Rie propôs para que os dois fossem a uma praça que ficava logo ao lado do colégio, dado que lá havia algum comércio. Era praticamente idêntico ao campus, contudo, a principal diferença estava nas calçadas de tijolos vermelhos e, também, no musgo que estava começando a se criar pelo local.
Os dois passaram por um pequeno parque, com brinquedos feitos com tubos roxos, verdes e brancos, onde crianças brincavam acompanhadas de seus pais. A garota deu um sorriso para elas e seguiu andando. O seu companheiro olhava para tudo ao redor, boquiaberto, como uma face curiosa, como se estivesse descobrindo um mundo totalmente diferente.
Jun, podia ser facilmente confundido se caso fosse visto de relance. Aliás, o seu cabelo de um vermelho carmim, com mechas afiadas, penteadas para o lado, na quais quase tocavam os olhos, era preso na parte de trás, sendo mais comprido do que os garotos da sua idade costumam usar.
A camisa com gola alta, por debaixo do colete preto, lhe dava um ar de elegância. E por sinal, o blazer escolar branco era a única peça de roupa de cor diferente que usava. Ela, com certeza, se sentia atraída, mas isso se tratava de algo que ela jamais admitiria, até mesmo para si mesma.
— Eu ouvi que você é a vocalista de uma banda…
— Você ouviu as músicas!? — Ela disse animadamente, em uma questão de instantes, sem ao menos deixar o garoto continuar.
— Não. Eu não gosto de música.
E ao ouvir essa afirmação, não teve como ela deixar de ficar emburrada.
— Que chato.
Ainda assim, não havia como Rie negar estar interessada nele. Obviamente, havia outro motivo para ela ter feito aquele pedido para o garoto, sem falar dos outros mil que faziam a sua curiosidade. Aliás, de alguma forma, os dois eram iguais. E, de todo o modo, iria aproveitar esse encontro fajuto ao máximo, uma vez que era o primeiro que ela estava tendo.
— Então? Por que isso tão de repente? Não me diga que se apaixonou à primeira vista por mim?
— O que tem? Uma garota não pode se interessar por um garoto e chamar ele para um encontro?
— Respondendo fazendo outra pergunta? Bem, de todo modo você não negou, então acho que estou indo bem.
— Sai pra lá!
— Hehe.
Desde quando Jun começou a sentir-se a vontade de ficar provocando ela? Era impossível que Rie deixasse ser levada por esse tipo de coisa, sem sombra de dúvidas. Enquanto ela entendia a razão dele estar agindo assim. É muito estranho que uma pessoa, que você recém conheceu, o chame para sair, portanto, era de se imaginar que ele acabe pensando que tenha algo de errado por trás. E não está errado.
— O capitão pediu para te levar até ele — disse Rie indo direto ao ponto.
— Então agora não se pode mais mandar mensagens. Tem que enviar uma escolta…
— Ué? E qual o problema em ser escoltado por mim? Você me acha feia?
— Não acho.
— Isso seria um elogio!? — Rie disse com um brilho repentino nos olhos.
E Jun permaneceu no mais completo silêncio. Será que ele ainda estava tirando uma como ela? Desta vez, Rie ficaria sem saber, pois suas fantasias internas foram rapidamente interrompidas por uma fala:
— De qualquer forma, você quer um sorvete?
— Hm… não me diga que você…
— Esse encontro falso tem que render para alguma coisa, né? — falou ele a cortando de uma vez só.
O garoto virou a cara para o lado, como quem queria dizer: “não que eu me importe”. Porém, continuou seguindo no aguardo de ser respondido. Ao ver essa cena, Rie deixou escapar um riso.
— Eu quero, sim. Muito obrigada!
Ver Jun, tentando a todo momento disfarçar o que estava sentindo, chegava a ser fofo. E ela, definitivamente, estava se divertindo horrores com isso. Portanto, faria que nem ele e tentaria tirar o máximo proveito dessa farsa.
* * *
Quando, enfim, encontraram uma carrocinha de sorvete, o vendedor saiu correndo ao os ver. A garota, como esperado, ficou totalmente confusa. Será que ele havia visto algo nela? Rie seria feia a esse ponto, de fazer uma pessoa fugir? O choque causado graças ao que acabou de acontecer a fez pensar nas possibilidades mais absurdas possíveis.
Entretanto, todas as suas dúvidas foram respondidas num instante, junto de um arrepio gélido que a fez tremer por completo.
— Parados! Vocês estão presos por terrorismo!
Soldados nos quais vestiam armaduras negras, empunhando espadas que emitem brilhos dourados e armas de fogo que deixava vazar a mesma luz como fumaça da ponta. Esses mesmo que a perseguiu durante a manhã. Chegava até mesmo a ser hilário que esperaram durante o dia todo para ir atrás dela novamente. Bem, agora não era só Rie que estava sendo perseguida.
— Nossa, como vocês são insistentes — disse Jun dando um passo à frente e levando a mão em direção ao cabo da adaga na bainha.
E então, um tiro dourado voou e ricocheteou contra o chão, fazendo com os tijolos vermelhos se praticarem em pedaços pelo ar.
— Mova mais um milímetro e acontecerá com você! — anunciou um dos soldados em tom de fúria.
Foi quando Rie andou em direção a eles. Moveu a mão até a bainha escondida atrás do seu blazer e de lá sacou uma adaga branca com o contorno da lâmina prateada. A apontou para o chão e então, lentamente, linhas fosforescentes de um azul safira preencheram o corpo do pequeno objeto, que cresceu e se tornou uma espada. E assim continuou a avançar.
— Deixa isso comigo — falou e então correu em direção aos soldados.
Os homens de armadura então puxaram o gatilho, e a garota saltou em direção ao céu. Estrelas douradas eram disparadas contra ela. Contudo, Rie girou seu corpo e, assim, deixou todas passarem. Aterrissou e moveu seu braço com força na vertical, rasgando o rifle de um deles ao meio por completo, com sua lâmina deixando uma silhueta azul desenhada pelo ar.
Ela se agachou e, com um corte giratório, derrubou o inimigo contra o chão, o lançando para trás. Com um movimento de baixo para cima, se levantou golpeando uma espada envolvida por aura dourada a arremessando no ar. Deu um chute no peito do homem desarmado no mesmo instante, se virando e tomando impulso para a direção oposta, agora com seu corpo deixando partículas de safira jorrar.
Com suas ires envoltas pela sua luz, ela brandiu sua espada. Silhuetas ondulares de energia se propagavam pela atmosfera, da esquerda para direita, de cima para baixo. Balas foram disparadas de todas as direções e lâminas de ouro ricocheteiam contra a dela, uma atrás da outra. Ela movia seu corpo sem parar. Arremessava seus inimigos com cortes e chutes. E iria continuar até acabar.
Foi quando diversos dos soldados que a cercavam, foram arremessados para longe com uma única linha de energia que se moveu entre o vento.
— Deixem a gente em paz! — gritou Jun andando em direção a confusão, lentamente, com uma espada da cor da noite apontada contra o chão.
— Seu maldito!
Tomado pela fúria, o soldado lançou uma rajada de tiros.
— Seu ladrão! Me devolva isso!
Então, num instante, a lâmina negra atravessou os projéteis, um por um, que se partiram ao meio e debateram-se contra a superfície.
— Eu não sei do que você está falando. E nem me importo em saber.
Assim, quando Rie enfim pode processar, o garoto já havia aparecido na frente do atirador, deixando apenas um rastro no ar. Movendo seu braço em linear, a silhueta de um azul cinzento rasgou o peito do soldado, o arremessando com tudo, deixando pedaços de sua armadura para trás.
Agora Rie havia finalmente entendido o que estava acontecendo. Ela sabia muito bem o que ele estava fazendo. Jun estava usando uma habilidade que ela já havia visto antes e conhecia muito bem.
— Aceleração… — murmurou para si mesma, surpresa com o que via.
O garoto, então, dando uma arrancada de aura, moveu em direção ao seu próximo alvo numa velocidade absurda. E com um primeiro corte na horizontal e um segundo na diagonal, ondas de energia voaram, e com um terceiro, quarto, quinto… golpeou os inimigos em sequência, sem dar uma única brecha para poderem reagir. Cortes eram feitos em um ritmo frenético que não deixava ninguém escapar.
Então, em meio ao desespero causado pelo espadachim, diversos dos soldados em conjunto, de uma vez só investiram na sua direção. Ao sinal de um segundo dash, disparos partiram-se em partículas douradas, a proteção em ferro foi quebrada, o peito de um foi golpeado pelo cotovelo do garoto e a cabeça de outro foi recebida com um chute que o jogou contra a superfície fazendo fragmentos luminosos se espalharem.
E repentinamente a velocidade de tudo voltou ao normal.
— Rie, vamos dar um fim nisso!
— Okay!
Linhas e silhuetas foram desenhadas na atmosfera. Os brilhos, voaram, cortaram, rasgaram e jorram sem parar. O ferro negro se espalhava. Homens foram derrubados. E ondas se propagaram deixando apenas para trás um ouro que se apagava, assim, restando somente o vazio no lugar.
— Está tudo bem com você? — disse o garoto ao desacelerar, soltando o peso do seu braço, deixando a ponta de uma lâmina que jorrava partículas de luz aranhar o chão.
Sem palavras, a garota observou aquele garoto. Esse mesmo que a olhava, rodeado por aquelas linhas de energia que o circulavam em espiral, com as íris preenchidas por um poder de cor prateado.
Comments (5)
See all