Não tinha ninguém que conseguia manter os olhos longe da bela e sensual Sablokrates. Ela reuniu, diante do conselho, todos os generais de seu exército de demônios. Seu nome é mais famoso entre os cronistas, já que ela é a primeira rainha dos demônios. Dizem que ela matou o próprio marido e comeu os filhos cozidos! Esses seres não são malignos como todos pensam, porém, ganharam essa fama graças Sablokrates. Um texto antigo afirma que ela foi convidada a um jantar na casa de um grande príncipe demônio. No meio do jantar, ela se levantou, se deitou com a mulher do infeliz e voltou à mesa, narrando tudo que se sucedeu. Essa loucura só começou depois de uma doença que quase a levou para o outro lado. Dizem que no dia seguinte após sua recuperação, mandou matar muitas pessoas inocentes, incluindo o marido e os próprios filhos. As suas crueldades e maldades estão além da nossa compreensão, graças aos céus ela não existe mais!
— Senhores e senhoras, como todos sabem, nosso exército foi destruído pelos deuses num ataque, no mínimo, humilhante — disse ela com sua voz calma e paciência.
— Senhora, tínhamos deixado bem claro que aquele lugar possui uma aura protetora que impede a entrada até mesmo de um pequeno animal — falou um dos generais.
A demônia não queria desculpas, mas respostas. Sablokrates passeou sua unha pela mesa, fazendo um som irritante. Ela se aproximou do infeliz, enrolando sua língua no pescoço dele.
— Senhora, o que nosso amigo quis dizer, foi que os homens que faleceram foram culpados pela derrota, não vossa grandiosidade — disse outro demônio, tentando salvar a vida do seu companheiro.
Sablokrates cravou suas unhas no crânio do general e o soltou como se fosse lixo. Ela se aproximou do defensor e bateu a cabeça dele com força na mesa, fazendo todos ao redor fecharem os olhos para não ver aquela crueldade com seu companheiro de trabalho.
— Só vou perguntar uma única vez, qual dos distintos rapazes se oferecem para defender esses dois vermes? — perguntou a demônia.
— Ninguém, minha senhora — responderam os demônios.
— Quero o reino de Cristal, confiei em vocês o meu exército e, como recompensa de minha boa vontade, ganhei uma derrota humilhante.
— O reino de Cristal é a fronteira que nenhum demônio conseguiu entrar — afirmou um velho demônio conhecido como Oni —, nem mesmo na época de seu pai, pudemos adentrar a aura protetora que eles fizeram usando magia.
— Está dando desculpas? — perguntou a demônia.
— Pelo contrário, estou tentando lhe comunicar um plano que venho elaborando desde o dia que vi o exército de seu pai perdendo para eles.
— Qual é o seu plano? Não me diga que está querendo invadir por cima! — zombou Sablokrates.
— Os deuses são egocêntricos desde o dia que nasceram. Eles anseiam por adoração mais do que o cachorro pelo osso de nossas mesas. O imperador Draglicano não queria somente nos conquistar, ele queria que todos nós o adorassem como se fosse algo especial.
— O que você sugere?
— Usemos esse desejo por adoração como nossa aliada. Os deuses são egocêntricos, por isso, peço que a senhora escute com detalhes o que vou te dizer, será humilhante, porém, você ganhará a vitória definitiva contra esses infelizes.
…
Sýnpam observava sua bola de Cristal com atenção. Foi por meio dela que ela conseguiu se comunicar com Naja. Sua pele estava arrepiada e um grande medo tomava seu coração. Desde o dia da reunião dos demônios, ela não estava mais conseguindo ver o que eles falavam. O poder de Sýnpam era a onisciência, porém, ultimamente esse dom vinha falhando com os demônios. Foi ela que previu os últimos ataques, impedindo que os infelizes tomassem sua terra natal. Abençoada seja Sýnpam, nossa deusa, uma pena que nem todo mundo pensava assim. As outras casas viam Sýnpam como uma praga que devia ser destruída. Ninguém consegue tramar contra o imperador com uma deusa onisciente por aí vendo os passos de todos pela sua bola de Cristal!
— Posso entrar? — perguntou o imperador Draglicano.
Sýnpam se assustou. O que ele fazia ali? Ela estava ocupada com os demônios e tinha se esquecido dele. O olhar de deboche do imperador a fez ficar com raiva. Quem não iria querer dar um soco num cara tão filho da mãe?
— Meu imperador, o que deseja dessa humilde serva? — disse Sýnpam abaixando sua cabeça.
— Deixe de formalidades, sabemos que você sabia que eu viria.
— Infelizmente não estava pensando no senhor.
— O que está te preocupando dessa vez?
— Os demônios. Já faz alguns dias que não vejo nada… parece que eles não existem!
— Não seria porque eu os derrotei? — disse o imperador com um olhar seco.
— Você não os derrotou, demônios são como uma praga, matou uma, duas nascem no lugar — afirmou Sýnpam.
— Sabe o que mais me irrita em você? — perguntou o imperador passando seus dedos pelas bolas de Cristais de Sýnpam.
— Não faço a mínima ideia.
— Você mente pior do que uma criança mimada — zombou o imperador. — Sei o que você anda fazendo por aí… conversando com humanos, tentando armar um plano para me derrubar do trono.
— Conversando com humanos? Você não tem prova do que está falando!
— Sabe porque fui escolhido como imperador dos deuses? — perguntou Draglicano?
— Você soube lamber as bolas certas? — zombou Sýnpam.
— Eu não era odiado e temido por todos do reino de Cristal.
Quando Sýnpam menos esperava, uma flecha envenenada com sonífero penetrou o seu ombro direito. Ela caiu no chão perdendo sua consciência. Draglicano aproveitou a oportunidade para chutar o rosto dela, fazendo-a desmaiar com o impacto.
— Sýnpam, sua bastarda, ninguém vai precisar temer você agora, ainda mais com todas suas bolas de Cristal destruídas!
O noivo de Sýnpam entrou no quarto fazendo uma reverência ao seu imperador. Draglicano olhou para o infeliz com um olhar de nojo, até mesmo para um deus como ele, trair a futura esposa e Matriarca por algo tão trivial como a paixão por outra mulher era algo inimaginável.
— Levarei Sýnpam para prisão, não se preocupe, ninguém saberá de sua traição — disse Draglicano.
— Você vai cumprir o que prometeu? — perguntou o noivo.
— Sim, você pode se casar com a mulher que deseja, não ligo para isso — afirmou Draglicano puxando Sýnpam pelos cabelos.
— Espero que essa traidora pague pelo crime de tentar roubar a coroa de meu imperador — falou o traidor com um sorriso falso.
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