Toc toc toc….
- Abra a porta, abra, está uma chuva pesada aqui.
- O que você quer? não deixei claro para nunca mais voltar aqui?
- Qual seu maior sonho?
- Cale a boca!
- Sério.. Qual seu maior sonho?
- Você sabe muito bem pai!
- Então abra essa porta! Eu vou dá-lo a você!
Uma moça morena, ainda jovem, aparentando seus 19 anos abre a porta. Ela é alta aparenta bom porte físico, e responde com raiva:
- Suas palavras não valem mais nada para mim! Depois do que fez com minha mãe ainda acha que pode se considerar homem de palavra? Você nunca me deu o que eu queria! Agora pensa que vai aparecer do nada e tentar me comprar? Nunca! Em quanto tempo bolou isso na sua cabeça? Acha que não sei o seu plano? Vai querer se mostrar um bom pai agora, para minha mãe achar que você mudou! Isso não vai funcionar, suas estratégias davam certo no campo de batalha, mas aqui não se resolve nada com táticas! Acha que ainda quero sua ajuda?
- Não é tática nenhuma, eu que preciso de sua ajuda!
Se Jone não houvesse interrompido sua filha, ela poderia passar quase 1 hora jogando acusações e reclamando dele. Mas aquela frase fez ela ficar muda por quase dois minutos.
- Você nunca disse isso pai!
- Mas é verdade, sabe que eu não mentiria sobre isso! Preciso mesmo de sua ajuda! Posso entrar?
Mais dois minutos de silêncio. A moça olha para frente, com um olhar distante. As gotas de chuva fazem o único som que pode ser ouvido por ali.
- Quando quiser me tirar da chuva eu aceito.. - diz Jone olhando fixamente para ela
- Entre.. entre… - responde a moça ainda meio atônita
Ela puxa seu pai para dentro pela roupa, e escora-se na porta ao fechá-la. Mas a sua boca não permanece mais fechada por muito tempo.
- Você é muito esperto mesmo. Quase me enganou! Quanto tempo demorou para bolar essa sua estratégia?
- Não é estratégia. Eu realmente preciso de você! E por precisar de você, vou realizar seu sonho! Não quero que me perdoem, quero pagar pelo favor que você vai me dar. Eu vou te transformar em uma aventureira! Não é o que sempre quis?
- Sim, você sempre soube, mas nunca me permitiu viver esse sonho! - fala a moça com voz já levantada
- Por dois motivos. O primeiro era por cuidado. Se eu pudesse, nunca deixaria você se arriscar. O segundo é porque eu achava que você não precisava de mim! Você nasceu para isso! Ninguém é melhor que você com duas espadas, ou adagas! Tem velocidade, inteligência e com preparo físico.Dificilmente alguém te derrotaria no corpo-a-corpo! Só precisa botar essa cabeça no lugar e ser um pouco mais sábia.
- Porque nunca me disse isso?!?
- Apenas queria te proteger. Mas agora preciso que lute ao meu lado contra cinco!
- Os corcéis?
- Sim! Encontrei um jovem que de tão irritante e insistente conseguiu que eu voltasse a me importar com algo. Tenho um plano e não consigo sem você! E é hoje!
- Não acredito que alguém conseguiu fazer isso com você. Minha resposta é sim! Arghh
Algumas horas depois, quando a chuva para, os dois saem e vão até a casa de Jone. Eles entram, e chamam por Geno. Mas não há nenhum sinal dele.
- Realmente existe esse tal de Geno, ou você só queria puxar assunto comigo pai?
- Ele existe, ou existia…. eu disse para ele não sair daqui
De dentro da cozinha um tilintar de metal pode ser ouvido. Jone pega sua espada, e sua filha se prepara. Eles entram com cuidado e percebem algo inusitado. Uma pilha de panelas, além de um armário todo quebrado derrubado no chão.
- Hahahaha, pode guardar suas armas Linde. Aposto um saco cheio de ouro que debaixo dessa bagunça está o nosso companheiro.
Depois de alguns minutos, lá está ele. Quase desmaiado, ainda meio tonto, mas com um sorriso sem graça no rosto.
- Errrrrr… Oi Jone…. eu fui pegar uma panela que estava meio presa, subi na mesa… Fiquei meio sem graça pois comi o resto do carneiro com purê… Queria fazer alguma coisa antes que voltasse. Mas é isso, estou aqui há horas hahahaa
- Esse cara fora de forma e desastrado é o mesmo que convenceu você? É o mesmo que vai ficar na retaguarda atirando flechas enquanto lutamos. Sinceramente…. não vou deixar minha vida depender desse maluco. - retruca Linde olhando para Jone e ignorando Geno
- Ele é um trapalhão, fora de forma e sem noção. Também é muito chato, mas eu vi ele atirando com o arco.. Ele tem uma boa pontaria..
- Com licença. Podem terminar de me tirar daqui? Depois vocês continuam falando mal.. - reclama Geno
Eles terminam de retirar o cara fora de forma e trapalhão…. quer dizer, o Geno do meio daquela confusão. Foi difícil para Jone fazer isso com uma mão só.
Enquanto ele se recupera, ela sai e começa a treinar um pouco.Geno olha pela janela e fica impressionado como Jone tem uma filha tão boa de combate. Ele por um momento inveja o dom que ela recebeu, enquanto ela conta suas pequenas aventuras nos últimos tempos. Mas aquela inveja logo se transforma em admiração.
Depois de um tempo ela volta, cada um revisa sua função no plano, enquanto a hora do ataque se aproxima. Geno parece muito nervoso com tudo aquilo. Tudo evoluiu muito rápido, e quando menos esperava já estava no meio de mais um conflito. Ele só pensava em como poderia pôr tudo a perder com um erro. Em como todos poderiam estar certos caso ele não fosse bom como Jone achava. Em como poderia…
- Ei Geno, você parece distante. Volte para cá. Fica tranquilo, eu confio em você. Você só precisa fazer o que faz de melhor. Você trabalha melhor quando pensa no objetivo. Lembre de todos que irão se beneficiar com esse ataque. Pense nos nossos compatriotas de Peregold que serão beneficiados indiretamente. Você vai fazer um grande trabalho. Agora vamos, chegou a hora! - ordena Jone
Geno estufa o peito e deixa aqueles pensamentos irem embora. Ele fica impressionado como Jone conseguiu motivá-lo para a batalha e trazer sua confiança de volta. Não era mesmo à toa que era um dos capitães mais renomados do exército.
A noite cai. Poucas luzes estão acesas na cidade, mas o refúgio dos corcéis está iluminado. Geno se posiciona sobre um telhado, e espera o momento. Jone tem em uma mão uma lança, na outra ele conseguiu encaixar um escudo onde lhe faltava a mão. Na bainha uma espada longa. Ele encontra alguns pedaços de madeira e se esconde atrás.
Algum tempo depois faz um sinal, e Linde passa correndo por ele, toda encapuzada, escala rapidamente com um gancho e sobe no telhado da casa dos corcéis. Põe duas adagas nas mãos e corre até a pequena torre rapidamente. Pula dentro e ataca o… vazio… Não tem ninguém ali.
Ela acena tentando indicar isso. Jone não entende e acredita que ela matou o vigia, achando então que é uma indicação para o ataque. Geno percebe os enganos, mas está longe e não consegue avisar. Ela fica louca vendo o engano de Jone, sabendo que os corcéis perceberam algo. Não há mais fator surpresa, exceto para Jone que corre desavisado em direção à porta da frente. O plano já era! Linde deveria se livrar do vigia, enquanto Jone chamaria a atenção de todos para fora avisando sobre a retaliação. Linde então desceria a escada, e atacaria por trás. Geno de longe acertaria todos com flechas. Parecia perfeito, mas não foi.
Jone se aproximou da porta da frente, indo para a armadilha da armadilha, mas alguém faltou o ensaio. Na janela aparece uma cabeça. Geno não pensa duas vezes. Uma flecha zunindo acerta aquela cabeça e um grito se houve. Jone parou 10 metros antes da porta ao perceber a flecha passando. Linde olha assustada de cima. Todos dentro se assustam com a flecha. Ninguém esperava por isso. Saem 3 homens, pela porta da frente, todos com escudo. Entre eles o líder, e também Allen. Linde se prepara para ajudar seu pai, mas um homem pequeno e veloz sobe pela escada, obrigando ela a lutar naquele pequeno espaço de vigia. Jone parece pela primeira vez destraído em combate, vendo sua filha correr perigo.
- O que o exército de Enay está fazendo tão longe de casa? - pergunta o líder dos cinco
- Err… Eu vim… eu vim… - responde Jone sem saber se olha para seus inimigos ou sua filha
- Está sem palavras velho? Aquela moça lá em cima está tirando sua concentração?
- Na verdade, Enay nos enviou para ensinar uma lição a vocês. Para aprenderem a vender ferro num preço justo..
- Não fico com raiva de nos odiarem, afinal ajudamos os dois lados. Tenho raiva de mandarem esses fracotes.. Quem eles pensam que somos para enviarem os piores de seu exército… Vocês dois! cuidem desse velho. Prendam-o, enquanto eu subo e mato aquela mulher na frente dele.
Os outros dois cercam Jone, enquanto o líder se vira e começa a voltar. Mas sua extrema confiança lhe causou estragos. Mal se virou e uma flecha acerta seu joelho.
- Ahhhhh, alguém cuide desse maldito arqueirooo!
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