O Forte Kazhir é conhecido por ser a capital de Névoa.
O lugar é formado por um conjunto de fortificações, tais como: as muralhas de Alberta, o aqueduto terra nova, os fortes trindade e Hene Yoshinvo, os fortins de Isyn taina e de Isyn casiri e a antiga praça do forte. Nesta fortificada cidade vivem os imperiais, uma antiga organização responsável por acabar com as guerras iniciadas pelos soberanos. Agora o lugar serve como exílio para os gigantes de gelo.
Estava frio. O céu estava estrelado. Sotrel estava devidamente agasalhada. O menina fazia careta, enquanto tentava fazer um gesto com as mãos.
– Não estou conseguindo. – Disse, com uma voz ofegante.
– A magia é algo muito fácil de se controlar. – Disse Adanahel, fazendo o mesmo gesto com perfeição. – Ainda mais se tratando de magia do gelo. Não, não faça desse jeito. Isso, melhore só mais um pouco. Perfeito! Seu primeiro boneco de neve feito com magia de gelo.
Sotrel estava tão empolgada que começou a dar pulinhos de alegria.
– O que vamos fazer agora? O que vamos fazer agora? – A menina estava empolgada.
– Hum… você gosta de coelhos?
– Não muito. – A jovem fez uma careta.
– Então vou te ensinar a fazer chover flocos de neve.
– Uauuuuu. Me mostra!
– Você só precisa… – O general foi interrompido.
Adanahel ouviu um arranhar de garganta. Olhou para trás e viu Bantar, encostando no imenso portal de madeira. Parou de ensinar a menina e pediu que ela entrasse para seus aposentos.
Sotrel entrou, ainda maravilhada com a obra de magia que havia feito há poucos minutos.
– Majestade. – Adanahel se ajoelhou, apoiando em seu cetro.
– Ela é nossa hospede ou nossa prisioneira? – Disse secamente. – O que acha que está fazendo? Você deveria estar lá fora tentando nos trazer Yavel de volta.
– Irmão, ela é só uma criança. Não tem culpa de nada. Estava ensinando um pouco de magia do gelo para ela. A menina precisa se distrair um pouco. Ela estava se saindo muito bem, parece possuir outros dons também.
– Ela não está aqui para isso, Adanahel. Ela está aqui como refém. Lembre-se que nós também ensinamos magia para Yavel e olha o que ela fez conosco.
– Como disse, ela é só uma criança.
– Basta! Não quero mais saber desse assunto. Diga-me, o que descobriu a respeito de Polipedes e Odilon?
– Não muito, majestade. Tudo o que sei que eles estavam partindo de Aurora para Truv’hel. Em Aurora se encontraram com Idris e Menetuf.
– É só o que sabe?
– Sim, meu rei.
– Patético. Eu envie um dos meus melhores generais para executar uma simples tarefa e ele falha miseravelmente.
– Eles ainda estão sob meu controle, Bantar.
– Sério? E como não descobriu nada até agora?
– Eles vão falar. Em algum momento eles vão falar. Fiorella está quase entregando o que sabe. Odilon está preso dentro dos jardins, na vila dos lobos.
– E quanto a Yavel?
– Polipedes está encarcerada em Donath.
– E você já interrogou ela?
– Ainda não, meu irmão. – Adanahel abaixou a cabeça e ficou em silêncio.
– O amor que você sente por ela o impede de fazer seu trabalho, não é mesmo? Quando vai entender que ela não ama você. Quando vai perceber que ela preferiu Andrhel, ao invés de você? Nem mesmo a morte dele vai fazer com o que o sentimento dela mude. Aceite isso. Ela nos traiu no passado, nos traiu no presente e vai nos trair no futuro. O sangue dela é mestiço, ela é uma mestiça, nunca será uma de nós de verdade.
Uma nevasca começou a cair suavemente. Adanahel usou sua magia para trocar de vestimenta, fazendo sua negra armadura se transformar em uma longa capa de inverno, com gola de pele de lobo. Bantar cruzou as mãos, olhou para os lados e respirou fundo.
– Nada do que disser vai mudar o que eu sinto por ela. – Sussurrou Adanahel.
– Não me importo pelo que sente por ela. Só quero que a traga para min. – Bantar desapareceu como cinzas.
…
Era madrugada. Os ventos frios do deserto de Kaiobo, assim como a luz da lua passavam pelas grades da janela da escura prisão.
Polipedes estava sentada em sua cama que mais parecia um pedaço de madeira. Ao seu lado uma pequena mesinha com três velas acessas, velas essas que permitiam que a feiticeira pudesse ler um dos livros que estava no cárcere antes dela. O livro se chamava “História da Guerra” e contava os fatos históricos que levaram os soberanos a sua primeira guerra. “Maldita caixa; sempre causando guerra”, a feiticeira pensou alto.
– Shiu! Eu quero dorm… – Um sopro passou rapidamente por todo o recinto. O prisioneiro da cela à frente não consegui terminar sua frase.
– O que fez com ele? – Questionou a feiticeira, sentindo a presença de seu antigo aliado.
– Ele está bem. Só está repousando. Trouxe isso para você. – O homem da armadura negra passou pelas grades uma cesta de bolinhos de mirtilo. – Eu sei que você gosta e aqui não devem estar servindo uma refeição adequada.
– Até que estão me tratando muito bem aqui dentro. Hoje a noite me serviram frutos do mar como jantar. – Polipedes se aproximou da cesta, pegou um bolinho e mordeu. Sentiu o maravilhoso gosto dos mirtilos dançarem em sua boca, seus olhos se fecharam em sinal de apreciação.
O vento soprava. Os cabelos amarrados do general balançavam de um lado para o outro. Seu olhar era fixo na feiticeira.
– Como você está?
– Entra aqui e descobre.
– Se eu entrar não poderei mais sair.
– Então porquê me trouxe para esse maldito lugar? – A raiva que Polipedes sentia de Adanahel não poderia ser comprada com bolinhos.
– Eu sei que você está planejando algo contra os gigantes de gelo. Bantar quer saber e não descansar enquanto não tiver respostas.
– Ele está sequestrando garotinhas. Deve estar muito desesperado.
– Não sabíamos que você não estava em Antífes naquele dia. Bantar achou que se pegássemos o que era deles eles devolveriam o que é nosso.
– Esse é o problema, Adanahel. Eu não sou de vocês. Eu não sou sua.
– Não se trata de amor, Yavel. Você e seus irmãos traíram o rei, agora ele quer que a justiça seja feita.
– Ele não é meu rei. Idris está em Aurora, Menetuf está em Polian. Pegue eles também, mas não é isso que o seu rei quer, não é mesmo? Nós sabemos que ele não liga para justiça. Diga a verdade.
– Onde está a caixa dos desejos? Sabemos que foi você que a roubou.
– Eu não sei.
– Não diga mentiras. Eu estava lá no dia. Fui eu quem deixei vocês escaparem do forte. Eu e meu coração mole, mas agora não vou ser mais assim, não depois do que você fez comigo, não depois de ter escolhido Andrhel.
– Não é isso que essa cesta de bolinhos diz. Aceita, meu amigo. O que você sente nunca vai mudar. – Polipedes se aproximou das enferrujadas grades. – Estamos de lados opostos agora e isso nunca vai permitir uma aproximação nossa.
– Poderia ter me escolhido. Poderíamos ter tudo o que quiséssemos. – Adanahel virou-se de costas. A esfera de seu cetro iluminava todo o local. – Não sei quando o poder deixou de ser o suficiente para você, Yavel.
– O poder nunca deixou de ser o motivo da minha vida, Adanahel. Apenas as causas que me fazem o querer. Bantar não é o homem que você pensa. Ele não é o rei bondoso que acha. Olha a atitude dele, sequestrando uma pobre menina indefesa. Imagine só o que ele faria com esse mundo se tivesse a caixa em mãos novamente.
– Essa é a última chance, minha amiga. Bantar já mandou que Eiron prepare as tropas para um grande ataque.
– Está bem! – Polipedes suspirou profundamente. – Mas quero que faça algo para mim em troca.
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