Rie Koike é uma famosa cantora da internet — essa foi a primeira coisa que ficou sabendo ao chegar na escola. Depois da dor de cabeça que foi despistar os soldados, adentrando em uma área da cidade onde não seria mais possível deles os atacar, foi recebido de uma vez só com esta notícia.
Com a chegada dos dois juntos, o plano inicial de Jun, no qual constituía em passar os dias como um colegial despercebido, falhou miseravelmente, antes de sequer ter chance de começar. Aliás, agora ele se tratava do garoto que apareceu com uma das garotas mais famosas. Uma dor de cabeça.
De qualquer forma, essa descoberta fez com que uma certa curiosidade a respeito de Rie, que conhecera essa manhã, brotasse em si. Mas por hora, esse é um assunto que pode ser deixado para depois.
Agora, aqui estava ele andando pelos corredores, enquanto comia um cachorro-quente e falava sobre os ocorridos dessa, nada natural, chegada a cidade. Contudo, o seu ouvinte, por alguma razão misteriosa, parecia estar se divertindo mais do que tudo com a situação.
— Você falando até parece um garoto que acabou de se apaixonar — dizia a sua escuta em risos.
Jun observou com o canto dos olhos, sem dizer nenhum comentário, apenas abocanhou a sua refeição sem pensar. Ele, claramente, não o deixaria ser levado por esse tipo de provocação.
— Bem, de todo o modo, aqui é seguro. Atacar essa escola seria o mesmo que declarar uma guerra. Então, pode se acalmar.
Esse garoto de cabelos azuis de tom escuro e olhos violetas, no qual usava um óculos de borda preta, se chamava Seiji Ikeda. Possuía uma pele levemente mais escura e, comparado a Jun, estava com o seu uniforme perfeitamente organizado. Tratava-se de um amigo de longa data que foi transferido junto.
— Se isso acontecesse, eles ficariam sem o entretenimento deles.
— Errado não tá.
E assim, os dois permaneceram andando neste corredor que dava impressão de estarem suspensos no ar. Uma sensação que se tinha em quase todos os locais desse colégio. As paredes e os tetos eram feitos de vidro, exceto pelo chão de mármore. Portanto, nesse caminho em que ligava um prédio ao outro, passava a impressão de estarem caminhando numa passarela em meio ao céu.
Obviamente, o lado de fora podia ser visto daqui. Um local repleto de vegetação, com árvores, jardins de flores, calçadas e bancos para os alunos se sentarem, aliás, muitos tinham aqui como moradia. E nesse instante, Jun e Seiji podiam observar dois estudantes fazendo um duelo de espadas numa quadra.
— Uma escola que ensina os alunos a se matarem…
— Desde quando você romantiza esse tipo de coisa? É de agora?
— Hm… Já faz algum tempo. Uns três segundos.
— Você, realmente, não tem jeito… — disse Seiji colocando a mão sobre a testa.
Para Jun ainda era um pouco difícil de processar isso, mas essa se tratava de uma escola que possui o foco principal nas batalhas. Aqui os alunos são ensinados desde a infância até o final de suas adolescências a lutar, em meio a aulas práticas e teóricas. E a partir de hoje esse será o lugar que ele irá frequentar pelos próximos anos.
— De todo o modo, como funciona isso?
— Eu não consigo entender o porquê de você não poder vir junto comigo pra cá. Iria me livrar desse incômodo.
— É aquele velho papo de segurança e outras coisas do tipo.
Os dois, de fato haviam se transferido para esse colégio ao mesmo tempo, porém, Jun não conseguiu chegar a tempo do primeiro dia. Portanto, ele se tratava de um estudante que deu as caras uma semana atrasada.
— Bem, não tem muito o que dizer. O foco dessa academia é nas batalhas e, a razão disso são as diversas festas que irão ocorrer durante o ano.
— Falando desse jeito, faz isso parecer chato.
Essas tais festas se tratavam de nada mais do que torneios, ou simplesmente competições entre os alunos. A razão por serem chamadas de tal nome é pela maneira como os espectadores as veem. Por se tratar de algo em que aura é utilizada a todo momento, elas são vistas como um grande show de fogos de artifícios, graças aos impactos de energia mágicas presentes durante os embates.
— As disputas principais ocorrem entre os estudantes das quatro instituições presentes na cidade, sendo essa uma delas. Mas, obviamente, também haverá as internas.
Até então, tudo isso se tratava de algo completamente novo para Jun. Aliás, a seis anos atrás, quando morou nesse lugar pela última vez, essa era uma realidade que ainda estava no processo de construção.
— E então chegamos ao ponto mais importante. Todos os duelos são feitos em combates de dois contra dois.
— Hm, compreendo…
Jun dá um tapinha no ombro de Seiji.
— Então bora.
E o seu amigo apenas deixa escapar em breve riso. Foi como se estivesse rindo da cara de Jun, que agiu precipitadamente ainda sem entender.
— Bem, não é dessa forma que as coisas funcionam. As duplas são selecionadas através de um sistema do colégio. Nós não escolhemos.
— Tá… agora, realmente parece chato.
— De qualquer forma, isso só vai acontecer no final do mês. Por hora, se concentre e recupere as notas que perdeu nessa última semana de vadiagem.
— De fato, totalmente, chato — falou e então abocanhou o último pedaço do seu cachorro-quente.
Ele então olhou através da parede de vidro mais uma vez. Aqui, tudo estava tão limpo e perfeitamente cuidado que nem dava para imaginar que se continuasse após os portões de entrada, iria se deparar com uma cidade em estado lamentável. Isso era um indicativo de que, agora, ele estava no topo da sua parte da sociedade, enquanto lhe trazia uma sensação desconfortável — como se não fosse merecedor.
Foi quando algo chamou a sua atenção.
Lá, sentada num banco na frente de uma árvore rodeada por flores violetas, estava aquela garota, Rie Koike. Ela escutava música com seus fones de ouvido enquanto, aparentemente, observava uma fonte de água à frente. Solitáriamente.
Isso era um tanto estranho. Aliás, Rie não se tratava de alguém famoso? A vocalista de uma banda sem nome, muito popular na internet — foi isso que Jun havia ouvido a respeito dela, logo após chegar aqui. Portanto, o esperado seria que houvesse inúmeras pessoas ao redor dela, a todo o momento? Na verdade, parecia o exato oposto, pois os outros nem sequer chegavam perto dela, e os que passavam a olhavam torto.
— Ei, cara? — Seiji coloca a mão sobre o ombro de Jun — Eu já disse que você pode se acalmar. Não tem como os soldados virem te atacar aqui.
— Eu sei. Aliás, essa é uma academia pra Zeros. O lugar feito para criar as armas da humanidade. Os Ones jamais sobreviveriam sem nós.
* * *
A sala de aula era no formato de um auditório. Ao centro, havia uma escada que subia para as carteiras duplas, enfileiradas a cada cinco. E, obviamente, Jun e Seiji haviam se sentados juntos. Não há nada melhor do que ter um grande amigo como companhia para falar besteira em meio aos desesperantes momentos de tédio das aulas, ou pelo menos era o que pensava.
— Antes de tudo, todos devemos saber como funcionam as armas de auras. Independente de se tratarem de lanças, espadas, machados e outros, há apenas dois tipos.
O professor, em que aparentava já ter chegado na terceira idade, ensinava a teoria sobre o controle da aura. A reviravolta foi que Jun, a todo o instante, não deixou de prestar atenção no que ouvia, para sua surpresa. Relembrando que essa era uma realidade que, até então, nunca havia vivido antes. Chegava até mesmo a ser um pouco difícil de acreditar que agora existia um lugar assim — feito para ensinar esse tipo de coisas para os jovens.
— Para nós Zeros que vivem na cidade exterior antes dos muros de mármore, onde possuímos auras de diversas cores, como: azul, roxo, verde e dentre outras, apenas conseguimos utilizar o tipo mais comum. Essas que só permitem concentrar a energia e usá-la como bem entender.
Na atualidade, já se tornou extremamente incomum de ver se ver outros tipos de equipamentos que não fossem esses. Além de serem mais resistentes, ainda permitiam o uso de magia. Simplesmente, o melhor dos dois mundos.
— Mas para os Ones que possuem uma aura de cor dourada há armas igualmente únicas para eles. Esse tipo somente pode ser ativado pela energia deles e, caso um Zero tente, não haverá reação alguma. Diferente das comuns, essas conseguem ampliar o poder dos usuários. Aqui nós vamos aprender a controlar isso da melhor forma possível, para que vocês não falhem ao enfrentar as ameaças vindas de fora.
E, nesse ritmo, quando Jun menos pode perceber, já havia acabado.
— O começo do ano está sendo uma revisão sem sentido. Nada que eu já não saiba.
— Sim, sim. Você, como sempre, a frente de todos.
Seiji deu um sorriso, ajeitou os óculos com a mão e disse:
— Bem, de fato, eu estou um passo à frente de você. Mas, mesmo assim, não acho que seja para tanto.
— Não é o que me parece… — disse Jun descendo as escadas, indo em direção a saída, deixando o seu amigo que caiu na provocação, inocentemente, para atrás. E, ao perceber, o garoto de cabelos azuis, rapidamente foi até ele.
Agora não restava mais nada para se fazer na academia durante esse dia, pelo menos para Jun. Ele iria pra casa, enquanto Seiji, ficaria nos dormitórios locais. Já faz seis anos desde a última vez que visitou aquele lugar e, devido ao desagradável incidente nessa manhã, nem sequer teve tempo de passar para dar uma olhada.
Enquanto isso não acontecia, os dois continuaram andando pelo campus, botando a conversa fora. Em meio às diversas árvores e canteiros de flores, com calçadas feitas de mármore branco, bancos de madeira, fontes de água e riachos ao redor. Esse era um ambiente, de fato, muito agradável para se habitar — até dava uma certa inveja por Seiji viver num lugar assim.
Nem parecia que esse lugar ficava na cidade exterior, logo após o grande muro que contornava o interior. Agora estava tendo uma oportunidade que jamais sonhara antes que teria. Contudo, é claro, nem tudo era às mil maravilhas que aparentava ser. Ainda existiam as festas e batalhas.
Mas, de todo o modo, deixando essa enxurrada de pensamentos de lado, alguém estava cutucando o seu ombro. O que Seiji deveria querer?
— Finalmente te achei.
Entretanto, Jun se deparou com uma figura de cabelos brancos e olhos de um azul mais forte que o céu. Uma garota que usava um vestido preto, com a saia curta, por cima de uma camisa branca com colarinho, acompanhada de um laço da mesma cor de suas irises. Se tratava de Rie.
— Tem algo que eu queria pedir para você.
— Ah, oi? — falou desconfortavelmente.
Aliás, tinha como a esta situação estar mais desagradável do que agora. Todos os estudantes, de repente, começaram a olhar os dois, curiosamente, como se estivessem vendo algo raro. De qualquer forma, nada mais do que o esperado, Rie era alguém famoso — a vocalista de uma banda sem nome da internet, por mais estranho que seja.
O de se imaginar era que os diversos garotos, perante a isso, olhassem para Jun com raiva por estar sendo abortado por uma garota tão bonita e popular, porém, por alguma razão, o olhavam surpresos. E em meio a tudo isso, vários cochichos desagradáveis ressoavam pela atmosfera local.
— Eu quero que você saia comigo.
— Hein?
— Você é surdo? Eu estou te chamando pra um encontro.
Com esse pedido um grande rebuliço começou. No entanto, Jun consegui ignorar a todos e olhou para o seu amigo ao lado e nervosamente perguntou:
— O que eu faço?
— Ué? Vai na fé
Seiji acenou com a mão, deu um sorriso e, logo em seguida, se retirou para dar espaço ao amigo. Jun, então, respirou fundo e virou-se de volta para a garota:
— Tudo bem.
Na mente de Jun, a vida discreta como colegial já havia ido para o saco. Portanto, agora, não tinha mais nada a perder. E quanto a ganhar? Ainda lhe restavam dúvidas.
* * *
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