Ano 0 do Período Divino
Em meio a escuridão, um grande lago de fogo refletia sua luz alaranjada. Sem as duas luas no céu ou o sol, apenas um abismo sem fim. Duas jovens vestidas com um shortinho e camisa cor de rosa, pousavam seus pezinhos sobre o lago fervente. A primeira menina se chamava Agápi e a outra Sofía. Pele branca como porcelana, bochechas rosadas, dentes tortos e sorriso fofo, essa era aparência dessas doces criaturas. Não me pergunte sobre quem são elas ou de onde vieram, na verdade, nem deusas elas devem ser chamadas. Sua espécie é conhecida como Aióbios. Eles são divididos em pares chamados Sizígia e todos são emanados do mesmo poder chamado Psychí, uma energia que domina todo o universo.
— Tem certeza que é esse lugar? — perguntou Agápi com um sorriso fofo.
— É claro que tenho! — respondeu Sofía — Foi esse lugar que os Designadores nos deram!
— Que estranho, achei que o nosso planeta seria um pouco mais fofinho!
— Segundo esse livro de instruções de como criar um mundo, os planetas sempre são entregues a gente caindo aos pedaços! — afirmou Sofía — Cabe a nós, criadoras, seguir os passos aqui descrito para criar algo decente.
As duas olharam uma para outra com um sorriso. Os seus olhos estavam brilhando de emoção, esse era o seu primeiro planeta, algo muito especial, acredito que seja o mesmo que o primeiro beijo de um casal apaixonado. Cada par de Aióbios é destinado a um planeta recém-surgido, a existência desses seres se resume a organizar esse mundo e viver lá até a morte desse lugar. Então eles voltam ao Psychí, onde são designados a outro planeta recém-surgido, dando início ao ciclo eterno da criação. A criação de Miragem iniciou-se com uma canção fofa, mal rimada e somente com toque de instrumentos eletrônicos… isso mesmo, elas estavam a frente do seu tempo!.
Vamos criar algo fofo?
Sim, com todo o nosso calor!
Vamos criar algo fofo?
Sim, com todo nosso amor!
Se me lembro bem das lições
Podemos criar coisas lindas!
Basta seguir as instruções
que aqui foram descritas!
Que nasçam as árvores!
Opa! Primeiro o oceano,
Para depois fazer as ilhas
E um pequeno humano!
Que seja, surjam os mares!
Não se esqueça dos peixes!
Sim, nasça toda vida marinha,
Como nessas lindas figurinhas!
Hora de criar uma ilha!
Esse terreno deve flutuar
Sobre esse grande mar,
Bem ali, naquele lugar!
Agápi e Sofía criaram tudo que conhecemos, desde a pequena molécula até o grande Rexprimal que domina as florestas de Dásos. Quanto aos mortais, acredito que seja hora de contar um pouco como se deu a sua origem.
No oitavo dia da criação, as criadoras estavam exaustas. Elas vestiram suas roupas de banho e foram nadar no lindo oceano azul na praia de um país desconhecido. O livro de instruções estava na areia, esperando suas donas pegá-lo para dar continuidade a criação, contudo, começou a chover, molhando as páginas sagradas. Agápi ficou desesperada, Sofía, por sua vez, fechou os olhos e sorriu, aquilo era só um livro bobo, elas podiam continuar a criação sem precisar daquela coisa.
— E agora? — perguntou Agápi.
— Vamos criar os mortais do nosso jeito! — disse Sofía.
— Isso é impossível, sem o livro, nunca saberíamos misturar os ingredientes certos — respondeu Agápi.
— Decorei esse livro quando estávamos no caminho para cá, não se preocupe.
— Como se cria um mortal?
— Simples, você pega um pouco dessa areia e desenha… — Dizia Sofía enquanto desenhava uma silhueta com um graveto — uma pessoa igual a você.
— Que lindo, esse bichinho ficou muito fofo! — afirmou Agápi.
— Agora sopra com força — disse Sofía.
Agápi encheu suas bochechas de ar e soprou sobre o desenho de Sofía. Um homem saiu do chão tremendo de medo. As duas ajudaram ele a se levantar, como uma criança que não sabe andar e precisa da ajuda dos pais.
— Posso pôr um nome nele? — perguntou Agápi.
— É claro que pode! — respondeu Sofía.
— Seu nome vai ser Moço, eu gosto disso!
— Legal, agora vamos criar uma moça para ser a companhia dele — falou Sofía desenhando outra forma na areia.
Agápi soprou mais uma vez, fazendo uma mulher nascer da areia. Mesmo sendo dois, Sofía sentiu que os humanos corriam perigo morando sozinhos naquela ilha, por isso, mandou Agápi assoprar sobre todos os desenhos que elaborou, criando uma multidão. Essas pessoas multiplicaram-se e formaram inúmeras tribos, evoluindo conforme empreendiam novas descobertas nesse mundo recém-criado. As duas criadoras fizeram as outras raças mágicas que existem em nosso mundo, terminando toda a criação no nono dia.
— Precisamos de um lar para morarmos até o fim deste mundo — afirmou Sofía.
— Veja, vamos fazer uma ilha mágica que seja grande o suficiente para viver criaturas de todos os tipos, porém, oculta no meio do oceano — disse Agápi —, além disso, somente quem tem intenções puras poderá encontrá-la.
— Ótima ideia, assim teremos a companhia de pessoas iguais à gente e… — Sofía gaguejou, de todas as coisas que elas criaram, ainda faltava uma última.
— Que foi? Não gostou da minha ideia? — perguntou Agápi.
— Não é isso… esquecemos de criar os deuses.
— O que são deuses?
— São semelhantes aos mortais, porém, eles têm poderes e imortalidade — respondeu Sofía.
— Isso não faz muito sentido para mim, por que diabos tem que existir imortais nesse lindo mundo?
— A função dos deuses é proteger os mortais e guiá-los ao outro lado quando eles morrem, sem os deuses não existirá equilíbrio entre o físico e o mundo espiritual.
— Isso é meio complicado, mas deu para eu ter uma ideia.
— Após criarmos eles, não poderemos mais nos revelar para mais ninguém.
— Eu amo os mortais, queria ficar com eles! — afirmou Agápi.
— São as regras, os mortais e os deuses precisam fazer seu próprio destino.
Agápi e Sofía criaram os deuses e os colocaram em um país mágico chamado Reino de Cristal. Essa terra divina fica entre o reino físico e o metafísico. Antes que os deuses abrissem os olhos, as criadoras foram embora, assim sua criação nunca saberia de sua existência e, desse modo, poderiam traçar o seu próprio destino.
As duas Aióbios criaram uma ilha semelhante ao reino de Cristal e se esconderam nela. Esse lugar é conhecido como Seichi, uma ilha mágica que somente quem tem intenções puras pode encontrá-la. O resto dessa história está registrada nos anais dos deuses, livro roubado pelo Rei Isniffi e guardado a mil chaves no reino das fadas.
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