Quando Gael abriu os olhos, deparou-se com a majestosa face de um leão de fogo diante dele. O rugido ecoou em seus ouvidos, reverberando por toda a sua pele. Cada pelo de seus braços se arrepiou enquanto a imponente criatura atravessava seu corpo, desaparecendo na névoa.
Ainda sob o impacto do susto, Silva rolou no chão, desorientado. Ao se virar em direção a uma árvore, seus dedos tocaram algo estranho. Era um objeto que Gael tinha certeza de que não estava ali antes.
Recuperando-se do susto, o jovem encontrou-se diante de Karumo e Kira, que riam da situação. Talvez considerassem impossível reproduzir aquele evento, ou talvez estivessem apenas se divertindo com a reação de Silva. Estavam começando a apreciar a companhia de Gael, e aquele dia marcava apenas o início de suas jornadas.
— De onde surgiu isso? — Perguntou o garoto, segurando o objeto em sua mão — Isso é uma…
— Sim, isso é uma espada — Interrompeu Karumo — O susto que você teve foi a ruptura de seu eixo interior. Todos os seres vivos possuem algo dentro de si, uma fonte de energia elemental ativa. Exceto os seres humanos. Isso continua sendo um mistério até mesmo para nós, guardiões. Chamamos essa fonte de energia elemental de eixo.
A espada nas mãos de Gael era quase do tamanho de uma adaga, um pouco maior que seu antebraço. Sua lâmina não apresentava detalhes ornamentais, mas era afiada. Ao passar o dedo sobre ela, Silva sentiu o fio da lâmina se agarrar à sua pele.
Gael ponderou sobre as palavras de Karumo. Os seres humanos eram os únicos incapazes de manipular a energia elemental:
— Por que será que os seres humanos são os únicos que não conseguem manipular essa energia? Será que essa é uma condição permanente ou houve um momento em que nós, humanos, possuímos tal capacidade?
— Lembra quando disse que a diferença entre os guardiões e os bem-aventurados era que possuímos os bestoj? — Indagou Karumo, interrompendo os pensamentos de Silva.
— Sim.
— Então, a arma concedida por nossos bestojs é o que nos diferencia dos bem-aventurados. Com o aprimoramento de nossos poderes, não somos mais dependentes apenas dos elementos da natureza — Explicou Karumo, destacando a distinção entre os guardiões e justificando por que foram confiados com a proteção de cada dimensão.
— Mas como eu consegui quebrar isso dentro de mim? — Gael fez a pergunta óbvia a Karumo.
— Responda isso, Kira. Você tem ficado muito quieto nessa conversa.
— Você estava explicando tão bem, mestre, que achei inconveniente interromper — Justificou Gayami, referindo-se ao seu silêncio até então.
— Quem vê pensa que você tem esse comportamento educado todos os dias. Pare de fingir na frente do garoto!
— Depois você reclama que eu não te trato com respeito, seu velho! Já está ficando gagá, está na hora de passar o cargo para mim.
— Passar o cargo para alguém tão mal-educado como você? Não terei esse desprazer — Afirmou Karumo, tentando provocar seu discípulo.
Gael se cansou daquela troca de provocações diante de seus olhos, pareciam dois adolescentes mais novos do que ele.
— Uhum, uhum — Pigarreou Silva duas vezes.
— Perdão por essa cena constrangedora. Meu mestre é alguém que é pouco amado — Disse Kira, levando um tapa na cabeça de Karumo. No entanto, sorrindo, ele continuou — Você quebrou porque recebeu o poder de um guardião. Digamos que, agora, você não é mais um humano normal.
— Só um minuto para ver se entendi algo — Disse Gael, tentando organizar seus pensamentos — Então quer dizer que agora sou um guardião também?
— Você capta as coisas muito rapidamente, garoto — Apontou Kira, recebendo um aceno positivo de Karumo.
— Eu não disse que me tornaria o mais forte entre os guardiões à toa — Cutucou Gael, arrancando outro sorriso de Karumo e Kira.
— Você é bem sagaz, mas para alcançar esse objetivo, sua jornada terá muitos obstáculos, pois as sombras começaram a se mover recentemente — Disse Karumo, retomando a fala — Como eu estava dizendo, muitos seres conseguem usar a energia elemental neste mundo. Os bem-aventurados são aqueles que têm maior afinidade com o eixo, e, como Vand explicou, eles são conhecidos pelos humanos como deuses.
Gael provavelmente estava ouvindo uma informação que nenhum ser humano sonhava em imaginar: aqueles “deuses” que ele estudara tanto nas aulas de história realmente existiam.
— Mas existem seres que podem manipular os elementos puros através dos nomes originais desses elementos — Finalmente, o mestre do garoto começou a explicar a diferença na utilização dos poderes.
— Os guardiões? — Perguntou Gael.
— Sim, nós mesmos. Quando cada Guardião descobre o nome original do seu elemento e quebra o seu eixo, ele ganha uma espada simples como representação de que agora pode usar o elemento original. No seu caso, é o fogo.
Gael segurou a espada em suas mãos e começou a observá-la enquanto o guardião explicava os detalhes de seus novos poderes. Ele percebeu que se tratava de uma arma comum, sem uma empunhadura especial. Era como se a espada tivesse sido forjada por qualquer ferreiro, em vez de possuir um poder especial como os bestojs mencionados por Karumo.
— Cada espada possui três estágios de poder e você não pode treinar para adquiri-las. Eu só consigo te passar o básico. Quando você sentir uma grande afinidade com ela, sua arma evoluirá com sua capacidade de luta — Respondeu Karumo. No entanto, a expressão de Gael transmitia a mensagem de que o garoto ainda não havia entendido — É como o haki em One Piece. Quanto mais os personagens do mangá lutam usando esse poder, mais eles evoluem. E essa é a única forma de evoluir sua espada.
Gael continuou olhando para Karumo com uma expressão que demonstrava que ele ainda não havia captado o significado. O guardião percebeu o equívoco que havia cometido:
— Você ainda não chegou nessa parte?
— Não, e acho que você me deu um spoiler, não é? — Questionou Gael, um pouco frustrado — Fujo dos spoilers no Twitter para receber um spoiler de um ser sobrenatural.
— Só podia ser você mesmo, velho. Não sabe segurar a língua? — Comentou Kira apontando o constrangimento da cena.
— Fique quieto, garoto — Karumo riu da situação, colocando a mão no rosto pelo constrangimento, mas tentou continuar — Mas como eu estava dizendo, sua espada evoluirá a cada batalha que você travar, e agora, com as sombras começando a agir, não faltarão lutas. Mas não se preocupe, seres extremamente poderosos não irão atrás de você. A Terra não será mais o alvo deles, pois eles já roubaram a joia do poder.
— Vocês disseram que Rick era o mais forte entre os guardiões, certo? — Perguntou Gael, tentando imaginar o nível de poder que o antigo guardião da Terra possuía.
— Sim, ele era o mais forte entre nós — Karumo confirmou — Para ser honesto, a força de Rick era equivalente à de dois ou três guardiões.
A revelação teve um impacto profundo. Quem teria um poder avassalador capaz de derrotar um guardião com a força de três seres que Gael havia presenciado na sala onde fora levado?
— Mas, mestre, não ganharemos nada apenas sentados aqui o dia todo. Por que não ensinamos a ele um pouco de combate com a espada? — Sugeriu Kira, tentando dissipar o clima sombrio que pairava após a menção à morte de Rick.
— Bem pensado, garoto, finalmente uma ideia boa veio de você! — Concordou Karumo, não perdendo a oportunidade de provocar Kira, mas reconhecendo que aquela era uma boa ideia para o treinamento de Gael — E não é que esse insuportável tem algumas ideias inteligentes? Vamos, levante-se!
O comando foi dado a Silva, que compreendeu naquele momento que a dinâmica entre aqueles dois funcionava daquela maneira: um velho provocativo e um jovem impetuoso. No entanto, ao contrário de se incomodar, ele se levantou com um sorriso no rosto.
Kira se afastou um pouco para começar a lutar contra Gael e ensinar-lhe alguns golpes. No entanto, o garoto decidiu que precisava fazer mais uma pergunta antes de iniciarem o treinamento:
— Quantas vezes um guardião foi morto até hoje? — Kira olhou para Karumo, transmitindo claramente que seria seu mestre quem responderia àquela pergunta.
— Infelizmente, essa foi a primeira vez, e espero que seja a última — Disse Karumo que mal sabia o quão errado estaria.
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