Depois do cadeado do calabouço aberto, em um instante já pulou para fora com fúria, um.. anão, forte, todo sujo, com os punhos cerrados olhando para os lados. Faltam alguns dentes em sua boca. Sua roupa está em trapos.
- Badur chakar iterinoooo - fala o anão
- O que esse baixinho disse? - responde Geno
- Eu difffe: Onde effstão minhas coisaffs? - grita o anão, ainda furioso
- Primeiro, meu jovem, quem é você? - pergunte Jone
- E porque está falando assim? Anões tem esse sotaque?
- Meuffs denteffs, eles arrancaram meus denteffs! E colocaram… naquele ffsaco ali..
- Mais esse saco aí só tem ouroooo!
O anão corre, pega alguns pedaços de ouro de dentro do saco, encaixa na sua boca e sorri.
- Agora sim, posso falar direito!
O narrador da história também está aliviado por não precisar mais escrever F em todo lugar.
- Olhem que beleza esses dentes! Esses malditos arrancaram hoje, quando me prenderam. Consegui fugir daquela mina terrível, mas eles vieram atrás de mim. Me pegaram e iriam me deixar aqui por muito tempo. Sem comida, sem dentes, sem…. onde estão minhas coisas? - o anão sai e deixa eles falando sozinhos.
- Olha eu odeio quem começa uma história e não termina! - retruca Jone.
- Ahh, perdoem meus modos, meu nome é Dumar. Eu escapei da mina de Eldarion há alguns dias, e fui perseguido por essas terras. Alguns conterrâneos meus estão ainda naquele lugar. Eu queria poder avisar o resto do meu povo, para que fossem ali libertá-los. Estávamos numa missão de contato com o reino de Peregold. Éramos 20 anões. Mas fomos emboscados do nada por esses malditos e feitos escravos. A maioria da caravana não eram guerreiros. Diplomatas, artesãos e estudiosos.
- Há quanto tempo estão presos lá? - pergunta Jone
- Há pelo menos 2 anos. É difícil ter noção de tempo, mas foram pelo menos 700 sonecas que tiramos, então essa é minha contagem de tempo.
- Quantas pessoas tinham nessa mina ao todo?
- Centenas! Exceto dezenas de guardas. É uma das maiores minas de toda região, que esses caras controlam.
- Nos últimos anos nosso reino está se perdendo! Estamos começando a perder a guerra, e em nosso território muitos estão se aproveitando da fraqueza.
Geno escuta os dois conversando, e percebe cada vez mais os estragos da guerra. Ele percebe que ele e seu irmão, são apenas mais duas vítimas de tudo isso.
- Estávamos indo acertar uma aliança como vosso reino, mas fomos pegos no caminho. Ouvi dizer que nosso reino considerou que havíamos sido mortos por alguma besta e não culpou o vosso reino. Mas também não enviaram mais ninguém em nosso lugar. A aliança acabou antes mesmo de começar.
- Eu não sabia que estavam tentando fazer uma aliança com vocês! Se vocês tivessem chegado ao destino e feito esse acordo, a nação de vocês poderia ter sido a virada dessa guerra. Malditos Corcéis! E isso pra quê? Para ganharem 20 pessoas mineradoras de metal.
Geno dá um passo à frente e pergunta:
- Estou curioso. Porque eles chegaram a conclusão que haviam sido bestas que mataram vocês?
- Bom, nós sempre estavámos enviando cartas à cada 2 dias de viagem através de falcões. São uma arte inventada por nosso povo. Isso facilita as comunicações. A última que nós enviamos foi antes de entrar numa cadeia de montanhas. Elas são conhecidas por muitos viajantes haverem sido mortos por bestas. Os malditos nos emboscaram bem ali, e enquanto nos levavam prisioneiros, contaram que já usaram a mesma estratégia com muitos viajantes.
- Mas que……. filhos de uma… que sacanas! - reclama Jone
- Depois de tudo isso, acho que a fama desse local pode ser uma mentira criada por ladrões e sequestradores. Mas ainda tenho que perguntar, quem são vocês e porque me salvaram?
- Nós não te salvamos, meu jovem, nós apenas temos inimigos em comum. Invadimos este lugar para ajudar nossa nação. Os corcéis estão jogando dos dois lados. E estão maltratando os lugares que amo aqui nesse reino. Então invadimos esse lugar vestidos como soldados do reino de Enay, para fazê-los achar que Enay eram os responsáveis pelo ataque.
- É verdade, essas suas vestes aí não são do seu reino mesmo. Poxa que sorte, meu criador deve ter enviado vocês para me ajudar. Para onde vocês vão?
- No processo, o líder desse destacamento, Sargento Mordack, sequestrou minha filha. Matamos os outros quatro e ferimos ele. Mas agora precisamos ir até a mina de Eldarion para resgatá-la.
- Eu vejo que realmente nossos caminhos não se cruzaram à toa. Eu preciso voltar lá e resgatar meus irmãos. Onde estão o restante das vossas tropas?
- Então… Não tem mais ninguém.. Agimos por conta própria. Eu sei que parece loucura, mas essa guerra já tem causado muito mal. O irmão dele foi capturado por Enay, e essa guerra afetou todos que conheço! Foi mais uma loucura, do que algo significativo.
- Mas não importa! Eu sou grato por me tirarem daqui! Ambos precisamos ir para aquela mina! Ambos temos nossos motivos! E eu a conheço como meu braço conhece minha clava! Aliás, onde está minha clava?
- Eu vi uma clava com Mordack - responde Geno rápido, se inserindo novamente na conversa.
- Então eu aceito qualquer coisa que encontrar por aqui. Não existe tempo ruim para um anão.
- O melhor agora é descansar, e amanhã cedo começarmos a viagem. Seremos nós três, contra as dezenas deles. Que o seu criador nos proteja, como tem lhe protegido - fala Jone já bocejando
O dia amanhece! Mas eles não saíram cedo, estavam cansados da última batalha. Jone tinha perdido o costume, e Geno melhorou sua forma, mas não o suficiente ainda. Sem falar nas condições de Dumar. Eles encontram água e uma banheira. Resolveram sair apenas depois do almoço, quando Dumar disse conhecer atalhos pela floresta de Virgulen. Encontraram muita comida em rações, feita para viagens. E quando pensam em sair, muita gente está lá fora. Geno havia recolhido os corpos, mas o sangue ainda pode ser visto. Uma multidão está se formando e os rastros indicam que a base dos corcéis tem algo a ver com isso.
- Amigos, temos um problema inicial! Tem muita gente lá fora! - fala Jone preocupado
- Eu já esperava - grita Geno - Mas eu já tinha um plano em mente. Ontem quando a gente lutava contra eles, o líder deles pulou de cima da vigia em cima dessa base, direto nos estábulos. Acho que esse é o método de fuga que criaram.
- Perfeito meu amigo! - responde o anão - Vou criar uma explosão de pólvora simples, e jogar mais adiante. Isso deve atrair a atenção deles. Nesse momento nós fugimos!
De tudo que aconteceria nesse dia, talvez tenha sido o plano mais fácil! Mal explodiu a bomba e todos foram olhar! Geno pulou primeiro, caindo direto no maior cavalo, que um dia pertenceu a Allen. Era um cavalo branco, com manchas amarronzadas. Ele saiu em disparada de imediato. Jone pula em seguida no menor de todos, um totalmente preto, seguido pelo Dumar. Os dois cavalgam juntos, e ninguém notou exceto uma criança de dois anões, no colo da mãe, que mal sabia falar. Foi como tirar o valor máximo de um dado duas vezes. Que sorte!
Em pouco tempo chegam diante da floresta de Virgulen. O anão pede que parem, e amarra os cavalos em duas árvores. Coloca algumas maçãs para ambos e seguem viagem passando por dentro da floresta.
- Ainda não perguntei como você fugiu de lá? - pergunta Geno, curioso.
- Pura sorte! Eu minerava uma pepita de ouro bem embaixo dos meus pés, quando um buraco se abriu. Quando me dei conta estava num túnel antigo. Talvez desativado. Segui meus pés até a saída! Então corri até esta floresta. Mas me viram entrando na floresta. Por sorte achei um caminho antigo, feito pelos primeiros moradores destas terras. E saí exatamente onde acabamos de entrar.
- Você atribui muita coisa à pura sorte! - indaga Jone.
- Na verdade eu atribuo à meu criador.. Eu fiquei bem chateado quando fui pego próximo a vila de vocês. Mas quando me resgataram, entendi que eu precisava me encontrar convosco. Agora temos pessoas suficientes para tentar alguma coisa.
- Como você pensa em entrar lá? E o que fazer?
- Bom eu sei que 3 pessoas não podem com dezenas de uma vez. Então para nosso plano funcionar precisamos do máximo de pessoas possível. Por sorte não faltam pessoas naquele lugar querendo acabar com eles. O que lhes falta é mãos livres e armas para as mãos livres. Por isso tudo que achamos na base dos corcéis será importante. Temos algo para pelo menos 10 pessoas, totalizando 13 com a gente. Geno, você deve ficar sobre alguma árvore na beira da floresta. Eu e o Jone vamos entrar já de noite no buraco por onde saí, e ao chegar no final vamos cavar para cima, dentro da mina.
- E lá dentro, o que farão?
- Vamos resgatar o máximo de pessoas possível, tirando os grilhões e entregando armas. Vamos fazê-los escapar pelos túneis, enquanto vamos libertando outros, tentando enganar os guardas. A sua missão é ajudar na fuga, se alguém perceber atire. Precisam chegar aqui na floresta em segurança.
Para sorte deles Mordack não acreditava que eles venceriam Allen em combate. Os guardas estavam desavisados, exceto um grupo da elite dos corcéis que estava se reunindo na tenda de Mordack, e estavam sempre alertas. Linde já acordou acorrentada, e seu dia não foi nada fácil naquela mina. Não bastasse todo o trabalho escravo, os guardas estavam sempre de olho nela, com intenções das piores possíveis.
Jone e Dumar já haviam conseguido entrar despercebidos no túnel natural secreto. Bem no fim do caminho, lá estava o deslizamento, agora seria só cavar para cima e torcer para não dar de cara com nenhum guarda. Dumar começa a cavar para cima, enquanto Jone aguarda com uma mochila cheia de armas. Sentindo a proximidade do topo Dumar bate com mais cuidado, até abrir um pequeno furo. Ele reconhece a voz de um dos guardas no mesmo instante. Eles esperam pacientemente até poder continuar. Em algum tempo os prisioneiros começar a amaldiçoar os guardas.
- Esse é o sinal Jone. Se estão falando tão mal dos guardas, então não há ninguém por perto.
Eles continuam rápido, e terminam aquele buraco. Os prisioneiros ficam surpresos ao verem seu ex-companheiro de escravidão, que coincidentemente brotava do chão pela segunda vez no mesmo dia.
- Dumar é você?
- Você voltou!
- Maldito, foi assim que escapou?
- Quietos meus amigos! Não há tempo para explicar nada, viemos resgatar todos. É o seguinte, vamos fugir por esse buraco! Mas preciso fazer isso aos poucos sem que ninguém perceba. Car e Mino, venham cá, vou explicar tudo para vocês aqui em baixo. Depois vocês voltam e explicam tudo para os outros. Coloquem algo em cima desse buraco quando passarmos para que ninguém veja.
Descem com ele Car, um anão de pele escura e barba branca pela velhice, e Mino um humano ainda adolescente cheio de sarnas, e muito forte.
- Trouxe comigo a experiência e a força. Assim que subirem de novo, expliquem o plano à eles. Tem uns 15 escravos lá em cima, aqui tem armas para quase todos. Além de um martelo. Quebrem as correntes de cada um com o martelo, mas finjam normalidade. Escondam as armas debaixo das suas roupas. Quando vier um guarda, alguém segura a boca dele e outro o apunhala. Então joguem-no no buraco. Isso tem que ser rápido, e silencioso. Mas não ataquem se estiverem acompanhados. Só ataquem com certeza de vencer. Quanto mais furtivo, mais chance teremos.
- E se aparecerem outros escravos, contamos a eles também?
- Quando aparecer um outro escravo, mandem-no para cá, nós o ajudaremos a fugir até a floresta, onde um amigo os aguarda. Jone irá para a saída desse túnel e vigiará. Faremos isso o máximo que pudermos! Agora voltem para lá e vamos arrasar essa mina!
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