Pela sua janela, Sýnpam observava todos os deuses do reino de Cristal de joelhos diante da estátua do Imperador Draglicano. Aquilo era mais terrível do que ela estava imaginando!
— Você estava certa o tempo todo — disse uma voz vinda de suas costas.
— Patriarca da família do fogo, o que te trouxe a minha prisão? — perguntou Sýnpam sorrindo.
— Não finja que você não sabia que eu viria até você — rosnou o líder do fogo.
— O que tem naquela estátua?
— Sei o que tem, mas não posso falar, tenho que respeitar a opinião do meu imperador — afirmou Sýnpam —, além disso, foi você que me corrigiu quando eu disse haver demônios vivos.
— O que você quer em troca de sua ajuda?
— Agora quer minha ajuda? Agora que o seu imperador se tornou um lunático por poder? Sei que você sabe, mas não custa lembrar… Draglicano destruirá todos os patriarcas e Matriarcas, fazendo somente ele o supremo de todos os deuses. Você e todo o conselho serão mortos até o final do dia, me diga, o que vocês estão dispostos a dar em troca da minha ajuda?
— Você ganharia respeito, honra e glória.
— Convenhamos, isso não serve de nada… quero o trono — confessou Sýnpam.
— O trono?
— Me façam imperadora e, em troca, vou revogar as leis dos deuses, dando mais poderes a cada família, além de um exército pessoal a cada uma com a condição de que seguirão a minha ordem quando o assunto for os mortais.
— Você gosta tanto assim dos mortais? Eles são vermes que devem ser submissos.
— Eles são especiais e devem ser protegidos por nós… essa é a minha decisão final.
— Que seja… Os mortais são seus, faça o que você quiser com eles.
— Tudo bem — afirmou Sýnpam —, me faça sentar no trono e vou cumprir o que prometi.
O patriarca da casa do fogo convocou todos os outros na sala do conselho, enquanto o imperador era venerado pelas multidões. Ele convenceu os membros do conselho a coroarem Sýnpam como imperador dos deuses por decreto sagrado. Os deuses inventaram a política, antigamente os mortais não tinham leis e decretos, mas depois da escravidão divina, aprendemos com os capitães como fazer reinos e como criar leis e todo essa baboseira que você já conhece.
— Aqui está a coroa, minha imperadora — falou o líder do fogo se ajoelhando diante de Sýnpam.
— Não temos muito tempo, convoque o exército e evacue a cidade Cristalina imediatamente, mas sem fazer barulho, ou eles vão desconfiar.
— Quem vai desconfiar?
— Aquela estátua tem um exército de demônios… vi isso no momento que Draglicano colocou essa coisa em nossa terra — respondeu Sýnpam ajudando o líder do fogo a se erguer do chão.
— Um exército? — perguntou ele assustado.
— Se prepare, essa noite vamos lutar até o dia clarear, a prioridade é proteger o povo — falou Sýnpam com ar preocupado.
Draglicano, em seu trono, escutou os passos das botas dos soldados. Seu ego era tão grande que nem desconfiava que uma lança afiada seria enfiada em sua barriga pelas mãos da sua inimiga. Ele foi morto silenciosamente, para que o povo não percebesse o ato. Um dos soldados mandou os mensageiros se espalharem dando a notícia de que o imperador queria que o povo fosse para casa. Sýnpam não quis ficar escondida, ela vestiu uma armadura de guerra e foi na linha de frente ao lado dos capitães. “Se eu estou certa, essa estátua ganhará vida quando atacamos” Pensou ela enquanto passa os dedos em sua bola de Cristal.
— O povo já está voltando para suas casas — disse um dos generais.
— Mande essa carta ao líder do fogo — afirmou Sýnpam entregando o papel nas mãos do general.
…
Sýnpam deu o sinal para os homens atirarem flechas de raios contra a estátua. A multidão de guerreiros divinos estava a metros de distância daquela coisa. Os raios acertaram a pele azulada da estátua, fazendo-a gritar de dor. Sýnpam sorriu. Um truque baixo vindo dos demônios. “Como pode o maldito imperador dos deuses acreditar nessa idiotice!”
A estátua fitou furiosa o exército de deuses. Ele abriu sua boca e cuspiu os demônios guerreiros que estavam escondidos em seu ventre esperando o sinal para atacar. Sýnpam gritou. O exército de deuses avançou contra os demônios. A estátua mirou seus olhos para a cidade e lançou raio laser dos olhos contra a população. No reino dos deuses, as casas são feitas de Cristal puro, o lazer refletia sobre as paredes, fritando os curiosos que saíram dos seus lares para dar uma olhadinha na batalha.
Nessa época, havia poucas famílias de deuses, o equivalente a um terço do que existe hoje. Isso acontece porque cada família representa algo em nosso mundo. Isso ocorreu após os eventos dos capítulos anteriores. Atualmente, existem famílias da natureza, do fogo, da pesca, do amor, da família, das rosas, do chocolate, entre outras. Para uma família ser influente no reino de Cristal, a coisa que ela representa precisa ser temida ou reverenciada pelos mortais. Ultimamente, as famílias da morte e da vida competem em tamanho e força. Se um dia começarmos a temer o palito de dente, a família que o representa provavelmente ganhará força, gerando novos filhos e filhas em resposta a essa energia. Por haver poucas famílias, foi fácil evacuar a cidade. Sýnpam só precisava se preocupar com a estátua e aquele exército de demônios.
— Não desista, estamos ganhando a batalha! — gritou Sýnpam sentindo o medo de seus homens diante daquela abominação com o rosto do antigo imperador.
O líder da família do fogo, unido com seus filhos e netos, fizeram uma parede de fogo cobrir toda cidade. A estátua não desistiu e continuou caminhando rumo à muralha ardente. Sýnpam deu outro sinal, agora para os homens da zona norte atirarem suas pedras contra as costas da estátua. As rochas, ao tocarem a pele azulada da estátua, ganhavam bocas com dentes afiados e devoravam o monstro como se fossem piranhas assassinas.
— Onde está Sablokrates? — perguntou Sýnpam para si mesma.
Os demônios, mesmo com suas armas caindo aos pedaços, continuavam o ataque. Sýnpam sentiu que outros demônios conseguiram atravessar a aura protetora. É claro que eles usariam um portal para trazer seus companheiros do outro lado! Sablokrates também estava entre eles. Ela fez questão de ver com os próprios olhos a queda de seus inimigos.
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