As águas verde do mar Tropos se moviam mais que o normal, devido ao tempo chuvoso.
O império Poliano havia travado uma guerra para conseguir as terras de Aurora e por isso nenhum país lançava nessa direção navios de transporte de passageiros. Odilon, Polipedes, Mikaela e Fiorella navegavam em um navio de carga que deveria atracar em Darkon.
– O que faremos quando chegarmos? – Perguntou Mikae.
– Precisamos encontrar os caçadores de tesouro, eles devem saber algo sobre a caixa. – Respondeu Polipedes.
– Você sabe que Aurora está em guerra contra Polian, não sabe? Isso pode ser perigoso. Podemos desembarcar no meio de uma batalha. O que está olhando, Frella.
– Ele está ali naquele canto desde que embarcamos. Isso já faz cinco horas. – Disse a jovem dos cabelos azuis. – Acho que vou falar com ele.
– Melhor deixar ele quieto. – Alertou Polipedes. – Odilon costuma ser muito ignorante quando está com raiva e muito solitário quando está triste. Acredite nós não sabemos em que estado ele está.
– Bobagens.
Odilon estava sentado em um canto, com os braços apoiados no joelho e a cabeça apoiada nos braços. "Como será que ela está?", imaginava de olhos fechados. "A culpa é toda minha. Eu deveria ter encontrado ela antes deles."
– Velho amigo! – Disse Fiorella. – Como se sente?
– Achei que não nos conhecêssemos. Pelo menos foi isso que você disse na praça. – Odilon levantou a cabeça. Seus olhos estavam fundos.
A menina não respondeu.
– O que está fazendo? – Continuou, ignorando a fala rude do jovem.
– Pedindo aos deuses que protejam minha filha.
A bruxa bufou.
– Os deuses não se importam conosco. – Continuou.
– Como pode ter certeza disso.
– Um dia eu fiz o mesmo que você. Todos os dias pedia para ter uma vida melhor, não só uma, mais várias vezes ao dia; Tudo em vão. Minha mãe morreu por um crime que não cometeu. Meu pai se matou de tanto desgosto, eu e minha irmã vagamos pelo mundo como uma porcaria qualquer que ninguém aceita. E os deuses? Onde eles estavam que não viram meu clamor? Onde estavam que não ouviram minhas preces?
– Mas hoje você tem uma vida boa, não tem? Tem uma ótima condição financeira, é bastante reconhecida.
– Não graças ou deuses.
– Ou será que é? Todavia deixemos esse assunto de lado. Diga-me, o que a trás até aqui?
– Com excessão das pernas? – Sorriu. – Vim ver como você está. Achei que estava triste, mas olha só, estou vendo até uma risada da minha piada de mau gosto.
– Não tenha tanta certeza. Sorri apenas para não te deixar sem graça.
– Hum, sei. Não se sinta mal, Odilon. Vamos dar um jeito. – Fiorella acenou para Mikae e Polipedes, que olhavam para os dois de longe. Não que se juntar a nós? Vamos comer alguma coisa.
– Prefiro ficar aqui mais um pouco.
– Então ficarei aqui com você. – A pequena bruxa bocejou e encostou sua cabeça no ombro de Odilon.
O príncipe ficou sem jeito com a situação.
...
Idris estava sentada em um trono de madeira posto embaixo de uma estátua de ajo de cinco metros de altura. O trono ficava acima de três lances de escada. Acima da estátua havia três vitrais, cada um representava a figura de um anjo em posição diferente.
– O que está vendo? –Perguntou o imperador, entrando pela porta lateral.
– O amor. – Idris sorria e suspirava.
– Espero que tenha mais coisa nessa sua visão. O amor não é importante para nós nesse momento.
– Ah, sim... vejo que vamos ter visitas. Polipedes está vindo.
– Polipedes? Achei que ela estivesse na prisão.
– Estava, mas agora parece estar em busca de algo... algo muito valioso.
– Assim que ela chegar aqui traga-na para mim.
– Mas ela não está sozinha.
– Não me importo se ela tem companhia, traga apenas ela. – O imperador virou-se de costas. – Vamos! A execução de Dimitri já está pronta. A morte dele servirá de lição para que os rebeldes não me afrontem mais.
– Não podemos apenas deixa-lo preso? Sabe como eu odeio violência, ainda mais explicita. Vai ter crianças vendo isso, Menetuf.
– Mante-lo como prisioneiro não mostrará nenhuma lição a esse povo; quanto as crianças, deixe que vejam, assim aprenderão desde cedo a não se rebelar contra seus governantes.
– Mas é que... – Idris foi interrompida.
– Escuta aqui... – Sussurrou Menetuf, segurando violentamente o braço de Idris. – quer que eu mande preparar outra forca para por você ao lado dele?
– Não. – Disse em voz baixa.
– Então é melhor começar a me obedecer. Como governadora dessa província você deve estar de acordo comigo sempre.
Idris soltou o braço das mãos do imperador. Estava completamente vermelho, devido a sua pele perfeitamente clara. Esfregou um pouco, enquanto lançava sobre o imperador um olhar irritadiço.
– Me desculpe! – Disse o imperador. – Machucou muito? Deixe-me ver.
A conselheira puxou o braço e deu as costas para a vossa majestade.
– Cuidado Menetuf, minha paciência tem limites. – Falou friamente. – Agora vamos, já que eu não tenho escolha mesmo.
Idris e Menetuf saíram pela porta lateral direita, indo na direção da principal sacada do castelo, onde o cadafalso estava preparado.
...
– Que ótimo, o circo chegou na cidade. – Falou Polipedes ao perceber que o porto estava repleto de soldados polianos. Isso significa que meu irmão obteve mais uma conquista.
– O imperador de Polian é seu irmão? – Perguntou Odilon.
– Sim. Ela e… aquela mulher ali também. – A feiticeira apontou para Idris, que caminhava na direção deles.
Odilon olhou a jovem ruiva de pele clara de cima a baixa. Imaginou coisas que não poderia dizer em voz alta. Frella, percebendo que o príncipe babava pela irmã da feiticeira cruzou os braços e fez um enorme bico.
– O imperador quer falar com você. – Disse Idris de imediato.
– Não vai nem me cumprimentar? – Perguntou Polipedes.
– Eu tive que assistir um monte de enforcamentos, Yavel. Não estou com paciência para suas ironias.
– Pelo menos pode dizer do que se trata essa conversa.
– Poderia… se eu soubesse, mas não sei. Menetuf só me deu instruções para interceptar você assim que chagasse e é isso que eu estou fazendo agora.
Polipedes deu de ombros.
– Vamos. – Disse.
– Só você pode ir, o restante tem de ficar.
– Como assim? Que exigências são essas? Eles vem comigo.
– Lamento, mas foi a ordem que o imperador deu.
– Deixa Polipedes. – Disse Mikaela, dando um passo a frente. – Eu, Odilon e Frella podemos fazer outra coisa até você voltar.
– Sim. – Disse Odilon. – Sua irmã poderia nos acompanhar pela cidade.
– Eu até que gostaria, mas como governadora dessa província não posso me dar o privilegio de passear e deixar assuntos reais para depois.
– Não tem importância. – Disse Frella, puxando Odilon para junto de si. Podemos nos virar sozinhos. Vamos Odilon. Nos acompanha, Mikae?
– Prefiro deixar vocês sozinhos.
– Pois bem. Vamos, seu galanteador.
– Ah! – Disse Polipedes. Ao por do sol vamos todos nos encontrar na estalagem do porto, então não vão para longe.
Comments (0)
See all