Mais um dia comum na Universidade de Artes Mágicas do Brasil. Os sinos dourados da catedral permaneciam silenciosos e os vitrais vermelhos brilhante refletiam a luz do sol, formando imagens que serpenteavam pelos corredores da escola.
Era de se esperar que tão renomada escola fosse o lar de mentes brilhantes e magos cheios de razão e sabedoria, se não fosse por um dos alunos mais jovens a ingressarem na UAM.
A explosão que se seguiu também era algo agora de certa forma rotineiro.
Primeiro um estrondo ecoou até os andares mais baixos. Quem estivesse nas proximidades já sabia.
Depois, na lateral da catedral, as janelas de uma das classes viraram estilhaços, dando passagem a uma fumaça azulada.
Mesmo sendo rotineiro, isso não tornava menos perigoso, por isso os mais próximos ao caos sempre saíam correndo.
Os alunos da classe trombaram uns com os outros em rumo a porta aberta, e o causador de todo o estardalhaço já estava porta afora.
— Theooooooo! – O professor Heitor gritou furioso.
Theo com um sorriso travesso de orelha a orelha, com a mochila jogada nas costas, continuou a correr.
O professor passou a mão pelos seus cabelos, colocando-os para trás, ajeitou a gravata e bateu a poeira da roupa. Não era a primeira vez que Theo Pascoal não cumpria com os passo-a-passos dos livros de magia, ele vivia trocando um elemento ou outro, em vez de se dedicar a uma só área, como todos os outros alunos da classe Colosso.
Theo já havia conseguido permissão para participar como ouvinte de quase todos os cursos, mas no seu curso de admissão, o único que iria constar no diploma, o de Ciência da Alquimia, ministrado pelo Mestre Alquímico Heitor Cadaval, ele parecia não querer seguir as normas.
E Heitor já estava cansado disso.
Com passos decisivos ele se dirigiu a sala da única pessoa que poderia atender à sua reclamação, o Diretor Saul.
— Então, você quer convocar o Conselho de Mestres para resolver um problema tão pequeno? – Disse o diretor enquanto alimentava sua coruja-preta.
— Nos últimos seis meses, o aluno referido explodiu a sala mais de quarenta vezes, além dos inúmeros incidentes ocasionados ao redor do campus.
A pose do professor era elegante, quase delicada, seu rosto quase inexpressivo, exceto pelo arco de sua sobrancelha, e a aspereza da sua voz, os únicos indicadores que ele estava colérico. — Por acaso já esqueceu o que ele fez com sua estátua?
— Ha! – Saul soltou uma gargalhada e finalmente olhou para Heitor, sua coruja acompanhando o movimento. — Ele é um rapaz bem criativo, não acha? Engenhoso até, diria eu.
— Senhor, eu convoco o Conselho de Mestres para discutir a expulsão de Theo Pascoal, essa é minha decisão.
— Requisição aceita. – O diretor se virou para sua coruja, e deu um sinal imperceptível. A coruja saiu voando pela janela. – A reunião se dará no Salão, dentro de duas horas.
— Obrigada, senhor.
O diretor deu de ombros e mudou sua atenção para uma pilha de papéis em sua mesa, provavelmente formulários.
Heitor saiu da sala satisfeito, aquele incomodo logo seria erradicado da pacífica universidade.
A Universidade de Artes Mágicas é a instituição voltada para a formação de usuários de mana, pessoas com “poderes mágicos”, que são divididas em quatro classes: Colosso – a classe dos magos, voltada para os aspectos teóricos da manipulação de mana, Lábaro – a classe dos feiticeiros e aplicações práticas da magia, Clava – a classe dos clérigos, ligados aos aspectos religiosos e divinais da magia, Brado – a classe dos bardos, que veem a magia como uma expressão de sua inspiração, sentimento e criatividade, e Florão – a classe dos druidas, que encontram na natureza a fonte de sua magia.
Cada classe possui cursos, que cada aluno deve se dedicar até conseguir seu anel de mestrado, que indica que ele é um mestre daquela área. Feito que pode demorar décadas. Mas que Theo deseja concluir o mais rápido possível.
Seu único obstáculo é, no entanto, sua falta de comprometimento com o curso de Alquimia que ele escolheu ser mestre – porque ele também quer aprender tudo dos outros cursos, desde Ciências das Runas até Evocação, talvez não os Métodos de Escrita de Pergaminhos porque não parece tão interessante.
Outro obstáculo pode ser o resultado da reunião que está acontecendo no salão de reuniões da comissão de mestres da Colosso.
Reunidos na mesa em meia-lua, os nove professores mestres olham para o Diretor da escola.
— Eu já cheguei à minha conclusão. – Disse o diretor Saul, com uma expressão séria, as mãos cruzadas atrás das costas, e sua coruja pousada em seu ombro, cujos olhos de alguma forma eram similares ao do seu dono.
Com um rompante, Heitor esmurrou a mesa, assustando os demais professores, que nunca o viram perder a compostura antes.
— Ele é um risco!!! Não só para seus colegas, mas para toda a ordem educacional!
Heitor era sempre impecável, com seus cabelos escuros escovados para trás e gravata verde escura da mesma cor dos seus olhos.
Sua pose demandava respeito, e sua voz aveludada atraía todos os olhos e ouvidos, ele parecia alguém que nunca precisaria gritar para conseguir algo, até aquele momento.
Heitor passou as mãos pelos cabelos, o que teve o efeito oposto ao de arrumá-los.
— Ele não entregou um só trabalho completo até hoje!! Ele vive testando métodos excêntricos em vez de estudar os clássicos, como ele poderá ser um bom aprendiz?
— Eu vejo no rapaz um grande potencial. Ele é criativo e curioso, se ele tiver uma mão para guia-lo, ele pode ser ainda mais poderoso que seu pai. – O professor Leandro interviu.
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