Pela primeira vez o Rei do Inferno desceu da área VIP para se misturar aos reles mortais, obviamente ele estava na melhor mesa e com a melhor vista onde fumava o seu charuto mesmo sendo uma área onde era proibido fumar, uma voz distante chegou a tentar avisá-lo, mas Dante ignorou, pois só tinha olhos para o palco enquanto esperava o show.
Ian havia feito sua parte, ele realmente fez com que a canção fosse executada e ela soou de uma forma fantástica na voz de Ivy, assim como Dante imaginava, aquele belo corpo se mexia de uma forma quase hipnotizante, o homem parecia se deliciar com cada nota, um sabor tão delicioso que ele passou a língua nos lábios inferior e o mordeu, seus olhos brilhavam e uma excitação nunca sentida antes tomou conta, ele precisava daquela garota e ela seria dele como ele desejava.
— Eu quero ela! — exclamou ele apontando para o palco.
Ao terminar o show, Dante se dirigiu ao camarim improvisado, com um lindo buquê de rosas que ele fez um de seus homens comprar às pressas, bateu na porta e ouviu a doce e adorável voz responder.
— Entre.
Ele entrou e deu uma olhada ao redor, revirando os olhos para aquele muquifo até avistar Ivy que estava sentada em um banco colocado em frente a uma cômoda velha e um espelho embaçado retirando o batom dos seus delicados lábios, Dante olhou para aquele movimento, o algodão sendo passado de leve na boca vermelha, deixando-o bagunçado e com uma bela mancha, ele queria ser a pessoa a borrar a maquiagem dela, desarrumar o seu cabelo e rasgar a sua roupa, tais pensamentos fizeram seu baixo ventre esquentar, mas esse não era o momento, ainda não.
— Boa noite, senhorita — disse Dante em um tom estranhamente gentil, como um bom líder ele sabia como ser doce e gentil, só não achava necessário agir de tal forma frequentemente, então essa era uma de suas faces muito rara de se ver. — Vim agradecer pelo belo espetáculo, a música ficou perfeita em sua voz. — Ele entregou as flores, mas não sorriu.
— Obrigada — respondeu ela com um sorriso acanhado. - São lindas.
— Acho que flores não são o suficiente para demonstrar minha gratidão — Dante se aproximou, sua figura era imponente e ameaçadora — Que tal um jantar?
— Temo que hoje não será possível — disse Ivy mordendo o lábio inferior com força.
— Te espero lá fora, então... — começou Dante, até entender a real resposta. — O quê?!
— Eu já jantei e tenho que acordar cedo amanhã... — Ivy olhava para o chão e evitava o olhar penetrante do imenso homem à sua frente — terei que recusar o convite.
Os seus ouvidos deviam estar enganados, ele não ouviu direito, acabara de ser rejeitado tão educadamente, logo ele? Só podia ser uma piada de muito mau gosto.
— Peço desculpa pelo inconveniente - completou Ivy levantando a cabeça e seus olhos trêmulos mostravam o mais puro medo — Na próxima vez então?
"Ah, ela está com medo..."
— Na próxima vez, então. — concordou Dante olhando de cima para aquela criatura tão adorável enquanto sua a língua tocava o interior da bochecha e foi embora batendo a porta tão forte que não pôde ouvir o suspiro de alívio por trás dela.
Ninguém nunca havia rejeitado Dante, o rei do inferno, aquele homem que sempre tinha o que queria nem que tivesse que tomar a força, um brinquedinho como aquele seria muito fácil de conseguir e algo em seu âmago dizia que ele não iria enjoar fácil dessa vez, ela tinha uma faísca em seus olhos que a tornava muito interessante e se ela fosse tão saborosa quanto parecia ele talvez até fizesse dela a sua rainha.
Porém, o homem que era temido e respeitado por todos, o grande poderoso mafioso que bastava estalar os dedos para que seus desejos fossem realizados, não esperava que uma coisinha tão linda fosse tão sorrateira. Era simplesmente impossível encontrar com Ivy fora do palco, ela parecia desaparecer em um piscar de olhos sempre que Dante ia atrás dela.
Ele podia mandar seus homens tirá-la do palco à força e levá-la até ele, mas por alguma razão ele queria tratá-la diferente, se ela fosse mesmo a sua futura esposa ele tinha que começar com uma boa impressão.
Agora as suas idas à ala VIP não envolviam mais aquele sexo sem graça com aquelas mulheres sem graça, ele já havia enjoado de todas e precisava da sua mais nova peça de apreciação para devorá-la sem moderação, então tudo que ele fazia era beber enquanto o jovem bartender tentava fingir não tremer ao seu lado enquanto servia suas bebidas até o horário do show de Ivy, ele até que era divertido, parecia um coelho assustado que havia entrado na toca do leão.
Semanas se passaram e ele continuava sem conseguir se encontrar novamente com ela para chamá-la para o jantar, ela era como um fantasma que só aparecia no palco e isso já estava tirando Dante do sério, porém, ao mesmo tempo, a sua curiosidade e interesse só aumentava.
Após mais uma tentativa falha, ele se trancou em seu escritório. Havia apenas uma luz obtusa do abajur em sua mesa e uma série de charutos foram fumados compulsivamente enquanto Dante tentava clarear a sua mente e achar uma maneira de ter um encontro decente com a sua musa, um sorriso macabro nasceu no escuro do seu escritório quando ele lembrou do pequeno rapaz que transmitiu o seu pedido para Ivy.
— Mike! — chamou Dante.
Mike era um homem alto, de pele escura, olhos afiados, sempre com um terno impecável assim como seu corte de cabelo estilo militar, ele era o braço direito de Dante e entrou no escritório rapidamente assim que foi chamado, o rapaz sempre ficava do lado de fora até que seu patrão fosse dormir, caso ele precisasse de alguma assistência, como nesse momento.
— Em que posso ajudá-lo, senhor? - perguntou Mike ainda à porta.
— Aquele rapaz que o Mariano sempre envia para me servir na área VIP, qual o nome dele? — perguntou Dante extremamente sério.
— Creio que esteja falando do Ian, senhor. — respondeu Mike prontamente, havia mais de um motivo para que ele fosse o braço direito do Rei do inverno e um deles é que ele tinha memória fotográfica e conseguia reunir todas as informações importantes em sua mente, sendo assim um ótimo alicerce.
— Traga-o aqui! — Dante acendeu mais um charuto - E espero ver aquela carinha amedrontada dele antes do meu charuto acabar.
— Sim, senhor. — Mike fechou a porta deixando seu chefe de volta à penumbra do seu escritório.
Seu braço direito era eficiente, não demorou para que o rapaz fosse jogado no chão do seu escritório vestindo apenas um velho pijama.
— Ian, não é? — o charuto foi apagado no cinzeiro, o escritório à meia luz parecia macabro com toda aquela fumaça.
— S-sim — respondeu Ian meio gaguejando, meio tossindo devido à fumaça.
— Venha aqui! — Dante apontou o dedo indicador para o rapaz no chão e puxou em sua direção.
O assustado Ian estava com as pernas amarradas, não conseguia se levantar, mas também não ousava responder com desrespeito, então ele se arrastou até chegar à frente da grande poltrona do homem assustador que lhe dava um olhar aterrorizador, as grandes pernas cruzadas à sua frente pareciam ainda mais altas vistas desse ângulo.
— Eu vou pedir gentilmente — o sapato de couro italiano encostou no queixo de Ian, forçando o rapaz a olhar para cima, fazendo seu corpo todo tremer. — Faça a Ivy aparecer em um encontro comigo amanhã antes do show.
— M-mas c-como e-eu faço isso? E-eu n-não posso obrigá-la.
Dante deu uma risada alta, agarrou Ian pelos cabelos e puxou para que ele ficasse à altura de seus olhos, ele podia ver as lágrimas brilhantes escorrendo de seus olhos e ouvir o gemido de dor que o rapaz soltava desesperadamente.
— Eu posso fazer de sua vida um verdadeiro inferno - disse Dante entre dentes - Mas eu prefiro pedir gentilmente primeiro, traga Ivy até mim, ou você vai preferir nunca ter nascido, entendeu?
— S-sim - choramingou Ian.
Os olhos brilhando a sua frente eram hipnotizantes, antes que pudesse pensar Dante lambeu uma das lágrimas que escorria naquele rosto amedrontado e disse:
— Bom garoto, eu pego ela às 19h na boate.
Ele não sabia ainda o poder daqueles olhos e o quanto ele se arrependeria em conhecê-los.
Zugzwang, é uma situação encontrada no e outros em que um jogador é colocado em desvantagem por causa de sua obrigação de fazer um movimento; diz-se que um jogador está "em zugzwang" quando qualquer movimento legal piorará sua posição. A expressão vem do , Zug (jogada) e Zwang (força).
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