Lá estava o satélite Ariel 8.6 fazendo o que mais amava, observar o universo.
O satélite havia recebido uma nova missão, reunir o máximo de conhecimento sobre AnB-K, um cometa que passaria perto da Terra. Ele já tinha feito isso tantas vezes que já havia se acostumado, qualquer satélite iniciante consegue fazer isso, apenas faça as perguntas, envie as repostas. Mas Ariel 8.6 não se importava de repetir essa rotina, enquanto ele pudesse ficar lá fora, observando o imenso universo. Ter sua admiração interrompida por alguns instantes não importava. O cometa chegou no momento esperado e Ariel 8.6 logo começou seu interrogatório, mas foi surpreendentemente interrompido pelo cometa:
— Quem é você? — O cometa questiona.
— Eu sou o satélite Ariel 8.6 — Ele responde rispidamente.
— Você não é um satélite, eu acabei de passar por um. — Anb-K aponta para a lua.
— Ah, não, eu não sou esse tipo de satélite, eu sou um satélite artificial, criado pelos humanos.
— O que são humanos? — O cometa pergunta mais curioso ainda.
— São animais que evoluíram e adquiriram a capacidade de raciocínio.
— Como você sabe disso?
— Ouvi eles conversando sobre isso enquanto me construíam.
— Eles te construíram? Isso é o mesmo que criaram, não é?
— Sim, tanto faz, dá no mesmo.
— O nome desse planeta é Humanos?
— O quê? Não, o nome desse planeta é Terra! — Ele suspira, sem jeito. — Olha, eu não tenho tempo para isso, logo você vai se afastar da órbita e eu tenho que mandar o relatório para os humanos.
— Relaxa, vai demorar um pouco até eu ir embora, principalmente agora que eu encontrei uma corpo celeste tão interessante.
— Eu são sou um corpo celeste. — O Ariel 8.6 responde levemente corado. — Sou apenas um satélite astronômico como qualquer outro.
— Ha ha ha, isso não é verdade, você deveria se valorizar mais. — O cometa sorri.
O satélite gostaria de continuar as perguntas, mas como o cometa foi gentil, ele deveria retribuir de alguma forma, ele apenas não sabia como. Nunca havia conversado com alguém antes, ele apenas observa a beleza do universo e daqueles que o compunha. Será que ele tem mesmo algum valor como o cometa disse?
— Está dizendo isso da boca para fora, pois não conhece outros satélites.
— Mesmo que conhecesse, ainda te acharia incrível, você parece saber bastante da Terra e dos humanos.
— Não é verdade, eu apenas sei o que consegui descobrir no período em que estava sendo testado e nos outros poucos em que me mantive consciente na Terra, antes de acordar aqui fora.
— Eu também não me lembro muito de onde eu vim, mas o universo é tão grande para ficar parado então eu decidi conhecê-lo o máximo possível! Acho que você deveria tentar fazer o mesmo.
— Não posso, eu não consigo me afastar da Terra, eu fui criado para ficar aqui e fazer relatório daquilo que me é pedido, falando nisso, por favor, senhor AnB-K, podemos....
— Quem é AnB-K? — Ariel 8.6 novamente é interrompido pelo cometa.
— Você. — Ele responde, sem muita paciência. — Foi esse nome que os humanos te deram.
— Desde quando os humanos nomeiam as coisas? — Ele responde, irritado.
— Desde sempre? Eles que nomearam todo este sistema e cada coisa nova que eles descobrem, eles nomeiam.
— Isso é injusto, me pergunto se algum planeta daqui não se incomoda com isso.
— Só Plutão.
— Quem?
— Ah, esquece, é uma longa história e não temos todo esse tempo! Vamos terminar logo o relatório! — Ele recomeça o relatório. — Muito bem, senhor AnB-K, do que...?
— Eu não gostei desse nome, é muito complicado!
— Então escolhe logo um nome e me deixa continuar! — Ariel 8.6 responde sem muita paciência com aquele audacioso cometa.
— Eu? — O cometa questiona surpreso. — Nunca parei pra pensar nisso, por que você não escolhe um pra mim?
— Escolho AnB-K.
— Sem ser esse!
— Se você nem sabe que nome quer, então por que só não aceita o que os humanos te deram?!
— Eu quero um que tenha algum significado!
— Tenho certeza que esse tem algum significado.
— Um significado importante para você! — Ambos ruborizam. — Assim, quando eu for, você se lembrará de mim sempre que pensar nisso.
— Certo... — O satélite pensou por alguns segundos antes de dar a resposta. — Desculpe, mas eu sou incapaz de processar algo deste tipo. Por favor, apenas aceite AnB-K e me deixe prosseguir, mesmo que eu quisesse, vai demorar para eu esquecer alguém tão irritante quanto você.
— Tudo bem... — O cometa se dá por vencido. — Vou fazer de conta que você acabou de dizer que é impossível esquecer uma personalidade tão exótica como a minha.
— Como quiser, voltando ao relatório...
— E seu nome? Você gosta dele? É bastante complicado...
Novamente interrompido, porém, agora, por mais que quisesse, o satélite não conseguia mais ficar bravo com aquele curioso cometa. Nunca tivera alguém perguntando sobre ele, era uma sensação nova. E boa...
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