Pedro sequer abria os olhos. Sentado contra a mesma parede em que se apoiou seu tio Hector há trinta anos atrás, o rapaz estava inconsolável. Sentia um vazio tão grande. Queria desaparecer. Já havia sentido tal sentimento algumas vezes, mas dessa vez não podia conter tanta angústia.
Marcelo sentado contra a porta observava enquanto a água corria pelos cabelos de Pedro. Os olhos de Marcelo corriam junto àquelas águas torrenciais que vertiam do alto derramando-se sobre os ombros e pelo peito de seu melhor amigo como sob uma cascata.
Como gotas de chuva, a assim que tocavam a sua cabeça, as mechas d'água regavam a pele de Pedro.
Marcelo sentia-se triste e também culpado por desejar tanto tocar Pedro. Um calor incômodo lhe desceu das orelhas pelo pescoço. Marcelo desejava segurar Pedro em seus braços, beijá-los, rasgá-lo ao meio e consertar as peças que estivessem nele quebradas.
Os olhos de Pedro que até então estavam fechados se abriram de encontro aos dele. Pedro sabia e talvez sentisse algo parecido.
Na verdade, Pedro sentia um aperto imenso no peito quando pensava em Marcelo. Eram amigos? Eram melhores amigos. E daqueles de infância que não sabemos ao certo quando entraram na nossa vida. As melhores lembranças de Pedro são ao lado dele, mas as piores estavam ali prestes a serem vividas também ao lado dele.
Marcelo lembrou-se do que lhe contou dona Judite. E teve medo. Medo de que também Pedro fosse levado pelas águas do chuveiro que lhe caíam sobre a cabeça.
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