– Que droga! Você resmunga muito! Se ficasse calado por um minuto conseguiria escutar o barulho da cachoeira. – Niara estava impaciente.
– Nós saímos cedo, o sol já está brilhando no meio do céu e nada. – Disse Odilon, subindo seu tom de voz.
– Já avisei que não gosto que gritem comigo. Assim que atravessarmos a cachoeira estaremos perto do portão.
– Não gosto que gritem comigo. – Resmungou. – Como se tivesse alguma companhia aqui dentro.
Niara se virou rapidamente. Seus olhos esverdeados brilharam como chama. Odilon, percebendo o furor no olhar da jovem, se calou por um momento.
– Desculpe a grosseria. – Falou suavemente o príncipe. – Tudo o que eu queria era estar perto da minha filha. – Odilon suspirou profundamente.
– Não se preocupe. Logo logo você vai estar perto dela novamente. Vamos. Estamos no caminho certo. Já consigo ver as pedras e o barulho de água está ficando mais forte.
– Como vamos atravessar essa cachoeira?
– Você sabe levitar?
– Isso é algum tipo de brincadeira?
– Não. Foi uma pergunta extremamente séria.
– E óbvio que eu não sei levitar.
– Então você vai ter que passar para o outro lado do jeito antigo, atravessando por dentro da água.
– Eu pensei que tivesse algum tipo de ponte ou acesso.
– O único jeito de atravessar a pés secos seria dando a volta na montanha. Esse é o caminho mais rápido e você está reclamando, imagina se fossemos pelo mais longo. – Niara escorregou no barranco e caiu sentada. – Que droga! Vai ficar parado ai me olhando? Venha logo me ajudar.
– Tome mais cuidado! – Odilon tentou em vão disfarçar o sorriso.
– Está achando engraçado?
– Não… só um pouco. – Odilon tentava manter uma expressão séria, mas seus risos escapavam.
Niara estalou os dedos. Suas passaram de sujas a limpas.
– O que foi isso? – Perguntou Odilon, admirado.
– Isso foi eu usando magia para limpar minhas roupas. – Niara se segurou em um tronco de árvore para não escorregar novamente. chegamos. Essa é a cachoeira.
– É bem larga. Vai demorar um pouco para atravessar. Acho que vou aproveitar para tomar um banho, o que acha? – Odilon entrou na água gelada, sem tirar as roupas.
– Se quiser fique a vontade, mas eu não vou entrar nessa água fria.
– E como vai fazer? – O príncipe deu um mergulho e nadou um pouco. – Vai entrar na mente de algum animal e faze-lo transporta-lá para o outro lado?
– Não é bem isso que eu estou pensado... – Niara moveu as mãos, uma de encontro a outra. Algumas rochas se moveram, formando uma linha reta, para que pudesse passar por cima.
– Você disse que a única maneira de atravessar era passando por dentro da água.
– Não, eu disse que você teria que passar por dentro da água.
– Com atitudes assim não vai arrumar amigo nenhum lá fora.
– Os humanos são egoístas de natureza. Um ato desses não provoca furia neles.
– Nem todos são iguais. – Odilon saiu da cachoeira. O jovem se sacudiu, molhando parcialmente a feiticeira.
– Olha o que você fez, seu... seu... – A feiticeira estendeu a mão na direção de Odilon, fazendo com que um feixe de luz azul passasse por ele. O príncipe ficou totalmente seco.
– Sabe, queria ser assim.
– Assim como?
– Assim, como vocês. Feiticeiros, bruxas, magos. Ambos fazem uso da magia. Queria poder ser assim, resolver tudo com magia.
– Acha que tudo se resolve com magia? Acha que magia é fácil de administrar? hum... vocês humanos são tão engraçados.
– E por acaso você não considera humana?
– Eu não sou humana. Sou da raça dos anjos.
– Ah sei! Então cade suas asas?
– A forma angelical não pode ser vista por humanos. Se vocês nos visses na nossa forma natural teriam os olhos derretidos e o corpo queimado pelo intenso brilho de nossa pele e armadura.
– Sério? – Odilon estava espantado.
– Não. Na verdade é, mas não isso não se aplica a min. Não sou desse tipo, minha raça sempre obteve essa forma humana e sem asas.
– E existem outras raças de anjos?
– Nove.
– Nove raças?
– Exato. Eu e os anjos que chegaram aqui na aurora dos tempos somos do coro mais baixo de anjos. Existe muita coisa lá fora, Odilon. Muita coisa que foge do alcance até das criaturas mais poderosas desse planeta.
– Antes você havia me dito que foi criada pelos anjos.
– E fui. Fui criada por eles, como um deles. Eles me fizeram com a mesma essência e poder deles, mas com uma alma partida em dois.
– Alma partida em dois. Chega a ser poético, igual as histórias de amor que minha mãe me contava na hora de dormir.
– Olha! Ali está o portão.
...
O largo portão de ouro levava a uma enorme escadaria descendente.
O largo corredor era sustentado por enormes colunas de marfim, seu chão era do mais belo mármore.
Ao final do corredor ficava o pátio central, onde ficava o guardião, logo após estava o portão de saída do jardim.
Niara descia as escadarias devagar; Odilon vinha atrás da feiticeira. A mulher parou de repente e estendendo a mão encostou no peito de Odilon, para que parasse também.
– Tem algo errado. – Sussurrou a mulher. – Este lugar está muito calmo, no entanto o guardião nunca dorme.
– O que isso quer dizer?
– Significa que algo aconteceu aqui. Estou sentindo minha magia. Vamos caminhar devagar.
– Isso não deveria ser normal? – Odilon tirou sua espada da bainha.
– Não. A criatura tem um tipo de anti-magia, por isso eu não consigo derrota-la. Não faça barulho, príncipe. Pode ser que ele esteja nos ouvindo. Mas o que? – Niara se indignou com a cena.
A criatura era dourada. Possuía quatro rostos, um em cada direção. Tinha quatro braços. Os braços superiores tinham em mãos espadas gigantescas e vestia uma armadura dourada, com símbolos indecifráveis. Sua altura era em torno de dois metros e meio.
O ser estava caído no chão. Não se notava nenhum movimento de sua parte.Niara se aproximou e olhou mais de perto.
– Impossível. Ele está morto. O caminho está livre.
– Então vamos.
– Isso é algo surreal. O que poderia ter matado uma criatura dessa?
– Não sei. O caminho está livre. Vamos. – Odilon tentava passar um ar de serenidade, porém estava assustado. Pensava que tipo de criatura mais poderosa seria capaz de fazer tal ato e isso o deixava mais preocupado.
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