Quando Gael abriu os olhos, sentiu o corpo molhado, como se alguém tivesse jogado água nele. O líquido transparente escorria pela sua pele, brilhando sob a luz do sol que se refletia na superfície. A brisa do mar acariciava seu rosto, misturando-se ao aroma salgado do oceano que preenchia o ar ao seu redor.
— Vai ficar dormindo o dia inteiro? — Perguntou o jovem que estava agachado ao lado de Gael, o mesmo que havia molhado o garoto — Achei que você fosse dormir o dia todo.
Silva o reconheceu, o jovem era um dos garotos que estava de pé na sala quando ele havia conversado com os guardiões. As roupas do rapaz se moviam graciosamente com o vento e seu olhar curioso revelava uma expressão de despreocupação.
— Onde eu estou? — Perguntou Gael cerrando os olhos — Onde está o Vinícius?
Os olhos de Gael procuravam captar os detalhes da paisagem ao seu redor. A praia se desenrolava à sua frente, com areia dourada e ondas translúcidas que se espalhavam suavemente pela margem. A água tinha uma clareza deslumbrante, permitindo ver a dança das correntes abaixo da superfície. O som rítmico das ondas, indo e voltando, criava uma melodia envolvente que parecia sinalizar um despertar grandioso. Ao longe, uma formação rochosa imponente surgia do mar, suas formas ásperas e irregulares destacando-se vibrante contra o azul profundo do céu. As pedras ao longo da orla, cobertas por musgo e sal, acentuavam ainda mais o contraste entre o azul celeste e o brilho prateado das ondas, criando um cenário de beleza marcante e serena.
— Você está em uma praia na Grécia e infelizmente Vinícius foi morto pelo ciclope. Agora eu sou o guardião no lugar dele.
As palavras ecoavam nos ouvidos de Gael, como ondas quebrando suavemente na costa. Gael sentiu um misto de surpresa e choque diante da notícia sobre Vinícius.
Gael estalou os olhos quando percebeu as informações que recebeu:
— Vinícius morto? Como assim estou na Grécia? — Pensou o garoto assustado com aquilo que Lucas havia lhe dito.
Mas a surpresa durou pouco porque Vinícius chegou dando um tapa na nuca do rapaz que estava assustando Silva. O som do tapa ecoou no ambiente, e um sorriso travesso surgiu no rosto de Vinícius:
— Pare de assustar o Garoto, Lucas — Disse Vinícius se aproximando — Vejo que você já melhorou das porradas que tomou daquele ciclope.
Vinícius era imponente, suas feições maduras e experientes contrastavam com a expressão de travessura, como se fosse um jovem de espírito sábio.
Gael olhou para aquele garoto com aparência de alguém mais ou menos da sua idade, mas, mesmo assim, suas expressões pareciam de alguém extremamente mais velho, como se fosse seu avô:
— Sim, a primeira pancada que recebi dele quase destruiu o meu corpo.
— Sua situação só não ficou mais complicada, graças à energia elemental em seu corpo, que segurou os maiores danos — Enfatizou o guardião.
— Então foi isso que aconteceu na batalha, quando eu tentei cortar ele e não consegui.
Gael estava tentando entender por que desmaiou assim que despertou sua verdadeira espada:
— Isso mesmo, a energia elemental em cada um de nós funciona como uma armadura natural no nosso corpo, quanto mais fortes ficamos, mais resistente ela se torna — Complementou Lubu sobre a conclusão de Gael.
— Quando você atacou o ciclope e não conseguiu ferir ele, sua energia elemental era muito inferior se comparado com a dele, afinal você ainda não havia despertado a verdadeira forma da sua espada — O guardião se sentou ao lado de Gael na areia e, pela primeira vez, ele pode prestar atenção no lugar em que eles estavam. Eles estavam diante de um mar azul que o garoto nunca tinha visto antes. Montanhas cobertas de árvores cercavam o local, criando uma paisagem ainda mais impressionante. O cenário era tão deslumbrante que, em seus sonhos mais otimistas, ele jamais imaginou estar em uma praia tão incrível. Assim que Vinícius se sentou ao lado de Silva, Lucas se acomodou do outro lado.
— Mas o que era aquele ciclope que me atacou, de onde ele veio? Tem mais deles na terra?
— Não, não veio da Terra. Karumo te explicou que os humanos não conseguem manipular o eixo em seus corpos para controlar a energia elemental, então essas criaturas geralmente não se interessam por eles.
— Então de onde ele veio?
— Veio da minha terra, Elysium — Respondeu Vinícius — Eu sou o guardião daquilo que ficou conhecido para vocês como a mitologia grega, senhor da água e protetor do bestoj Sarko.
Vinícius mostrou o braço, revelando uma tatuagem de tubarão para Gael. Lubu tinha a marca de um dos maiores predadores dos mares. Já Silva, por sua vez, tinha a marca de um dos maiores predadores da terra.
— Esse ciclope escapou do nosso domínio para a terra, isso seria impossível, se alguém não tivesse conectando essas sombras — Vinícius respondeu, denotando que sua informação ainda era uma mera teoria sobre o que estava acontecendo — Como supostamente eles já estão com a joia da terra, não tinham motivos para eles estarem aqui.
— Karumo me disse que nenhum inimigo viria mais para a Terra porque a joia não estava mais aqui, mas, mesmo assim, quase morri por algo que não devia ter acontecido.
— Realmente não havia motivo para o ataque, mas se a joia não fosse a causa, eu não consigo pensar em outra razão — desviou Vinícius, ciente de que as sombras estavam atrás de Gael para eliminar um novo guardião antes que ele crescesse em força e poder, o que facilitaria suas vidas. No entanto, ele não queria sobrecarregar o garoto com essas preocupações. Então, prosseguiu — Além disso, tem algo interessante para te contar: cada joia tem uma quantidade específica de núcleos de poder. A da Terra tem 7, e as das outras dimensões têm 6, 5, 4, 3, 2 e 1.
Vinícius tentava explicar para Gael os objetos que os guardiões tanto protegiam:
— Na dimensão de Takaamahara, que vocês chamam de mitologia japonesa, há um receptáculo que pode aceitar essas 7 joias e conceder um desejo ao portador. Mas há um detalhe importante: para usá-las, existem certas condições.
— Seria a soma dos núcleos, mestre? — perguntou Lucas.
— Exatamente, a soma dos núcleos. Para colocar as pedras no receptáculo, a soma das posições sempre tem que ser 7. Ou seja, a joia 1 deve ficar com a 6, a 5 com a 2, a 4 com a 3, e depois a 7. Se não for feito assim, o receptáculo se romperá e as joias desaparecerão por todas as dimensões. Como a joia da Terra já foi levada pelas sombras, não sabemos qual dimensão elas atacarão a seguir, o que nos coloca em uma situação complicada.
— Enquanto estive sozinho, eu fiquei pensando em algo. Se os guardiões são os seres mais poderosos, por que todo esse alvoroço com as sombras? Tem algo que não está fazendo sentido para mim.
Lucas observou os questionamentos de Gael e viu que seu mestre acenou com a cabeça em sinal de concordância. Então, Herhrick começou a explicar:
— Quando os guardiões foram criados, o balanceamento de poder exigiu que algo fosse originado também para compensar essa proporção de energia elemental nos universos, nessa condição, as portas das bem-aventuranças foram geradas e qualquer um que chegasse a esses locais teria um poder quase equiparado ao de um guardião — Lucas envolveu Gael em suas explicações sobre esse novo poder — Quase, porque a quantidade de energia elemental que os bestoj fornecem para os guardiões é gigantesca e a energia elemental gasta com os poderes das portas das bem-aventuranças é dissipada do seu próprio usuário.
Agora Gael estava começando a encaixar um pouco as coisas em sua cabeça, as peças estavam se formando e dando sentido aos seus pensamentos:
— Então é daí que vem os poderes das grandes sombras? — Questionou Gael.
— Sim e não — respondeu Lucas, fazendo a expressão de Gael demonstrar que está confuso novamente — Sim, porque há nove Portas das Bem-Aventuranças, e você só precisa de dois requisitos para acessá-las: ter o mesmo elemento dos poderes delas e cumprir o desafio que o emissário do portão vai te propor.
Herhrick tentava deixar as coisas bem mais claras para Silva com essa explicação:
— Além dos desafios e da compatibilidade elemental, é preciso ser extremamente eficiente no uso da energia elemental para encontrar as fendas dimensionais onde cada uma dessas portas está localizada.
— E o não?
— O “não” se aplica aos dons. Desde a criação dos bem-aventurados, antes mesmo da separação entre dia e noite, certos poderes foram concedidos a alguns deles. Esses poderes vão além da manipulação comum de energia elemental. É normal conseguir manipular a energia elemental e até fundir poderes, mas os abençoados com o dom podem fazer coisas extraordinárias: manipular o tempo, se comunicar com animais, se transformar no próprio elemento, ter visões do futuro e influenciar os sentidos. No entanto, há três condições para ter essas habilidades: você precisa encontrar alguém que já possua um dom, algo extremamente raro hoje em dia, essa pessoa precisa querer te ensinar e você precisa ter o mesmo elemento que o portador da bênção.
Com a explicação de Lucas, Gael percebeu que não conseguiria encontrar essas fendas dimensionais nem os possuidores do dom por agora. Sua energia elemental ainda precisava evoluir muito antes de chegar a esse ponto, e ele não queria depender da ajuda de ninguém até ser digno de tais poderes. Decidiu que desenvolveria suas habilidades o suficiente para encontrar um dos portões sozinho. Depois disso, poderia procurar alguém com o dom do fogo para lhe ajudar no futuro.
As palavras do guardião e de Herhrick fizeram Gael pensar como devia melhorar ainda mais seus poderes, mas mesmo tendo uma conversa para entender o buraco em que havia se enfiado, Silva pressentia que estava sendo testado por Vinicius. Até que ele se lembrou de algo que havia visto na batalha do garoto ruivo ao seu lado com o monstro em seu bairro:
— Na batalha contra o ciclope, eu percebi que meu fogo não teve poder de ataque suficiente para criar algum dano no monstro. Por mais que eu tenha levado algumas pancadas e estava lutando para permanecer acordado, vi que você usou sua energia elemental para criar gelo no ciclope.
Vinícius apenas sacudiu a cabeça de forma positiva, concordando com a fala de Gael. Ele realmente havia usado gelo, o que levou o garoto a ligar os pontos com o próximo raciocínio:
— Com você controlando o gelo e tendo a marca de um tubarão no braço, o seu bestoj nada tem a ver com o elemento usado — Gael estava conseguindo chegar a uma conclusão clara sobre o assunto — Mesmo controlando o gelo, seu principal elemento não deveria ser água?
— Sim — respondeu Vinícius, sorrindo com o raciocínio rápido do garoto. Ele permaneceu em silêncio, apenas observando até onde Gael conseguiria chegar com aquela ideia.
— Se você pode usar dois elementos, eu também posso? Se sim, poderia me treinar? — Gael fez as duas perguntas já sabendo a resposta e havia entendido o recado de que precisava ficar mais forte.
Embora Vinícius não tivesse contado diretamente a Gael que o ciclope veio à Terra para matá-lo, Silva percebeu a mensagem por conta própria. Não precisava de mais explicações; ele só queria saber se Lubu o treinaria.
— Vou te treinar. Foi uma falha minha o ciclope ter chegado à Terra e quase ter te matado. Karumo provavelmente não vai se importar com isso, mas tenho uma condição.
— Qual seria?
— Você, com sua força atual, vai ter que encostar um dos seus dedos em minha testa — Vinicius lançou o desafio tocando seu dedo indicador direito em sua própria testa.
— Tipo o que o Sasuke fez com o Naruto no Vale do Fim? — Gael pensou em voz alta, mas quando percebeu, já era tarde.
— O quê? — perguntou Vinícius, confuso com a pergunta de Gael — Quem são esses?
— Perdão, acabei pensando em voz alta novamente.
— Você está pronto? — Vinicius se levantou da areia perguntando para Gael sobre se aceitaria o desafio.
— Eu nasci pronto!
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