Foi tudo realmente tão rápido? Como pode não perceber o monstro se aproximar? As dúvidas começaram a preencher sua mente. Sua falha os colocou em risco, se Ada não percebesse a criatura os dois poderiam já estar mortos. Voltou-se para o pivete, tinha que pensar em um plano a situação dependia dele.
-Ada precisamos ser rápidos, ele não vai demorar a perceber nosso cheiro – Sussurrou tentando não atrair atenção do inimigo de forma prematura.
Ada balançou a cabeça concordando com Bruce, fez sinal de que iria flanquear a criatura. Contudo um movimento em falso o fez perder o equilíbrio, o movimento brusco atraiu a atenção da fera que rapidamente avançou pisoteando sobre Ada. O peso fez o chão vibrar e por onde passou arrebentou galhos e esmagou pedras, mas Ada não parecia ter ferimentos graves, apenas perda de ar pela pisada que levou no peito. A situação se tornava cada vez mais tensa.
Ele correu para fora dos arbustos e esticou o braço em direção ao monstro que dava as costas pare eles, fissuras alaranjadas como um carvão que começou a entrar em brasa surgiram do cotovelo até a ponta de seus dedos, o calor gerado deixou o ar em volta de seu braço turvo e no centro da palma de sua mão uma chama se acendeu. Bruce estava pronto para torrar aquele porco maldito, mas hesitou. A quantidade de chamas que criasse poderia incendiar a mata, suas habilidades envolviam criar fogo não sumir com ele. O calor diminuiu assim como a brasa que tomou seu braço e a chama ficou menos intensa. Enchendo seus pulmões de ar fogo foi expelido por sua mão queimando pelos e carne da criatura.
O Porco girou no próprio eixo buscando o agressor e assim que teve visão de Bruce se impulsionou com as patas traseiras para ganhar velocidade e o atropelar. As presas afiadas e a cabeça enorme esmagariam o homem bêbado com facilidade, mas antes que pudesse acerta-lo um pilar de pedra brotou do chão como se um tronco de arvore surgisse em um instante acertando a criatura nas costelas e mudando sua trajetória. Ainda assim a presa longa do monstro acertou o braço de Bruce abrindo um corte profundo em sua carne que começou a escorrer sangue em grande volume. O monstro conseguia ser rápido apesar do peso, porém não desacelerava com a mesma facilidade. O impulso o levou a acertar uma arvore cujo tronco partiu e ficou atrelado a suas presas. O tempo que ele perderia para se desatrelar foi o suficiente, Chaminé ao virar-se para Ada, viu o garoto de pé com uma iluminação verde bem fraca vindo de seu corpo, seu braço esquerdo em volta de suas costelas, suas pernas com joelhos dobrados fazendo uma base, o braço direito flexionado com o punho fechado e expressando dor em seu rosto. Contudo não podiam perder tempo.
-Ada devemos sair deste lugar e repensar nossa estratégia! –Bruce gritou em tom de ordem, estava cheio de inseguranças mas sabia que o campo de batalha não é o lugar de hesitar, principalmente quando outros dependem de você. –Nós cuidaremos de nossos ferimentos e depois mataremos essa coisa! – Como último ato para inspirar o garoto a não desistir e segui-lo, acendeu seu braço mais uma vez dessa vez o esquerdo, e com a palma em brasa cauterizou o ferimento para estancar o sangramento.
Aquele discurso pareceu desnecessário, ao reparar melhor viu que mesmo com a clara expressão de dor em seu rosto, com a testa contraída e rangendo os dentes os olhos do pivete estavam centrados na batalha, ele era determinado. Eles se afastaram do porco o mais rápido possível. Ada estava com sua velocidade prejudicada, devia ter trincado algumas costelas mesmo que tivesse absorvido bem o impacto. Quando o perigo diminui o passado voltou a assombrar chaminé, botou mais uma pessoa em risco por não saber lidar com a situação, por não ser o melhor para proteger alguém.
-Me desculpe Ada, eu não posso ajudá-lo com seus ferimentos. Eu não fui treinado para proteger ninguém, apenas matar, não passo de uma arma. –Sua mão foi em direção ao colar no pescoço, sua mente tomada pela nostalgia e seu peito por melancolia, ficava pensado na mesma coisa: "Nora saberia o que fazer ela sempre tinha uma resposta". Foi quando sentiu um tapa no braço cauterizado que com a dor o arrastou de volta a realidade.
-Tá tranquilo! Tem um médico lá na vila que pode me ajudar, além de que eu me recupero rápido. Eu já sobrevivi a coisa pior Bruce, já houveram desmoronamentos nas minas, já tomei leite estragado e o meu pai já me atirou de um penhasco. Eu não preciso de alguém para me proteger, eu sei me proteger! Eu preciso de alguém para me falar como se mata aquela coisa!
Sua mente foi arrastada para fora de toda pressão que sentia, Ada o olhava como se o achasse um imbecil, costumava o olhar daquela maneira com mais frequência do que gostaria. Começou a pensar em um Plano quando foi questionado.
-O que te travou antes? Quando foi atacar, você se segurou. O que te impediu de usar seu poder? - Ada estava com a voz pesada e cansada, respirar estava sendo doloroso.
-Eu sou bom em destruir, mas não consigo conter os danos muito bem, a floresta seria incendiada se eu usasse mais poder! –Estava curioso para saber o que passava na cabeça de Ada, o pivete era sempre perceptivo e nunca perguntava ou mencionava algo sem alguma intenção. –Você tem alguma ideia?
-Se temos que conter os danos... –Um sorriso soberbo formou-se em seu rosto, cheio de orgulho e rindo afirmou. - Eu vou fazer um forno e vai rolar um porco assado!
Não demorou muito para o monstro encontra-los, mas havia uma diferença grande dessa vez, eles queriam ser encontrados. Ada chamou a atenção da fera para que viesse em sua direção, ela disparou em uma investida tentando esmaga-lo, porém com suas habilidades ele havia criado valetas no chão grandes os suficientes para prender as patas da besta, mas pequenas o suficiente para não serem percebidas. O monstro caiu com tudo dentro dos espaços vãos no chão Ada riu apontou para cara da besta desesperada e começou a debochar:
-Você é bem forte, mas é burro! Como meu velho sempre dizia aquele que não pensa já perdeu a batalha! –Ao terminar de zombar do monstro, fazendo um esforço ele entrou mais uma vez em sua postura, pernas flexionadas e corpo inclinado. Fazendo esforço e claramente sentido dor fez um movimento veloz abrindo os braços o máximo que seus ferimentos permitiam e os fechando juntando as pontas dos dedos.
Três paredes de pedra se ergueram mais altas que a criatura a cercando deixando apenas a frente exposta. Bruce estendeu seu braço e com os olhos tomados por chamas e o braço em brasa disparou uma bola de fogo tão grande quanto à cabeça da besta em direção a ela. Agora! Gritou para Ada, que terminou de juntar as mãos assim que viu o brilho do fogo entrar no forno o fechando deixando apenas a cabeça do porco para fora. Eles haviam colocado gravetos e folhas secas em algumas das valas, a criatura começar a guinchar e grunhir em desespero enquanto seu corpo era incinerado. O cheiro era horrível e a cena mais ainda o animal estava desesperado, seu sangue negro e podre começou a escorrer de todos os orifícios de sua cabeça, mas eles ficaram de pé assistindo até que ela morresse.
Ada decepou a cabeça fechando o buraco na parede do forno caminho até a enorme cabeça tão grande quanto seu tórax a levantou o mais alto que pode e soltou um estrondo de vitória que poderia ser ouvido por toda floresta.
-Aqui está nosso troféu! –Em seu rosto havia um enorme sorriso como se tivesse ganhado uma herança milionária. Por um instante venceu toda a dor que sentia apenas para comemorar a vitória.
Bruce não se conteve e começou a gargalhar e pela primeira vez em um bom tempo conseguiu abrir um verdadeiro sorriso.
-Conseguimos pivete! Eu estava precisando de uma vitória. Agora vamos voltar à vila, temos que ver um médico, também eu estou precisando beber! Dessa vez vai ser para comemorar, não para conseguir dormir. – Sentia-se satisfeito, aliviado, um dos inúmeros pesos que carregava já não era mais sua responsabilidade. Com a mão sobre o colar pensava: "Nora, acho que deixei para trás um pedaço antigo, mas consegui algo novo".
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