Gael abriu os olhos devagar e logo se deparou com uma visão incrível. Ele ficou surpreso ao perceber que estava em um campo vasto e verdejante, que se estendia até onde a vista alcançava. A grama verde vibrante combinava perfeitamente com o céu azul profundo, formando uma paleta de cores digna de uma pintura impressionista.
O campo era enorme, sem árvores ou construções à vista. Era como se Gael tivesse sido transportado para um paraíso intocado, um refúgio perfeito longe do caos da cidade. O ar fresco e limpo estava cheio do aroma de grama recém-cortada, estimulando todos os seus sentidos para esse novo e desconhecido mundo.
O céu estava limpo e azul, se estendendo até onde a vista alcançava, convidando-o a apreciar a imensidão do universo. O sol brilhava intensamente, iluminando todo o campo e criando um jogo de sombras e reflexos na grama que se movia suavemente com a brisa.
Uma brisa suave soprava, como se a própria natureza sussurrasse segredos aos ouvidos de Gael. Essa brisa acariciava sua pele, trazendo-lhe uma sensação de calma e tranquilidade. Era como se a própria natureza estivesse lhe dando as boas-vindas a esse mundo encantado.
Cada detalhe parecia meticulosamente cuidado, como se aquele cenário tivesse sido criado especialmente para surpreender e encantar o jovem guardião.
— Estou morto? — Levantando a cabeça da grama, o garoto indagou a si mesmo, confrontando a estranheza do lugar em que se encontrava.
— Não, você não está morto — Respondeu a figura que estava ao seu lado.
— AHHHHH! — Gritou Gael com o susto que percorreu seu corpo, pois finalmente encontrava o ser que havia rugido quando ele quebrou o eixo, o leão de fogo.
O leão de fogo surgiu das profundezas da paisagem, uma figura majestosa e imponente, como se fosse esculpido por chamas dançantes. Sua pelagem misturava tons de laranja, dourado e vermelho, brilhando como brasas incandescentes a cada movimento. Cada pelo parecia uma chama viva, crepitando com calor e intensidade.
Seus olhos, profundos e penetrantes, brilhavam como esferas de fogo ardente, refletindo uma sabedoria e poder antigos. As pupilas eram como brasas acesas, e sua expressão combinava nobreza e serenidade de maneira intrigante.
A crina do leão de fogo era uma cascata de chamas cintilantes, erguendo-se com majestade ao longo de seu dorso. Cada mecha ondulava suavemente, irradiando calor e luz como uma coroa de fogo ao redor de sua cabeça imponente.
Seus pés eram robustos e vigorosos, como pilares de fogo sustentando todo o esplendor da criatura. Ao caminhar, suas pegadas deixavam pequenos rastros de chamas no chão que iam se restaurando ao longo do tempo, lembrando a todos de sua natureza ardente e enigmática.
A cauda do leão de fogo era um espetáculo à parte, sinuosa e elegante como uma serpente flamejante que se movia em perfeita harmonia. Cada balançar da cauda deixava um rastro de faíscas no ar, como se o próprio fogo estivesse traçando um caminho brilhante por onde passava.
— Que lugar é esse? — Perguntou Gael, examinando os arredores em busca de pistas que o levassem a entender como havia sido transportado de forma tão extraordinária.
— Você está dentro do seu eixo. Tudo que você está vendo neste momento faz parte de si mesmo — O leão enfatizou enquanto caminhava ao redor de Gael.
— Mas afinal, quem é você?
— Quem eu sou? — O animal indagou, arranhando o solo gramado com sua pata direita, como se refletisse sobre a questão — Eu tenho vários nomes, para cada um que me encontra tenho um. Eu sou o que sou, mas é você quem define como deve me chamar.
Gael recolheu as pernas, sentindo-se inexplicavelmente confortável naquele lugar, como se pertencesse àquele mundo extraordinário. Antes que pudesse expressar o que estava sentindo, o leão interrompeu com sua majestosa voz:
— Eu entendo sua frustração e a sensação de impotência, e sei que você deseja ser mais forte, mas está lutando para conseguir. No entanto, há uma maneira de superar essa fragilidade. A única forma de se fortalecer é é me conhecer e prosseguir em me conhecer.
— Mas como posso fazer isso, sendo que não sei nem o seu nome?
— Levante-se, filho do homem, você vai começar a me conhecer a partir de hoje — O leão se virou para Gael, encarando-o olho no olho.
O garoto se levantou imediatamente, mesmo sabendo que não era o seu corpo físico que estava ali, estranhou o fato de conseguir ficar em pé de forma tão rápida. No entanto, o que mais o intrigou foi a forma como o animal falou com ele, assim como Miguel havia feito. Porém, antes que pudesse refletir mais sobre o assunto, o próximo comando do leão chamou sua atenção.
— Libere a sua espada e me mostre.
Gael consentiu com a cabeça e pronunciou:
— Ignis — A espada surgiu em sua mão direita, com seu corte simples e a empunhadura de costume. Tudo parecia normal, desde que a arma havia surgido.
— Posição de batalha — Disse o animal, com a voz forte como um comandante.
Gael assumiu a posição ensinada por Karumo, pronto para o teste.
Num piscar de olhos, o leão estava à sua frente, atacando sua espada com uma patada poderosa que a quebrou em um só golpe.
— Mas o que foi que você fez? — Questionou Gael, chocado com a forma como sua espada havia sido destruída com aquele golpe — Como vou poder voltar para a luta agora, se a espada foi quebrada?
— Sua espada não está em sua verdadeira forma — Disse o animal, chamando a atenção do garoto para a grande descoberta — Ela está tão frágil quanto um pedaço de vidro porque você ainda não me conhece. Assim, eu vou lhe ensinar meu nome para que sejas poderoso.
Era a primeira vez que Gael havia ouvido algo assim:
— Ensinar o nome? Como algo tão simples poderia ser uma lição poderosa? Como uma referência em algo que representava as pessoas poderia ser ensinada como uma fórmula de matemática ou uma equação de física?
No entanto, para aquele leão, seu nome era um ensinamento em si:
— Isso pode não ser uma fórmula matemática ou uma equação de física, mas meu nome não é igual aos demais e você vai saber o porquê — Disse o leão e em seguida rugiu para o lado — Eu e você somos um, enquanto você permanecer dentro do eixo, tudo que pensar ou sentir, eu também pensarei ou sentirei.
Gael então compreendeu o que estava acontecendo naquele momento. Se quisesse ficar mais forte e cumprir sua promessa de ser o mais forte entre os guardiões, ele precisaria aprender o nome daquele animal:
— Eu sou seu bestoj, eu sou a fonte de seus poderes e quanto mais você me conhecer, mais forte ficará — Disse o leão, virando-se para Gael — A base para lidar com essa situação é a confiança, tanto em você em relação a mim quanto em mim em relação a você. Por isso, quebrei sua espada; sua confiança não era forte o suficiente, e nem sua arma nem sua energia elemental foram capazes de derrotar o ciclope. Por isso, trouxe você aqui antes que morresse.
Quando o leão terminou de falar, três portas de madeira surgiram na frente de Gael. Cada uma tinha uma cor diferente: a primeira, da esquerda para a direita, era vermelha; a do meio, azul; e a terceira, branca.
— Como eu te disse, pela sua falta de confiança em mim, você manifestou a forma errada da sua espada, e isso afetou o tamanho do seu poder elemental — Enfatizou o leão, explicando o significado das três portas — Como Karumo explicou, sua espada tem três estágios, e eles estão escondidos atrás dessas três portas. No entanto, as portas azul e branca ainda estão trancadas. Lembra que Karumo disse que não poderia ensinar a evolução de sua espada?
— Sim — Respondeu o garoto, admirando as três portas à sua frente.
— Isso acontece porque nossos poderes ainda não têm nenhuma conexão, mas a porta vermelha já está destrancada. Se entrar por essa porta, você descobrirá o meu nome, e sua espada assumirá sua verdadeira forma — Disse o leão, apontando com a cabeça para a porta que ele deveria escolher.
Gael se aproximou da porta vermelha e percebeu que ela não tinha maçaneta, ao contrário das outras duas. Ele se aproximou e a empurrou para frente, encontrando um escuro absoluto.
— Acho que estou entendendo o que você quer dizer — Disse Gael, compreendendo a situação em que se encontrava.
— Esse é seu primeiro teste de confiança. Se você deseja conquistar meu nome e meu poder, terá que pisar em lugares que não se pode ver — Disse o leão, olhando para ele — Caminhando por onde seus pés nunca imaginaram estar, onde podem falhar e explorando lugares totalmente desconhecidos.
Gael olhou novamente para o leão, que assentiu com a cabeça, dando-lhe a coragem necessária para a atitude que precisava tomar. O garoto deu o primeiro passo em direção ao escuro, mas foi só quando deu o segundo que ele se arrependeu do que havia feito. No entanto, já era tarde, e Silva caiu em direção ao breu infinito.
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