O imperador, em toda a sua ira, observava o menino brincando com meu cabelo. Meus irmãos mais velhos e os anciãos estavam todos diante dele, cochichando insultos contra meu filho. Ninguém queria que uma criança bárbara vivesse em nossa terra. O que o povo deles fez conosco é imperdoável, mas descontar tudo isso num pobre menino é idiotice. Sei que já pensei como eles, mas hoje entendo que a paz só poderá ser alcançada com o amor, não com o ódio.
— Emika, por favor, repita o que você disse, acredito que bebi demais para compreender — afirmou o velho pondo a mão no rosto com ar de decepção.
— Eu disse que quero que o senhor me deixe adotar essa criança como meu filho — respondi. Minhas pernas tremiam e o medo de ver os guardas degolando o menino me atormentava.
— O povo desse verme atacou nossas vilas e matou meu povo, por qual motivo eu deixaria você viver com ele debaixo do meu teto? — gritou.
— Você prometeu que me daria tudo o que eu quisesse! — afirmei.
— E eu dei! Você é minha filha, tudo o que é meu é seu, contudo, pedir para eu aceitar esse verme como meu neto… é uma coisa que eu nunca lhe darei.
Aqui está a correção ortográfica e uma pequena melhoria na redação:
— Mentira! — protestei — Você me trata como qualquer uma desde o dia que descobriu que não nasci com a beleza de minha mãe. Nunca ousei te pedir nada. Minhas irmãs ganharam joias das mais caras que Sakura já viu; até mesmo meus irmãos ganharam coisas caras, mas eu, a filha odiada, só peço a alma de um ser insignificante que não custará nada, e você nega como se fosse pedir o seu trono.
O imperador nada disse por dois minutos inteiros. Ninguém ousou interromper seus pensamentos. Não sou muito de falar com ele, mas conheço muito bem seu ego. Se ele prometeu algo e não fez, pode apostar que você o terá nas suas mãos.
— Nunca te dei um presente digno, concordo com você, mas não posso dar esse menino, não sem um desafio digno da vergonha que passarei por ter um inimigo como meu neto.
— Pai, você está louco? — afirmou meu irmão Hiroki — Uma criança dos bárbaros na realeza?
— Silêncio, eu não mandei você abrir sua boca enquanto falo com sua irmã — gritou o imperador.
— Emika, você poderá ficar com o bárbaro se matar o urso Sourukira.
— Você está louco? Nem mesmo os maiores guerreiros conseguiram expulsá-lo de nossas terras, quiçá eu, uma mulher!
— Você deseja ou não o menino? — disse ele sorrindo.
Velho estúpido e nojento! Ele queria que eu desistisse do Isniffi, por isso propôs essa loucura. Abandonei o salão real e me dirigi aos cocheiros. Viajei com o Isniffi nos meus braços até o vale dos ossos, onde, segundo os sobreviventes, ficava a caverna daquela besta terrível.
A floresta era escura, úmida e cheia de árvores que abafavam o céu com suas folhas. Isniffi era inocente demais para saber o motivo de estarmos ali. Ele brincou com os coelhos, saltitou sobre a lama e me ofereceu uma fruta que provavelmente era venenosa; ainda bem que estudei botânica!
— Por que está chorando? — perguntou ele, limpando minhas lágrimas com seu dedinho.
— Estou com medo.
— Do quê? — De sermos mortos pelo... — foi então que me lembrei que ele era apenas uma criança e não queria preocupá-lo com problemas — cansaço, estou morrendo de sono!
Tinha um plano que provavelmente me faria uma pessoa pobre. Eu queria fugir com o Isniffi para as terras de Min-Su, onde arrumaria um emprego e o criaria como uma mãe viúva. O único empecilho era a raça dele. Os bárbaros são elfos dourados; todo mundo o reconheceria à distância!
— Pai! — gritou o pequeno apontando para um homem encapuzado que surgiu de uma névoa dourada.
Isniffi correu até o homem que o abraçou. Fiquei paralisada. Aquele ser não era um elfo, mas um deus! As lendas eram claras. Cabelos brancos, olhos amarelos e um corpo extraordinário, definitivamente o deus das tempestades.
— Vejo que você achou uma mãe, como disse — afirmou.
— Pai, a mãe que escolhi é a melhor mãe do mundo!
— E por qual razão você escolheu ela? — perguntou olhando-me com um sorriso amistoso.
— Ela é a princesa mais bela que já vi!
— Meu filho tem bom gosto, pelo visto herdou de mim. Jovem, por favor, se aproxime.
Caminhei em sua direção e fiquei de joelhos, temendo morrer. Como pode um bárbaro ser filho do deus das tempestades? Até onde sei, os deuses não fazem amor com humanos! Pensei enquanto ele ria de mim.
— Por que diabos você está de joelhos? — disse — Sou igual a você, acredito que até pior.
— Você é o deus das tempestades, não posso simplesmente me aproximar de você!
— Preciso que você me ajude com algo que custará sua eternidade — afirmou enquanto sentava ao meu lado.
— Como assim? — perguntei
—— Os deuses são uma raça que odeia os mortais e criou regras que nos proíbem de ter filhos mestiços. Há anos atrás, os deuses mandaram um exército de carrascos para o seu mundo com a intenção de tomá-lo, porém os heróis desse lugar são muito fortes, impedindo o nosso domínio. Fui encarregado de vir até vocês para exterminá-los, contudo, percebi que os mortais não eram vermes e sim pessoas incríveis. Fiquei três anos observando e invejando suas vidas. Por ironia do destino, andando pelas terras dos bárbaros, conheci a esposa do rei Maffi, a encantadora Kaira. Me apaixonei por ela. Aquele idiota não a tratava bem e queria mantê-la virgem como troféu. Não aguentando mais os meus desejos, me transformei no próprio Maffi. A visitava todas as noites e, quando menos esperava, ela ficou grávida do meu pequeno Isniffi. Maffi descobriu que ela estava grávida e, logo após ela morrer no parto, mandou trancafiar meu pequeno na prisão. Não podia interferir ou chamaria a atenção dos meus superiores, por isso criei ele na prisão até alguns dias atrás, quando o rei mandou levá-lo até seu salão de festas para matar meu filho.
— E como posso ajudar o senhor se sou somente uma humana? — eu disse, interrompendo o seu discurso.
— Se eu voltar para meu mundo com o Isniffi, os deuses vão matá-lo sem piedade. Mas se eu ficar aqui, ficarei fraco e, um dia, seremos mortos pelos próprios deuses que virão à minha procura. Na verdade, estou quase sem poderes e temo que logo eles virão me procurar.
— Eu não posso cuidar do seu filho, não tenho poderes e nem sou um guerreiro habilidoso! — afirmei.
— Você tem o výnami interior e isso é algo que nós, deuses, não temos. Darei todo meu poder a você e te transformarei numa deusa poderosa. É claro que morrerei quando eu fizer isso, mas sei que os deuses nunca virão atrás de você e, os humanos, nunca vão conseguir lutar contra uma deusa.
Ele descansou suas mãos sobre a cabeça do Isniffi e na minha. Uma energia bizarra saiu de seu corpo e nos envolveu. Vomitei sangue. Um sangue estranho e diferente do comum. Senti que já não era mais eu ali. Meu corpo mudou. Até mesmo meus olhos estavam diferentes. Raios emanaram dos meus pés. Duas botas de metal apareceram no lugar dos meus sapatos. Minhas roupas se rasgaram e uma armadura surgiu em seu lugar. Senti a força de um deus em minha alma. Aquele sentimento de fraqueza se foi e, em seu lugar, um coração de um deus pulsava em mim!
— Eu uni vocês dois com meu poder. Hoje, vocês têm o meu sangue, meu poder e minhas armas. Os dois são irmãos… mãe e filhos pelo poder do deus das tempestades! — disse ele caindo no chão.
Isniffi chorou… eu chorei. Aquele homem mal me conhecia, porém, confiou em mim a sua vida. Ele morreu para que eu me tornasse o que sou hoje. Jurei diante do seu corpo petrificado que protegeria o Isniffi até o fim da minha vida.
— Não chore, meu elfo de cabelos dourados — eu disse abraçando o menino — agora somos só nós dois.
— Você promete que não deixará o Isniffi? — disse ele chorando.
— Meu coração queima com o amor que sinto por você, nada nesse mundo me matará enquanto eu estiver do seu lado, meu pequeno.
— Agora temos que ir — afirmei colocando ele no chão — preciso matar aquele urso e esfregá-lo na cara do meu pai.
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