Leandro Garner, era o Mestre em Encantamentos. Nada nele chamava muita atenção, ele se vestia com simplicidade, em branco, e falava sempre em tom manso e calmo.
— E todos sabemos que nesse momento precisamos de todos os magos poderosos sob nossas asas. – Seus olhos, se alguém estivesse prestando atenção, brilhavam com uma fagulha de um sentimento oculto.
— Sim, mas essa instituição foi erguida sobre a tradição da magia arcana, e esse rapaz é tão caótico quanto os gêmeos Pascoal foram. – Retrucou um dos professores.
— Mas o professor Leandro seria capaz de mantê-lo sob controle, certo?
Com isso todos se calaram, ponderando as opções.
A voz do diretor ecoou pela sala silenciosa.
— Todos aqueles a favor que Theo Pascoal, aluno do segundo ano de Ciências da Alquimia, seja tutelado pelo professor Leandro Mestre de Encantamentos, levantem a mão.
***
Theo caminhou apressado rumo ao pátio, seus pulmões queimavam, mas ele não conseguia respirar. Só quando avistou Kai e Sam esperando por ele que ele soltou o ar.
Kai correu ao seu encontro, enquanto Sam esperava sentada num corrimão.
— E aí? – Sam perguntou tentando soar indiferente. Sua relação com seu primo era nos melhores dias amigável, e nos piores... ele era o filho que seu pai nunca teve.
— Eles vão mesmo te... e-expulsar?
Kai segurou as mãos do Theo, a ansiedade evidente em sua voz. Se existir no dicionário palavra equivalente que descreva algo tão doce e inocente, provavelmente teria a foto de Kai para ilustrar.
Como um unicórnio. Theo pensou. Ruborizado e um pouco envergonhado, ele deu as notícias.
— Vou ter que ajudar na biblioteca por um mês e-
Sam revirou os olhos.
— Inacreditável, você sempre se safa...
—...e eu meio que fui promovido à aprendiz!
Sam saltou do corrimão e saiu andando em direção aos dormitórios.
— Uau, eles também te deram um prêmio? Pregaram seu retrato no hall da fama?
— Na verdade… – Theo brincou, um sorriso traquinas no rosto.
Sam era um ano mais velha que Theo, e, talvez porque seus pais eram gêmeos eles eram parecidos, o marrom-dourado da pele, os olhos cor de ônix, e as covinhas em suas bochechas quando sorriam. Na personalidade eles eram como o sol e a lua.
— E-eu já trabalho na biblioteca, então você não vai ficar lá sozinho, Theo. – Disse Kai, suas bochechas arredondadas e rosadas, sob expressivos olhos, um verde e um castanho-mel.
Ambos Theo e Sam olharam para Kai com ternura, era difícil não gostar daquela reencarnação de filhote de cachorro pedindo carinho.
Kai trabalhava na biblioteca com a mesma vontade que ele estudava Cânticos na classe Brado, à contragosto, mas tentando agradar sua mãe, a-
— Dona Abigail vai amar te ver. – O sorrido Sam e do Theo eram o mesmo quando estavam travessos, a diferença era que na maioria das vezes o tom da Sam era ácido e cortante.
— …
Theo olhou para Kai e ambos ficaram vermelhos. A mãe de Kai era a bibliotecária, e era devota a proteger os livros como um soldado deveria proteger seu rei, com a própria vida.
— Lembra daquela vez que você conjurou névoa na biblioteca? – Sam começou a listar as “falhas” do primo.
— Eu estava trabalhando em um feitiço para prevenir que os livros absorvessem umidade. – Ele respondeu teimoso.
Em vez disso, Theo tinha conseguido conjurar uma névoa azulada que se espalhou pelo lugar. Ele concluiu que talvez o feitiço tivesse funcionado para retirar a umidade dos livros, só não soube para onde mandar a umidade depois.
— O-ou da vez que você botou fogo na estátua do Diretor. – Kai disse também, sem maldade, apenas rindo das peripécias do amigo.
— Foi só um teste de ilusionismo! Eu vi um aluno do curso de Ciências da Magia Arcana fazer. – Dessa vez Theo também riu, e ele se gabou do feito. — Demoraram a tarde inteira para perceber que não tinha fogo de verdade!
— E daquela ve-
— ‘Tá bom galera, eu já entendi! O importante é que agora eu sou um aprendiz, e vou poder estudar tudo o que eu quiser do jeito que eu sempre quis!
Theo estava empenhado a aprender tudo, de todos os cursos, de todas as classes, custasse o que fosse. Ele olhou para a prima, e lembrou com pesar de qual era a sua motivação, seu tio, o homem que o tinha como filho.
— E-e quem vai ser seu tutor?
— Espero que seja o Heitor, aí sim vai ser punição de verdade.
Sam ainda tinha esperança de que o primo pagasse por sua falta de responsabilidade.
— Não quero nem imaginar! – Theo estremeceu.
— E-então quem foi?
— Achei que todos os professores da Colosso te odiassem, todos parecem uns pa* no c-
Theo tampou os ouvidos de Kai.
— Q-que foi?
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