Em algum momento entre 936 a 990 da era dos heróis
Ji Young, a guerreira errante, estava caçando o ogro sequestrador de princesas. Segundo os boatos, a criatura vivia na floresta sombria. A recompensa mencionava uma gratificação bem gorda pela cabeça dele.
— Quem é você? — perguntou um fantasma surgindo do meio das árvores. Seu aspecto era de um cadáver em decomposição com uma luz alaranjada iluminando sua pele — Essa floresta não é lugar para mulheres solitárias.
— De onde você veio? — disse a guerreira com uma expressão neutra.
— Não está vendo que estou morto? — respondeu o velho apontando para a ferida na sua barriga.
— Não tenho mais medo dos vivos, quiçá dos mortos.
— Todas as pessoas que me viram fugiram de mim, ainda bem que você não tem medo da minha aparência.
— Você viu um ogro passar por essas bandas, bom homem?
— Talvez eu tenha visto, mas só te direi o que vi se prometer que vai me ajudar — disse o fantasma.
— Prometer o quê? Acredito que não estou na posição de ressuscitar os mortos.
— Você não parece ser uma boa pessoa, visto que sua face é magra e expressa pura malícia.
— Não importa quem eu seja, mas o que quero. Não sou uma pessoa boa e muito menos confiável, porém, sinto que para conseguir uma resposta da sua boca preciso provar ser essas duas coisas. Me diga, o que tenho que fazer para você me mostrar o caminho que me leva ao ogro?
— Nessa floresta tem uma casa feita de ossos. Nela vive uma bruxa que mata sem piedade.
— O que você quer que eu faça?
—Me lembro de caminhar com minha filha quando uma flecha amaldiçoada me acertou. Vi uma mulher sair da névoa e roubar minha amada filha. Tentei ajudá-la, mas a morte me levou. Agora estou preso nesta terra, e o único jeito de conseguir sair daqui é me desapegando da minha filha.
— Quem garante que a sua filha está viva?
— Eu não sei, mas somente sinto — chorou o velho fantasma.
— Me aponte a direção da casa dessa bruxa e ainda hoje salvarei a sua filha, mas depois vou querer a localização da caverna do ogro ou eu mesma mato ela.
— Tudo bem, eu não sou mentiroso. Se salvar a minha filha eu te levo até o ogro.
— Estou caminhando há dias, contando somente com a sorte para encontrar esse maldito ogro, e não vou perdoar você se estiver me enganando.
— Vejo que você é corajosa e não tem medo de nada. Confio que a tua espada matará a bruxa. Olhe para direita e siga reto por dois quilômetros. Quando ver uma fogueira, terá chegado a casa maldita.
— Se você já sabia o caminho, por que não entrou sozinho? Sua filha poderia estar livre neste momento.
— Na entrada da propriedade existe uma fogueira que impede os mortos de entrarem no terreno.
— Me aguarde aqui, logo estarei de volta com a menina.
Sem nem ao menos se despedir, a guerreira deixou o fantasma sozinho. Ela seguiu o caminho indicado, preparando-se para lutar contra a bruxa assassina. Sua experiência com seres mágicos a capacitava para enfrentar um ogro, mas não era suficiente para encarar uma bruxa cheia de feitiços.
Ela caminhou até chegar ao fim do caminho, onde se encontrava uma fogueira roxa iluminando a escuridão. "Nunca vi uma fogueira dessa cor. Provavelmente o fantasma estava certo sobre essa mulher. Se eu passar por essa luz, alarmes serão disparados e com certeza algo virá ao meu encontro.
Sem perder tempo, nossa bela guerreira atravessou a luz rumo à casa inimiga. Ao colocar os pés do outro lado, um vento agitou as folhas das árvores, fazendo a pele branca da guerreira se arrepiar com seu toque. "Isso só pode ser o sinal", pensou enquanto preparava sua espada.
— Quem é você? — sussurrou uma voz feminina no ouvido da guerreira.
— Meu nome é Ji Young e venho resgatar a criança que você roubou dos pais — disse Ji Young com uma expressão raivosa.
— Você é muito magra para ser uma guerreira errante, qual a sua verdadeira classe?
— Acredito que isso não importa muito para uma bruxa que está prestes a perder a cabeça.
— Hum… você é muito bonita! Será que podemos conversar a sós? Faz anos que não converso com uma mulher bonita.
— Mulher, apareça logo, venha lutar comigo, não quero perder tempo com você.
— Sinto muito, mas gosto de fazer monólogos do mal antes de matar minhas vítimas.
— Me leve até você para conversarmos melhor.
— Para você me matar como deseja fazer com o ogro?
— Como você sabe disso? — Indagou Ji Young com uma expressão curiosa.
— É o meu segredinho.
— Bruxa, está brincando comigo? Julga que sou alguma piada? Venha até mim ou me mate, mas nunca me trate como palhaço.
— Palhaço é o pai da princesa que você procura. Ele deixou sua filha se apaixonar por um ogro e agora manda você atrás dele para matar a criatura e colocar juízo na cabeça da filha estúpida.
— Também ouvi esses boatos sobre a princesa e o maldito ogro — sorriu Ji Young — Agradeço a todos os deuses por eu não ser ela.
— O fantasma que te mandou, ele é mentiroso. A menina não é filha dele. Esse ser é uma manipulação para atrair você até aqui!
— Devo acreditar na palavra dele ou na sua?
— Essa menina é uma deusa disfarçada de criança.
— Os deuses não gostam de brincar no nosso mundo. Tem certeza que você não está louca ou algo do tipo? — zombou Ji Young.
— Não estou louca! Ela é uma deusa que veio ao mundo com um plano maligno que envolve quebrar as leis da natureza para criar um ser humano.
— Bruxa, acredita mesmo nessas palavras que acabou de dizer? Como pode uma menina ser uma deusa adulta querendo criar homens como se fosse Agapi e Sofia?
— Como as minhas irmãs, você zomba de mim. Elas pensaram que enlouqueci quando levei a menina até elas. Tolas, sei que estou certa e posso provar isso!
— Se as tuas palavras fossem de uma pessoa normal, as tuas irmãs teriam dado ouvido a você.
— Posso provar que estou certa, foi elas que não quiseram se rebaixar a mim, por pensarem serem superiores a minha classe.
— Pare de lamentar e venha até aqui provar que a menina é uma deusa. Se você estiver certa, garanto que eu mesma vou te ajudar a matar essa deusa, mas ficar só falando não vai nos levar a lugar nenhum — Ji Young por um momento conseguiu enganar a bruxa concentrando-se na sua respiração, impedindo a sua inimiga de observar as suas verdadeiras intenções.
Diante dos seus olhos, as raízes podres das árvores começaram a se enrolar nos pés de um velho espantalho, transformado em tendões e carne humana por onde passava. Em questões de segundos uma mulher de rosto quadrado com olhos negros sedutores e uma boca pequena com lindos lábios avermelhados, surgiu diante dela.
— Por que esconder sua beleza nessa floresta abandonada? — sorriu Ji Young para a linda mulher de chapéu pontudo.
— Se aproxime, mostrar-te-ei os verdadeiros planos da menina deusa. Confie em mim quando digo que os seus olhos vão se abrir para a verdade.
— Antes de deixá-la fazer seja lá o que for na minha cabeça, será que posso saber o seu verdadeiro nome?
— Saturnina Décima. Sou uma das últimas bruxas que ainda tem bom senso.
Ji Young caminhou lentamente na direção da bruxa. Saturnina por um momento se esqueceu do que queria, uma vez que algo em sua adversária estava chamando a sua atenção. “Até agora ela não pensou em nada! Nunca vi uma pessoa manter a mente tão concentrada”
— Estou aqui, mostre a tal verdade que você me disse que mostraria — falou Ji Young diante de Saturnina.
A bruxa colocou suas mãos no rosto esquelético de Ji Young e pronunciou palavras estranhas em uma língua há muito tempo esquecida.
De repente, a Bruxa foi interrompida por uma cabeçada. Ela caiu no chão sentindo tontura. Ji Young, com um único golpe da sua pesada espada, acertou a infeliz. Ela se surpreendeu. Em vez de uma cabeça, o que verdadeiramente caiu, foi uma abóbora sorridente.
Pensei que teríamos uma luta de verdade. Julgo que não se faz mais bruxas como antigamente — sussurrou Ji Young para o espantalho— se me der licença, entrarei nessa tua casa horrorosa.
A guerreira avistou uma pequena porta coberta por folhas amareladas pelo tempo. Ela deu um chute, derrubando-a. O primeiro cômodo que surgiu na sua frente era um salão sinistro. Humanos feitos de cera enfeitavam o local. O mais estranho era o seu tamanho. Essa sala no mínimo era dez vezes maior que a própria casa.
Com certeza é algum feitiço de encobrimento que a bruxa usou para esconder algo muito maior do que uma pequena casa no meio do nada. “Não faz sentido. Aquela bruxa era muito fraca para fazer tudo isso sozinha”, pensou Ji Young caminhando a passos lentos.
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