No pátio exterior da escola, onde ficava a pista olímpica e o campo de futebol das atléticas, dois indivíduos voaram até aterrissarem violentamente no chão por conta das adversidades. Tanto a explosão do selo da barreira de proteção quanto os incessantes ataques do homem das garras resultou no surramento daqueles dois diferentes homens de diferentes lados. Muitos destroços dos buracos que foram feitos na parede estavam no decorrer do gramado, onde também estava caído, Gabriel, que nem mesmo com aquele revestimento de pedra conseguia bloquear uma sequência de golpes por muito tempo, havia uma fraqueza que impedia aquela defesa de ser absoluta...
Essa brecha era deixada após uma área ser ferida mais de três vezes seguidas, então, a resistência diminuía e precisaria de uns dias para a regeneração cicatrizar aquela região. Ou seja, havia uma maneira dele ser derrotado mesmo com a graça de Saint-Florença. E também tinha um grande perigo bem próximo...
Esse que bufava de ódio pela humilhação que havia passado com aquele soco na cara e respirava pesado também pelo cansaço que sentia ao atacar sem pensar. O homem das garras parecia verdadeiramente uma besta selvagem, e seus olhos verdes brilhantes auxiliavam ainda mais nessa imagem.
— Eu... preciso... levantar... — Gabriel falava com dificuldade, enquanto forçava levantar do gramado lentamente. Não tinha mais tempo a perder, com a passagem de mais alguns segundos de espera, ele com certeza iria dessa para uma melhor. Aos poucos, sutilmente, ele se colocava de pé novamente, tinha que derrotar aquele homem não importasse o que fosse acontecer.
No entanto, ouvia um esforço que surgia atrás dele, mais precisamente da pista olímpica, o parceiro do homem das garras também levantava ainda um pouco desnorteado... só que havia algo diferente nele. Não estava mais utilizando aquela túnica com capuz, na verdade, não tinha o mínimo vestígio dela. Começando a nota-lo de cima a baixo, Gabriel percebia um tênis social all-star vermelho desgastado, uma calça jeans azul e uma regata amarela que lhe era familiar. Subindo seu olhar cada vez mais, seus olhos cresciam de surpresa pelo que via, aquele homem de pele morena, com uma lança tatuada na bochecha esquerda, cabelo espetado bagunçado, barba por fazer e olhos verdes era inconfundível.
A recordação de que tinha visto ele antes passou como um clipe antigo na mente de Gabriel, nessa memória vívida em que estava assistindo o noticiário, havia uma manchete, no qual, tinha uma barra de notícias com:
"MAIS UM ESTRANHO ASSASSINATO! PAULO CONTINUA A SÉRIE BIZARRA DE RITUAIS PELO PAÍS!
— Os policiais identificaram o mesmo padrão estabelecido por outros crimes desse gênero ao redor do país. As autoridades alegaram que por conta dos cortes encontrados nos pulsos, na direção das Marcas das vítimas, deve ser o assassino em série, radical religioso, Paulo Hernanez."
— Paulo? É... você?
— Ora, ora. Parece que temos um fã por aqui, né? — Respondia o questionamento incrédulo do jovem com deboche e postura despreocupada.
— O que um monstro como você está fazendo na minha cidade? E ainda por cima usando Essência?
Um sorriso largo e psicodélico permeou do assassino usuário de ar.
— Vocês, membros das famílias serventes, não fazem ideia do quanto nós estamos em vantagem nesse jogo. Estavam jogando conforme pensávamos. — Aquela superioridade no ar causou um frio na espinha do garoto que estava diante de dois monstros que até ontem, não teria a mínima chance para bater de frente, ou...
"Será que eu tenho uma mínima chance de sair vivo daqui?"
Medo. O sentimento predominante que percorria da cabeça até o dedinho do pé do Huberi faziam suas pernas tremerem e perdia o ritmo regular da respiração, começando a força-la. Uma dor de cabeça insuportável iniciava e sua visão fechava, quando não havia a predominância do preto, permanecia o embaçado que oscilava entre a clara visão que era atrapalhada.
"Esse cara... matou até mesmo o pai do Benjamin... Eu não consigo vencer! Eu não consigo vencer! Alguém... alguém me ajuda..."
Acompanhado daquele desespero e angústia crescente, percebia uma confiança a mais dos inimigos ao notarem que não havia nenhuma condição daquele garoto lutar. Isso era bom para ambos, tanto para Paulo que poderia acabar com aquele moleque e assassinar o jovem Buloke que estava no chão, quanto para o homem das garras que ferozmente almejava a cabeça do filho de Arthur.
Tudo estava perdido naquelas circunstâncias, a vitória parecia uma utopia distante, porém...
— Gaaaaabrieeeeeeel! — Um grito forçado e provindo totalmente do fundo da garganta cruzava o longo pátio exterior do campus. Seguidamente de uma tosse seca cuspindo sangue pelo esforço para continuar a sentença, Raimundo com a espada fincada no chão para manter uma mínima possibilidade de manter-se de pé, completava com as últimas forças: — Eu já falei! VOCÊ TEM QUE VENCER!! VOCÊ É O ÚNICO CAPAZ DISSO!!
Aquilo foi como um tapa firme no rosto dele para acordar que a gravidade da situação que se encontrava, verdadeiramente, não importava. O coração dele ainda batia, o sangue ainda pulsava nas suas veias e artérias, a dor ainda era minimamente vivida mesmo com seu sangue quente. Aquela era a única possibilidade de lutar independente das circunstâncias. Pois, quando seu sangue esfriar e toda dor paralisar seu corpo, Raimundo certamente morreria. E ele estava ali justamente para salvá-lo, e o que é para ser feito, tem que ser feito.
Retomando a postura de batalha com dificuldade, Gabriel se prostava firmemente aguardando os dois darem o primeiro passo para combatê-lo, sendo assim, a reação para aquela afronta daquele garoto veio com uma sentença de Paulo ao ar: — Se é assim, vai se arrepender...
Uma corrida que sucessivamente ficava intensa até o garoto que mantinha a guarda firme iniciava, atrás do mesmo, o outro homem enfurecido dava leves pulinhos rápidos animalescos até os dois cercarem Gabriel de todos os lados. Arrumando uma maneira de não ser completamente massacrado por aqueles monstros, o Huberi decidiu criar uma camada de pedras no pescoço, onde seria atacado pelo oponente nas suas costas e defendeu a parte frontal da onda de vento, defendendo com os dois braços. Sendo assim, Gabriel conseguiu arrumar uma brecha após ser atacado para desviar levemente a direita, evitando um segundo ataque dos dois.
Em contrapartida a isso, tentou acertar uma sequência de golpes incansáveis em Paulo que mesmo assustado com a ferocidade do jovem, permanecia desviando atentamente aqueles ataques, só que aquilo não duraria para sempre, aproveitando uma desatenção de Gabriel, Paulo atacava o peito do garoto com uma esfera de ar comprimido que jogava o corpo dele para trás.
Sem descansar do golpe que sofreu, uma fera faminta por sangue surgia em cima dele com as garras prontas para abater a presa, pelo menos... Era com isso que o homem encapuzado parecia. Naquele segundo, o maior desafio de Gabriel era armar a alguma defesa, no qual falhou e teve um corte profundo em seu abdômen. Mesmo nas condições de pura resistência imposta pelo seu treinamento intenso focado no condicionamento físico em batalha, aquilo era grave, erros assim não podia mais acontecer.
Erguendo-se antes de mais um ataque de alguns dos inimigos fervorosos, o jovem Huberi, num ato aparentemente desesperado, decidiu dar uma sequência de golpes numa enorme velocidade no ar para não conceder nenhum espaço livre que algum deles poderia ter uma chance. Nessa situação, Paulo e o homem das garras deram uma grande distância do que consideraram como um louco que perdeu a sanidade, expressando feições de zombaria que fizeram o encapuzado das garras, que estava com sede de sangue, retomar a consciência e perceber que aquele moleque era nanico perante seu poder e habilidade.
— Haaaaaaaa! — Um berro quase inconsciente do fundo da garganta que revelava a trágica situação de Gabriel assustou profundamente Raimundo, que encontrava-se com uma feição que mesclava medo e desespero, enquanto pensava:
"Droga! Eu... eu não posso fazer nada! Se o Gabriel, aquele que mesmo antes de despertar a Marca, era um campeão nas artes marciais, pode contra eles... Então..."
— Ha! Para de pensar no pior, inferno! — Raimundo soltava um resmungo numa mexida na cabeça seguido de um tapa forte na própria face para se recompor. E baixinho, começava a implorar para o Deus que tanto crê.
— Pai Celestial... sei que não sou merecedor da sua misericórdia, mas essa prece é para meu irmão. Se caso seja necessário, desça com precisão utilizando sua visão infalível e sua agilidade única... de toda forma, salve o Gabriel, por favor! — Uma lágrima de medo corria pelo rosto do Buloke, até que, antes de ser acertado por uma combinação de ataques a longa distância feita pela dupla de seguidores de Naya, Gabriel chama a atenção com um esforço anormal e que Raimundo nunca tinha visto antes... Ou, talvez, tenha ouvido falar em algumas reuniões do seu pai com os outros líderes das doze famílias quando ainda criança.
— Esse verme imprestável vai tentar usar aquela técnica aqui?! Como se eu fosse deixar! — Envolvendo o máximo de magia possível enquanto corria em direção a Gabriel, o homem das garras seguia determinado a pará-lo indo pela diagonal para evitar o golpe mortal do companheiro de batalha. No qual, usava a maior quantidade de energia da Marca da Vontade para juntar a uma grande quantidade de ar ambiente que se transformaria num enorme sistema circular de movimentação de vento que seria capaz, até mesmo, de destruir uma grande parte da escola.
"Ferrou! Ferrou muito! Esse furacão... vai matar a gente facilmente!"
— Gabriel! Já chega! Continuar lutando só vai fazer a gente morrer! Vamos fugir logo, pelo amor de Deus! — Se esgoelando até chegar a tossir de tanta força na garganta, Raimundo tentava alcançar os ouvidos de Gabriel para evitar a eventual morte dos dois. Porém, além do enorme assobio do vento que estava violento como nunca e o barulho dos vidros das janelas quebrando, o garoto Huberi estava com a mente totalmente focada em acumular energia para chegar ao lendário ponto de ignição presente tanto nos servos que possuíam a graça dos anjos quanto os usuários de "Essência" que acendiam para forma mais parecida com a autêntica dos demônios de Naya.
— Haaaaaaa! Me conceda seu poder, Saint-Florença!! — As pupilas de Gabriel começaram a piscar levemente cada vez mais com um brilho verde que chegava a cegar por um instante que estivesse a sua frente. Na sua cabeça, diversos fragmentos do seu treinamento árduo desde a infância, o seu estudo nas sagradas escrituras e a sua falha após receber a graça, pisando na bola com a Raissa imergiam na sua mente e cumulava num único pensamento egoísta:
"Vou vencer mesmo que custe minha vida!"
Antes que seus olhos se estabilizem e a graça, agora totalmente pura, imergisse em suas veias em um último ato buscando a vitória. Paulo, que estava com um furacão em sua palma direita levantada, dizia uma sentença com um sorriso antes de soltá-lo: — Morra, servo do traidor.
Num prévio intervalo de segundo enquanto iria mirar seu ataque a direção daqueles dois garotos, o homem das garras percebia que atacar diretamente não era o ideal e freava sua corrida para não ser atingido pelo ataque do companheiro, então, um sorriso de missão cumprida se revelava. Seguido de uma...
Imprevista chuva de fogo do céu que o cercava?
— Que porcaria é essa?!
"Isso tá indo na direção do..."
— Paulo! Cuidado!
Num formato de um dragão flamejante, uma sequência de fogo caia do céu como se estivesse protegendo os dois jovens servos de Sândalo e indo em direção ao homem, que desesperado jogou o imenso redemoinho de vento na direção que havia planejado, só que o dragão imergiu no mesmo, fazendo uma força visivelmente extraordinária com labaredas fortes o suficiente para correr contra a corrente do vento e puxar aquela corrente destruidora para o lugar que ela já estava, colidindo com o solo resultando numa enorme explosão que estava mais próxima da dupla de seguidores de Naya, assim, destruindo totalmente a pista olímpica e com um impacto capaz de desestabilizar a concentração e jogar Gabriel, junto dos destroços, para trás até que…
— Graças a Sândalo chegamos a tempo.
Aquela voz era familiar. Surgindo de um pulo do céu enquanto puxava um lençol grande que ao sinal de energia imposto por uma força para frente com a mão, ganhou uma resistência de um forte escudo capaz de aguentar o impacto daquela explosão, Arthur protegia seu filho com os cabelos ao vento num olhar determinado até tudo cessar. Porém, a energia dele foi suficiente até o grande impacto, resultando, num rasgo total da mesma.
Só que agora, o pior tinha passado e apenas a fumaça e os destroços do caos restavam. Conforme se dissipava não era possível ver os oponentes mais.
— Com certeza, eles fugiram.
Enquanto isso, voltando a se revelar após se esconder da visão da morte que teria, Raimundo olha com dificuldade usando o braço para conter suas tosses incessantes e se surpreende com que vê, não contendo o espanto em sua fala:
— Arthur?!
Virando-se enquanto revela um sorriso de herói que sempre esbanjava na frente de Batalha, Arthur responde provocando ainda mais a atenção do jovem Buloke:
— Fala Raimundo! Viemos buscar vocês.
— Como assim "viemos"?
A resposta surgiu silenciosamente com apenas um gesto do loiro apontando para o alto. Automaticamente, ainda sem entender nada, Raimundo desvia seu olhar o céu onde Arthur apontava, e a visão que tinha parecia ser retirada de um dos quadros antigos baseados no Divinal.
Aos céus, percebia uma figura angelical que tinha asas cintilantes enormes que dificultava a visão clara para quem observava abaixo, vestia uma armadura prata brilhante no peitoral, tinha correntes douradas pelo decorrer dos dois braços, uma joelheira de mesma cor e sandálias de fogo que parecia que nunca apagaria de tão intenso. Vestia um saiote dourado que possuía uma bainha para espada que estava acoplada. Porém, o homem estava empunhando uma espada que Raimundo já viu anteriormente.
"Essa não é a espada Bico de Aguia que tem lá em casa? Pera aí..."
Forçando um pouco mais a vista para observar, Raimundo notava que aquele que empunhava aquela espada com a bainha em formato de asas que antes fora empunhada pelo Rei Maligno Naya era seu pai, Luiz Buloke havia chegado usando a graça de Saint-Katharos.
— Pai, você conseguiu usar dessa vez...
Uma lágrima de emoção caia do rosto de Raimundo, que carregava consigo a sensação que o pai finalmente venceu uma adversidade.
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