Trabalhos como esse eram comuns para Mike, era bem frequente o fato de que ele tinha que ir atrás de alguém na calada da noite e arrastá-las até os pés do Rei do Inferno, no entanto, dessa vez havia uma diferença, ao invés de esperar pela chegada do seu convidado no jardim da mansão em frente à piscina, Dante o receberia em seu próprio escritório.
A cova do leão era terreno proibido para a maioria das pessoas, apenas um grupo seleto podia acessá-la e deixar um verme como Ian entrar em seu território era no mínimo suspeito.
A mão direita do Rei do Inferno conhecia muito bem as manias do seu chefe, quando ele ficava obcecado por algo, ou por alguém, ele fazia tudo para dominar e possuir. Ele mesmo era um grande exemplo disso, não fazia parte dos seus planos entrar para o Inferno, mas Dante não aceitou um não como resposta, ele viu um grande potencial em Mike e como sempre estava certo, não demorou muito para que o novato provasse o seu valor e se tornasse o Príncipe do Inferno.
Mike estava realmente curioso, tentando adivinhar quanto tempo Ivy levaria para sucumbir aos desejos e caprichos de Dante e quanto tempo levaria até ele se cansar e descartá-la, como sempre. Apesar de ser a primeira vez que o Rei do Inferno ter sido rejeitado por uma mulher e ter que correr atrás dela, Mike tinha certeza que não ia durar, pois isso era o que Dante era, uma pessoa sem nenhum tipo de vínculo pessoal e que nunca almejou ter um.
Ele tinha que admitir que a tal da Ivy era espetacular, mas nada jamais agradaria o Rei do Inferno por muito tempo, afinal nada nem ninguém chegava aos pés dele, nada nem ninguém era tão especial quanto ele, ou tão interessante, ou tão inteligente, ou tão poderoso. Ele sempre se achava superior e as pessoas ao seu redor não passavam de ratos imundos.
A única pessoa que se aproximava de ser vista como gente até então era Mike, por algum motivo o Rei do Inferno o via de uma forma especial e por isso fez questão em tê-lo a seu lado, tornando-o seu braço direito e mais leal integrante de toda organização, o que Mike falava não era questionado, nunca. O mesmo fato curioso estava acontecendo com Ivy, ele via algo naquela mulher e simplesmente não podia deixá-la ir e agora um pobre rapaz iria sofrer com os caprichos de Dante, já que para ele não importava os meios, apenas os fins.
Era incomum que ele não houvesse tomado a mulher à força, um homem como Dante não levava a rejeição de uma forma agradável, ele sempre convencia as mulheres a fazer tudo que ele queria, fosse com dinheiro, com drogas, ou ameaças, mas no fim todas cediam, todas terminaram de quatro em sua cama.
O mais estranho de tudo era o fato dele dar tanto espaço para que a mulher fizesse o que quisesse, inclusive fugir dele, seu comportamento era completamente incoerente.
Com pressa, Mike bateu na porta do apartamento de Ian, quanto mais ele demorava, mais violentas as batidas se tornavam, até que finalmente um rapaz vestido com roupas surradas, que ele provavelmente usava para dormir, e uma expressão assustadoramente abatida, abriu a porta.
A falta de expressão usual de Mike foi mantida enquanto ele desferiu um soco certeiro na boca do estômago de Ian, suas mãos formigavam pedindo por mais ação, porém não houve resistência, o rapaz caiu de joelhos e gemeu.
Um pouco desapontado, pois o Príncipe do Inferno contava com uma briga, ele sempre esperava poder entrar em uma briga, Mike amarrou e vendou o jovem que se contorcia no chão e o jogou em cima do seu ombro como se fosse um saco de batatas.
Ian não se debatia como o esperado, apenas gemidos quase inaudíveis saiam de sua boca, frustrado, Mike o jogou no banco do fundo do carro e olhou com desprezo para aquela figura digna de pena que ainda se retorcia de dor e gemia baixinho.
Mike já havia visto Ian diversas vezes e havia pesquisado tudo sobre a vida do rapaz, mas parecia que a cada dia o jovem ficava mais abatido, mais fraco, mais patético.
Olhando pelo retrovisor ele viu Ian se debatendo como um peixe que acabou de ser tirado da água e lutava pela sua sobrevivência, talvez a dor do soco tenha diminuído e ele tenha recuperado um pouco da sua força.
O que o Rei do Inferno podia querer daquele ser tão insignificante? Mike sabia tudo que tinha para saber sobre ele e não tinha nada de interessante ou especial nele, até a sua ligação com Ivy era praticamente nula, tirando o fato deles serem colegas de trabalho, não havia mais nada ali.
Ivy, sim, era interessante, não havia um único registro sobre ela e Mariano se negava a falar qualquer coisa sobre ela, não que ele não tenha negado informação antes, ele sempre protegia as suas artistas, então quando ele disse que a cantora não queria ser encontrada e que não diria nada nem por dinheiro, Mike aceitou, pois fazia parte das regras do portão do Inferno, o administrador de cada entrada podia proteger a identidade dos seus clientes e funcionários. Ivy devia estar com medo e quem poderia culpá-la? O seu comportamento era completamente justificável, qualquer um em sã consciência fugiria de Dante.
Apesar de curioso e interessante, Mike manteve a falta de informação para si, pois as consequências caso o Rei do Inferno soubesse de sua incompetência seriam terríveis. Dante estava em um estado de obsessão tão grande que ele espalhou por todo o Inferno sobre o seu interesse pela cantora da boate Luxúria, só para garantir que ninguém ousaria se aproximar dela. Isso era raro e fascinante.
Ao chegar na grande Mansão, casa de Dante e sede do Inferno, com um suspiro Mike deu uma olhada mais de perto em Ian enquanto pressionava o corpo do rapaz contra o banco do fundo do carro, ele chorava baixinho com os olhos arregalados, pois a sua venda havia se soltado, aquele rosto abatido estava bem próximo e observando de perto o Príncipe do Inferno podia ver os belos e marejados olhos afiados cor de jambo, os espessos lábios quase sem cor, se aquele jovem tivesse com a saúde em dia ele seria realmente bonito.
Com movimentos mais bruscos que antes, a venda que pendia do rosto do rapaz foi retirada e os seus braços foram libertados, ele não iria lutar, então não tinha motivo para restringir aqueles membros, mas as pernas continuavam bem amarradas e para a tristeza de Mike a sua previsão estava certa, não houve resistência, não houve luta.
O rapaz era mesmo um caso perdido, era apenas um zumbi que não podia nem implorar pela própria vida, era perceptível seu medo e confusão, porém ele não disse uma única palavra para Mike, como um saco de batatas Ian foi carregado até o escritório de Dante e jogado sob seus pés.
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