulas da viúva negra” Pensou enquanto fitava os olhos inocentes da moça.
— Está esperando o quê? — perguntou a garota.
— Também não faço a mínima ideia! — respondeu com uma expressão confusa.
— Posso colocá-la na festa, mas não garanto se ele vai deixá-la entrar.
— Por quê? Sou sua convidada, ninguém negaria a entrada de uma amiga da própria irmã!
— Meu irmão não seria o maior exemplo para você usar.
— Me conte mais sobre seu irmão.
— Jina é o homem que todas as mulheres desejam, até mesmo eu já me peguei admirada por ele, mas nenhuma nunca conseguiu dominar o seu coração.
— Um príncipe não precisa de controladora de corações — zombou Ji Young.
— Era o que todos pensavam — suspirou — até chegar aquelas três idiotas e estragarem toda nossa vida!
— Idiotas? — perguntou Ji Young com uma expressão curiosa.
— Sim, vai me dizer que você as conhece?
— Me diga um pouco sobre essas idiotas.
— Elas eram criadas que foram contratadas para me servir, porém, desde o dia que chegou em nossa casa, elas têm procurado formas de atrair o meu irmão.
— Por acaso, essas três já deram alguma bebida para ele?
— Claro que já — exclamou a moça — elas são encarregadas da nossa comida!
— Qual era a cor da bebida?
— Rosa.
Ji Young cessou suas perguntas. Ela conduziu os animais até a casa daquela moça já com uma ideia de quem poderiam ser os seus alvos. “As coisas estão boas para mim. Três viúvas negras serão o suficiente, além disso, essa burguesinha é uma gracinha, talvez consiga alguma coisa" Pensou Ji Young. Mesmo sendo uma caçadora incrível, ela ainda era uma mortal e queria encontrar um par romântico!
...
Era uma grande casa no estilo Hanok. Os convidados pareciam ostentar seus convites ao guarda da entrada. Jina era daqueles príncipes cheios de fama, um popstar em nossos dias. Imagine como deve ser divertido ser convidado para a festa do seu ídolo favorito? Devia ser esse mesmo sentimento que os ricos tinham ao participarem da festa de Jina.
A carruagem parou em frente à entrada. O guarda deixou os convidados de lado para ajudar a irmã do seu senhor a pousar seus pezinhos no chão. Ji Young desceu logo em seguida. O guarda sorriu. Finalmente sua patroa tinha arrumado uma amiga! Pelo visto ela devia ser um pouco solitária.
— Bae, essa daqui é uma amiga que deseja pernoitar comigo — disse a moça.
— A senhorita sabe que fui instruído pelo seu irmão a não permitir a entrada de estranhos nos dias de festa.
— Você sempre disse que eu devia ter amigos, agora que consigo uma amiga você vai impedi-la de entrar na minha casa?
— Ela pode ser uma mentirosa querendo se aproveitar de você para entrar na festa.
— Impossível, a coitadinha me conheceu há semanas e nem fazia ideia sobre minha parentela.
— Se eu deixá-la entrar, você promete que não vai causar confusão?
— Bae, nós somos quietinhas!
Bae permitiu a entrada um pouco relutante. Para ele, tinha um ar misterioso no olhar de Ji Young, mas ele não queria acabar com a alegria da mulher que viu crescer.
— A festa é somente para amigos, todavia ninguém perceberá que você está aqui — afirmou a moça guiando Ji Young por sua casa.
— Qual a probabilidade de encontrarmos com as três criadas que você mencionou?
— Basta me seguir e você vai encontrá-las, sua bobinha.
Ji Young observava cada canto da casa, analisando todos aqueles rostos com sorrisos forçados. “Parece que quase ninguém desse lugar está se divertindo. Seria esse algum truque da bruxa?” A música era a única coisa alegre. Mulheres ficaram paradas enquanto homens bebiam sem dar muito interesse para elas.
— Posso saber porque você olha tanto para as pessoas?
— Gosto de ver sorrisos genuínos — zombou Ji Young.
— Ninguém nunca entrou aqui por vontade, mas, para conseguir status.
— Dá para perceber no olhar deles — Ironizou — Ricos sendo ricos, nunca vão mudar.
— Aquele é o meu irmão — afirmou a moça apontando na direção de Jina.
Jina era um homem alto. Cabelos negros. Pele branca igual a leite com um sorriso que fazia qualquer mulher ficar louca. Foi o que aconteceu. Ji Young ficou apaixonada. “Pelos céus, me sinto diferente”. A moça percebeu que o olhar raivoso foi convertido numa mistura de sorriso com ternura.
— Vai me dizer que ficou apaixonada? — perguntou.
— Como não ficar apaixonada? — disse Ji Young caminhando na direção de Jina.
— Sempre o mesmo, toda mulher que levo para casa fica apaixonada por ele e me abandona! — exclamou a jovem com os braços cruzados.
Ji Young não conseguiu controlar seus impulsos. Ela passou pela multidão, provocando caretas no rosto das damas que queriam tentar a sorte com o bonitão. Jina sorriu ao vê-la o encarando com um olhar tímido e gentil. Nem mesmo os mais poderosos conseguiram fazer esse feito! “Esse rosto é tão lindo!” Pensava Ji Young sem conseguir controlar sua mão que passeava pelas bochechas dele. Jina fez uma careta de repulsa e empurrou ela para longe de si. Risadas. Ji Young não deu a mínima. Ela voltou para perto do príncipe mais atiçada que um demônio! “Preciso ter esse homem desesperadamente ou morrerei” Pensou ela forçando um beijo. A multidão riu. O Príncipe a jogou para o chão gritando para os seus homens tirá-la de perto dele.
— Quem é você? — perguntou Jina.
— A mulher que vai fazê-lo feliz! — respondeu Ji Young se esforçando para sair das mãos dos guardas.
— Senhor, essa mulher é a amiga da sua irmã — respondeu Bae lutando para não cair.
— Mas que irmã? — perguntou Jina assustado.
Bae não compreendeu o que Jina dissera. Como pode se esquecer da própria irmã? A garota que cresceu junto dele e virou mulher não faz nem dez dias! Ji Young jogou o homem no chão. Os outros tentaram detê-la, mas a habilidosa guerreira os derrubou como se não fossem nada.
— Pelos céus, que diabos é você? — perguntou Jina correndo de Ji Young.
— Sou a mãe dos seus filhos!
— Meus deuses, não tenho nem filhos?
— Mas terá!
O príncipe caiu nos pés de uma linda mulher de seios maiores que o próprio corpo. Ela aplacou Ji Young com um sopro de sua boca. O vento foi tão forte que fez a guerreira ser arremessada em direção à multidão. Uma terceira figura, agora com um imenso quadril, pegou a guerreira pelos cabelos e a arrastou até a saída.
— Uma caçadora de bruxas, era o que precisávamos! — disse a mulher num tom irônico.
— Me solta, ele é meu homem!
— Querida, você está enfeitiçada — afirmou empurrando-a para fora da propriedade do príncipe.
Ji Young parou sua tremedeira. O feitiço acabou. Ela olhou para a bruxa e cerrou os dentes de raiva ao perceber que acabou de passar por um papel de otária.
— Deixe-me adivinhar… — sussurrou Ji Young — vocês realizaram um feitiço poderoso para provocar paixão nas pessoas que chegam perto de Jina.
— Errado — Afirmou a irmã do príncipe surgindo em meio a névoa — Fizemos um feitiço para manter Jina vivo enquanto fazia as pessoas acreditarem que sou a irmã dele por uma magia de memória.
— Porque diabos você trouxe uma caçadora até nós? — perguntou a bruxa de quadris grandes.
— Eu só queria alguém que me libertasse desse inferno, mas vejo que cometi um erro, ela é fraca demais para fazer o serviço.
— Quantos anos tem Jina? — perguntou a guerreira.
— Séculos! — gritou às duas mulheres emitindo raios pela ponta dos dedos.
Ji Young saltou para trás. Sua espada estava enfeitiçada com um feitiço de invisibilidade. Ela sacou sua arma e a usou para conter os raios. As pessoas que estavam na festa se assustaram com o barulho. O próprio Jina constatou o que estava acontecendo ao lado da bruxa de grandes peitos.
— O que diabos é aquela louca? — perguntou alguém da multidão.
— Uma caçadora — respondeu outro.
— Pensei que essas mulheres não viviam em nossas bandas.
— Bruxas tem em todos os reinos — afirmou a bruxa caminhando em direção à briga — enquanto houver magia, sempre haverá uma de nós.
Ji Young estava perdendo controle dos seus braços. A terceira bruxa entrou no combate, piorando as coisas para ela. A guerreira não tinha outra escolha a não ser usar magia. “Não gosto de usar magia. Sinto-me fracote apelando para isso, contudo deixarei o meu ego de lado ou perderei essa luta.”
— Vejamos do que vocês são capazes — gritou a guerreira — contra a verdadeira magia!
— Verdadeira? — disse a bruxa moça — Você é só uma caçadora ridícula!
— Flores, apoje a meu favor! — gritou Ji Young já sentindo seus pés perderem o equilíbrio.
Uma corda verde enfeitada com flores saiu do chão e se enrolou nos pés da moça. Ela gritou enquanto os espinhos começaram cobrir o seu corpo e perfurá-lo como pregos. A bruxa de quadris grandes tentou socorrê-la, cessando seu ataque. Ji Young aproveitou a oportunidade para enfiar sua espada na barriga da sua inimiga, que explodiu como uma bexiga cheia de ar e voou para bem longe dali! Os convidados da festa correram em desespero.
A bruxa de peitos grandes não aguentou ver suas duas companheiras derrotadas diante dos seus olhos. Ji Young correu em sua direção gritando igual a uma besta. Ela não queria morrer sem lutar, por isso convocou flechas fantasmas contra nossa guerreira.
— Bom truque — disse Ji Young — pensei que não teria um desafio decente.
Com sua espada, Ji Young quebrou as flechas e a arremessou com força na direção da bruxa. A última coisa que a bruxa sentiu foi a lâmina perfurando o seu crânio. Ji Young puxou sua arma e mirou sua ponta no rumo de Jina.
— Acho melhor jogar esse colar no lixo — gritou a guerreira — ou vou cortar o seu pescoço.
— Tudo bem, só não me mate — clamou Jina jogando o colar no chão.
Um velho esquelético apareceu no lugar daquele belo príncipe. Ele caiu no chão tossindo. Parecia estar prestes a morrer de velhice. Ji Young pegou o colar e o colocou de volta no pescoço dele.
— Esse feitiço não funcionará por muito tempo — disse ela — ele pode deixá-lo jovem, mas nunca conseguirá enganar a morte.
— Elas vieram até mim, dizendo que isso poderia me salvar, porém, queriam que eu fosse o seu fantoche.
— Não se preocupe, bruxas malignas realizam isso o tempo todo. Elas manipulam homens fracos para poder viver na mordomia. As verdadeiras bruxas usam seu poder para perpetuar o bem, não o mal.
A moça se arrastou até os pés de Ji Young. Ela estava sofrendo. Ji Young tinha uma só regra, “Mate todas as bruxas que quebram regras”. Mesmo sabendo qual era o seu dever, Ji Young preferiu quebrar seu código. Ela conjurou um feitiço que fez a mulher ficar intacta de novo.
— Por que você fez isso? — perguntou ela.
— Algo em seus olhos dizia que você é mais uma vítima das outras que matei do que uma bandida.
— Elas me criaram desde pequena, não podia dizer não para elas ou seria morta — chorou a moça.
— Somente nós duas sabemos o que você fez aqui. Pegue suas coisas e volte para a escola de bruxas e finja que nada aconteceu.
— Você não contará nada para minhas superioras?
— Se você voltar a engendrar bruxaria maligna outra vez — disse Ji Young caminhando em direção a carroça — provavelmente matarei você sem pensar duas vezes.
Ji Young voltou a usar sua roupa favorita, visitou a casa das donzelas mais próxima, saciou sua luxúria e depois saiu em busca de mais uma aventura.
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