Se passaram dias… ou talvez umas semanas, numa nova rotina super chata de fazer testes atrás de testes.
Oblivion esperava aventuras, diversão, porradaria! …mas encontrou só testes. Teste de sistema disso, sistema daquilo, se essa peça aguenta não sei o que, estressa isso, esfria aquilo, blablabla.
-Já acabou? Vocês tão fazendo anotações de CADA PARAFUSO e solda no meu corpo… - comentou Oblivion, visivelmente entediada, observando a supervisora fazer seu trabalho super divertido de dar um “check” nas caixinhas de opção no texto e escrever observações em baixo...
- Não é como se tivesse mais androides iguais a você por aí pra gente ter um padrão de qualidade pra seguir. Esse é o preço de ser uma coisa única. A gente tem que averiguar cada centímetro...- comentou Nebula, sem desviar o olhar das suas anotações. Era uma lista gigante.
- Ah não. Eu não tenho intimidade com ninguém aqui; pra testar certas partes tem que NO MÍNIMO me levar pra jantar… tomar uns drinks, me tratar como a princesa que eu sou.
Foram alguns segundos até Nebula processar o que estava ouvindo e se virar pra montanha de músculos ao seu lado com o rosto vermelho.
-PELOS DEUSES. NINGUÉM VAI TESTAR ISSO… AI MEU… AAAA!
- HAHAHAHAHAHA eu só tava comentando, não foi um convite. A não ser que você queira… - Oblivion mexeu as sobrancelhas pra cima e pra baixo com um sorrisinho de lado, só porque sabia que Nebula ia explodir, já que ela é uma pessoa reservada e um pouco introvertida.
- NÃO. Não. Não. - Nebula levantou toda estabanada da poltrona, esfregou o rosto. Tirou uma mecha do cabelo escuro da frente do rosto e ajeitou os óculos no nariz. Queria muito bater nesse robô idiota com algo, mas só tinha um holograma e uma poltrona. Conseguiu se imaginar arremessando o assento por uns instantes, mas desistiu - Só cala a boca. Argh. Eu preciso lavar meus pensamentos com água sanitária agora. Vem logo, você tem ajustes pra fazer.
Saiu andando pra fora do "quarto" de Oblivion, aquele espaço que era claramente um pedaço de algum laboratório com paredes resistentes, com uma “cama”, monitores e alguns cabos, os quais se conectavam à Androide.
Oblivion riu ao ver a amiga - ou pelo menos achava que podia chamar ela assim - sair apressada e parecendo um pimentão.
Nebula andou à frente e Oblivion a seguiu, achando a situação engraçada mas sem ter absoluta certeza se entendia o motivo, até que ela bateu numa porta que logo se abriu e a garota ruiva e cheia de mecha azuis entrelaçadas nos fios ondulados olhou de uma pra outra, então se voltou para Nebula.
-Cacete. O que rolou? Cê tá com uma cara… Estranha. Você tá toda vermelha, tá tudo bem? - indagou Chaos enquanto tentava decifrar a expressão da colega de equipe.
-TÔ. - Nebula percebeu que a resposta saiu meio rápida demais. Então respirou fundo - Tô bem. Toma aí, o problema é seu agora, - apontou para Oblivion atrás de si, sem se virar - Eu já te enviei a lista de ajustes. É isso. Bom trabalho - acenou com a cabeça e saiu andando depressa, murmurando e reclamando algo sobre programação de alguma coisa.
-Que merda você fez? - Chaos observou Nebula sair apressada e então voltou-se para a Andróide.
-Nada, só fiz uma piadinha… - deu de ombros.
-Tá bom. Sei. - escancarou a porta para Oblivion poder entrar. Era uma sala ampla e bem iluminada, tinha um balcão grande encostado em duas paredes com formato de L. Havia algumas ferramentas aqui e ali em cima, outras penduradas na parede - Senta ali e espera. - apontou um ponto na bancada enquanto procurava e abria a lista que Nebula tinha enviado no meio de alguns hologramas aqui e ali.
-Eu não sei o que tem nessa lista além do meu braço. Ele ta fazendo um “tec”. - ergueu um pouco o braço direito e dobrou o cotovelo que parecia dar uma travadinha antes de finalizar o movimento com o tal “tec”.
Chaos pareceu não ouvir nenhuma palavra que foi dirigida a ela e Oblivion balançava as pernas penduradas, porém quase tocando o chão, enquanto esperava uma resposta. Nada.
-E tem uma luzinha aqui que tá piscando. - apontou um dos pontinhos luminosos próximos à articulação do tornozelo. - E eu não sei de quem foi a ideia de fazer isso aqui, mas eu amei, é gostoso apertar. - apertava a sola do próprio pé. Com um pequeno detalhe que não parecia exatamente um pé. Dos joelhos para baixo, não havia pele cobrindo as partes robóticas; era uma mistura de um preto fosco com algumas partes em aço escovado. Alguns pontos nas articulações tinham uma luzinha rosa e os pés tinham o calcanhar alto e a base pequena, tinha formato de pata e na parte de baixo, tinha coxins macios, como os de um cãozinho ou gato.
Nenhuma resposta de novo. Agora Chaos separava algumas ferramentas aqui e ali pra poder trabalhar. Era um silêncio desconfortável. Oblivion tombou levemente a cabeça pro lado, como se tentasse entender o porquê daquela frieza toda. Os outros cientistas pareciam tão mais afim de bater um papo…
Se levantou, devagar, como se fosse imperceptível aquele ser de 2,15 metros de altura ficando de pé, e foi andando, olhando as ferramentas… um holograma com uns dados aqui, outro ali…
-Falei pra ficar sentada e esperar, você é enorme, vai acabar derrubando alguma coisa. - Chaos fuzilou Oblivion passeando ali perto da bancada até chegar perto de onde ela estava.
-Relaxa. Eu não sou estabanada, não vou derrubar nada. - Falava enquanto observava a bancada. Então seus olhos saltaram para algumas prateleiras. Viu uma pelúcia fofinha e roxa encostada ali. - Por que você tem um gato de pelúcia? Oh. Não é uma pelúcia é um autômato, não é? Ele funciona? - foi esticando um braço na direção do bichinho.
-Não mexa. Ele não tá funcionando. - Chaos se virou e fuzilou Oblivion com o olhar.
Oblivion recolheu o braço apesar de que sentia a curiosidade dentro de si gritar. Mordeu os dois lábios tentando se conter até Chaos se virar de novo. Então voltou a observar, com as mãos apoiadas na bancada. Tinha uma fotografia em um porta-retratos junto do autômato de pelúcia. Conseguia reconhecer o local, era uma área comum daquela instalação na qual ela vivia agora. Conseguiu reconhecer vários rostos ali. Logo seu sistema focou em cada um dos semblantes conhecidos e mostrou várias informações de cada um deles. Mas tinha uma moça, segurando o tal autômato nos braços que ela nunca tinha visto por ali.
-Quem é essa aqui com o gato autômato no colo? Eu não cruzei com ela por aí ain–
Chaos acabou soltando as coisas de qualquer jeito na bancada com a pergunta. Oblivion olhou pra ela, surpresa. Ela podia fazer leituras superficiais da garota ao seu lado, coração acelerado, mãos suadas… percebeu que provavelmente falou algo que não devia mas não conseguia entender o que.
O que foi? - arriscou perguntar.
-Não é nada. - a voz da cientista pareceu tremer um pouco - eu disse pra ficar sentada e não mexer em nada. Então SENTA e ESPERA.
Oblivion voltou para onde deveria estar na bancada desde o início, se sentou em cima dela e ficou balançando as patinhas penduradas de novo. Conseguia ver os níveis de estresse de Chaos diminuindo depois dela virar uma garrafa de água e passar alguns longos minutos rolando a página do que tinha que fazer pra cima e pra baixo.
Depois ela finalmente se aproximou, usando visores, com ferramentas nas mãos, e não disse nada além de um muda a posição disso e daquilo. Oblivion observou em silêncio enquanto a outra consertava um problema nas pernas, no torso, no braço…
Chaos deu um pulo na cadeira quando o braço que estava na mesa se mexeu sozinho enquanto soldava algo na parte de dentro.
- PORRA. Não mexe! - olhou por cima dos ombros a Androide sentada na bancada, lá atrás.
- Desculpa, foi sem querer…eu não achei que fosse funcionar. - riu meio sem graça.
Perdeu um pouco a noção do tempo e também não quis checar, sabia que ia se arrepender de ver quantas horas tinha passado sentada, e o mais impressionante: em silêncio.
Um bom tempo depois, Chaos botou as coisas de lado, tirou os visores, ajeitou o cabelo e abriu a porta. Tinha o olhar perdido em algum ponto aleatório da sala enquanto esperava.
-Tá pronto. Pode ir.
Oblivion se espreguiçou, não que realmente tivesse músculos que precisassem de alongamento e foi andando até a porta, mexendo o cotovelo, abrindo e fechando a mão.
-Oh, tá tão suave agora, obrig- Então viu a porta se fechando na sua cara assim que passoupossou por ela. - …certo.
Pelo jeito estava tarde. Bem tarde. Estava bem silencioso e alguns corredores estavam escuros, apesar de que aquele lugar nunca ficasse realmente vazio. Foi voltando pro seu próprio quarto.No caminho, viu Milky jogada em um sofá numa área comum, mas logo percebeu que ela estava dormindo profundamente, toda torta e com uma babinha ameaçando escorrer pelo canto da boca. Ela provavelmente apagou ali esperando a Chaos pra ir embora. Sabia que às vezes elas iam juntas. Passou devagar pelo sofá para não acordar a garota e seguiu para o seu “quarto” super aconchegante. Iria deitar com meia dúzia de cabo espetado nas costas e pescoço, dormir e esperar pra ver qual seria o teste super empolgante que aguardava por ela no dia seguinte.
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